COP30, Malala, professores…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Itamaraty tenta salvar a COP30: diplomacia de ventilador na Amazônia
A um mês da COP30, o Itamaraty entrou em modo “salve quem puder” para não transformar Belém na COP do eco constrangimento. Só 87 países confirmaram presença até agora — o que, para uma conferência global sobre o clima, é quase um chá de condomínio. A meta era ultrapassar as cem delegações, mas as dificuldades de hospedagem na capital paraense estão afastando até os ambientalistas mais militantes. A diplomacia brasileira corre contra o tempo para convencer chefes de Estado, enviados especiais e quem mais puder embarcar nessa epopeia amazônica de 40 graus e uma rede de pernilongos por metro quadrado. No Itamaraty, o esforço virou missão patriótica: “Precisamos provar que conseguimos sediar um evento climático sem derreter”, confidenciou um diplomata. As comparações são humilhantes: a COP29 no Azerbaijão reuniu 196 nações, e até o Egito conseguiu 190. Belém, por ora, corre o risco de ser lembrada como a COP dos ausentes — e não pelos debates climáticos, mas pelo recorde de delegações que preferiram o ar-condicionado de Dubai.
O Auxílio Emergencial cobra o troco: o Pix da pandemia chegou
O Ministério do Desenvolvimento Social decidiu ressuscitar 2020, agora em versão boleto. R$ 478,8 milhões estão sendo cobrados de 177 mil famílias que receberam o Auxílio Emergencial indevidamente — ou, em bom português, que caíram na tentação do “depois eu devolvo”. O MDS quer o dinheiro de volta, com prazos, parcelas e até sistema próprio: o Vejae, um site cujo nome já soa como ameaça passiva-agressiva. O Governo jura que não mira os pobres, mas os “financeiramente robustos”, aqueles que, por descuido ou esperteza, receberam a ajuda enquanto mantinham carteira assinada, renda alta ou dupla cidadania bancária. O drama é digno de novela: o cidadão abre o Gov.br e descobre que deve à União o valor de um smartphone parcelado. O Estado, esse cobrador tardio, oferece até 60 vezes sem juros — porque o perdão fiscal é só para os muito ricos. Enquanto isso, a fila da restituição promete ser tão longa quanto a da vacina.
Malala, a bala e o milagre: treze anos depois, a menina que o Talibã não conseguiu silenciar
Em 9 de outubro de 2012, o Talibã tentou calar uma adolescente paquistanesa armada apenas de livros — e perdeu. Malala Yousafzai, atingida na cabeça por um tiro, sobreviveu para transformar o ferimento em manifesto. Treze anos depois, continua sendo o lembrete mais incômodo de que educação ainda é um ato de subversão em boa parte do planeta. O ataque que pretendia apagar uma voz virou megafone global, rendendo-lhe o Nobel da Paz e uma legião de inimigos disfarçados de moralistas. Enquanto o Talibã voltou a controlar o Afeganistão e reeditou a Idade Média com sinal de Wi-Fi, Malala segue defendendo meninas que ousam aprender o alfabeto. A ironia cósmica é que os fanáticos que tentaram calá-la acabaram alfabetizando o mundo sobre o próprio obscurantismo. Se o século XXI tivesse um símbolo de resistência, seria ela: um rosto jovem, cicatrizado e ainda mais eloquente que as armas que tentaram silenciá-lA.

Taylor Swift, a Showgirl e o fantasma da IA: quando até os Swifties sentem cheiro de silício
Taylor Swift lançou The Life of a Showgirl, e, como sempre, o mundo parou para assistir à coroação da sacerdotisa do pop. Tudo milimetricamente roteirizado: teasers, tapete vermelho, talk shows e o sentimentalismo performático habitual. Mas um detalhe pixelado abalou o sagrado fandom: alguns vídeos promocionais teriam sido gerados por Inteligência Artificial. Os próprios Swifties, doutores honoris causa em decifrar frames e emojis da cantora, viram inconsistências dignas de Turing. E aí nasceu a “Teoria da IA da Showgirl”. Hipocrisia? A palavra mais usada nos TikToks indignados. Afinal, a mesma Taylor que condenou deepfakes políticos e pornográficos agora estaria usando IA para economizar em designers humanos. “Ela virou aquilo que jurou destruir”, tuitou uma fã com lágrimas digitais. Talvez o problema não seja a IA em si, mas a decepção romântica de descobrir que até o perfeccionismo de Swift pode ser terceirizado para um algoritmo. O pop, que sempre foi ilusão bem maquiada, agora parece CGI em 8K.
Professores no Brasil: entre o giz e o caos disciplinar
Segundo a OCDE, o professor brasileiro passa mais de 20% do tempo de aula tentando impor silêncio — e o resto tentando não enlouquecer. O estudo TALIS mostra o que todo educador já sabia: o país é campeão mundial de desordem escolar. Metade das aulas começa em modo “assembleia”, e quase metade dos docentes relata abusos verbais de alunos. A profissão virou maratona de paciência, paga em parcelinhas emocionais. Apenas 14% acreditam ser valorizados — o que, convenhamos, é um otimismo admirável. Enquanto isso, o Governo promete formação continuada e dedicação exclusiva, como se salário e dignidade fossem disciplinas optativas. O resultado é um magistério exausto, precarizado e ainda assim heroico. No Brasil, ensinar é ato de fé — ou de teimosia. Se a educação é a salvação da pátria, nossos professores são mártires alfabetizando no front. E com sorte, ainda conseguem terminar a lição antes do recreio virar rebelião.

Gaza, infância e cinismo: a contabilidade do horror
A Unicef divulgou números que fariam corar até os mais cínicos: 64 mil crianças mortas ou feridas em dois anos de guerra na Faixa de Gaza. Mil bebês entre elas. Milagre é sobrar algum oxigênio — literalmente, já que os hospitais dividem máscaras entre recém-nascidos. Israel nega, o Hamas acusa, e o mundo contabiliza cadáveres infantis em silêncio administrativo. Catherine Russell, da Unicef, apelou ao óbvio: “Esta guerra precisa acabar agora”. Mas quem ainda escuta? A política internacional virou tribunal de cinismo: cada lado disputa quem mata com mais legitimidade. E como se não bastasse o inferno cotidiano, Trump (sim, ele de novo) aparece como fiador de um cessar-fogo “definitivo”, como se a paz fosse um reality show com contrato de temporada. Em Gaza, cada criança morta é uma prova viva — ou morta — de que o século XXI aprendeu a medir tragédias em relatórios de 12 páginas. O horror virou burocracia.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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