David Lynch, Voepass, petróleo…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
A saga dos arapongas delirantes da Abin paralela revela que o bolsonarismo agora sonha golpe até por WhatsApp, mas só se o PR assinar com caneta Bic
Enquanto o país ainda digeria o escândalo da “Abin paralela”, surgem novas pérolas do submundo da espionagem de quinta categoria: mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram que os agentes — provavelmente formados pela Universidade Trapalhão de Inteligência — cogitavam um golpe de Estado com o entusiasmo de quem combina um churrasco. Um deles pergunta: “O nosso PR imbroxável já assinou a p… do decreto?”; o outro responde: “Assinou nada”. O roteiro seria cômico se não fosse trágico. E o mais revelador é a eficácia da blindagem digital: segundo o Instituto Nexus, o bolsonarismo neutralizou a crise nas redes em tempo recorde. Nas primeiras 24 horas, as hashtags mais engajadas no X (antigo Twitter) eram de bolsonaristas desqualificando as investigações — mais uma prova de que, quando o assunto é fabricar realidade paralela, a máquina funciona com precisão suíça. Numa democracia saudável, espiões golpistas virariam manchete e caso de Estado. No Brasil, viram meme e desaparecem na nuvem de desinformação.
Angélica e Huck gastam R$ 50 mil por noite no Caribe e provam que a classe bilionária brasileira prefere o azul do mar ao cinza da fila do INSS
Enquanto o brasileiro médio torce para conseguir pagar a conta de luz sem parcelar, Angélica e Luciano Huck foram aproveitar o último feriado em Anguilla, no Caribe, onde o sol é gratuito, mas a suíte custa R$ 50 mil por noite. O resort escolhido pelo casal global foi o Belmon Cap Jukuca, onde até o gelo da caipirinha tem pedigree europeu. Com serviço de mordomo, 108 acomodações e três restaurantes de altíssimo nível, o hotel é pé na areia — e pé no pescoço de quem acha que meritocracia explica tudo. Huck, com uma fortuna de R$ 1 bilhão turbinada pela Globo, publicidades e criptomoedas, demonstra que a distância entre quem apresenta programa de auditório e quem assiste é de, no mínimo, um oceano. Que bom que ele não entrou na política — ainda mais com esse gosto por ilhas paradisíacas. Imagina um presidente que foge para Anguilla no feriado de Finados?
Projeto inédito de David Lynch engavetado pela Netflix pode virar livro póstumo e provar que o surrealismo dele era real demais até para o algoritmo
Peter Deeming, colaborador de David Lynch, revelou à Variety que o mestre do surrealismo audiovisual estava desenvolvendo com a Netflix um projeto intitulado Unapologetic Genius — e que o roteiro tinha quase 600 páginas. Em tempos em que roteiros de série cabem em um PowerPoint, é de se imaginar que os executivos da Netflix tenham surtado. A pandemia congelou o projeto, e com a morte de Lynch em janeiro, a única chance de ressurreição parece vir pelas mãos da filha Jennifer e dos filhos, que cogitam publicar a obra como livro. Um “Twin Peaks” ainda mais obscuro? Um “Império dos Sonhos” versão flip-book? Ninguém sabe. Mas é reconfortante saber que nem todo gênio sucumbe à ditadura da tela vertical. Enquanto isso, o mundo segue mais lynchiano do que nunca: caótico, estranho, barulhento e com gente vendendo NFT de sombra. Que a obra final venha — seja em celulóide ou celulose.

Recordar é Viver: ONU completa aniversário com crise de identidade: nasceu para evitar guerras e hoje não consegue nem evitar enquetes inúteis no Instagram
Em 26 de junho de 1945, em São Francisco, 51 países assinaram a Carta da ONU, com o nobre objetivo de “salvar futuras gerações da praga da guerra”. O que ninguém imaginava é que, 80 anos depois, a instituição passaria a maior parte do tempo tentando salvar a si mesma da irrelevância. De mediadora de conflitos a comentarista de tragédias — geralmente com frases prontas e nenhuma consequência prática —, a ONU virou aquele parente que sempre aparece no Natal para dizer o óbvio: “guerra é ruim”, “paz é importante”, “direitos humanos devem ser respeitados”. A última década foi particularmente cruel com a entidade, marcada por sua incapacidade de impedir massacres, conter invasões ou ao menos impedir que os membros permanentes do Conselho de Segurança vetem tudo que não agrada seus interesses geopolíticos. O futuro? Incerto. Mas, se continuar assim, vai acabar virando só mais um canal institucional com posts sobre o Dia Mundial do Abraço.
Petróleo desaba apesar da guerra, provando que nem todo conflito levanta preços — às vezes só derruba a narrativa do analista de mercado
No maravilhoso mundo dos gráficos e dos traders suando em salas com ar-condicionado, o raciocínio é simples: se há guerra, o petróleo sobe. Mas 2025 resolveu quebrar esse script. Após a “Guerra de 12 Dias” entre Israel e Irã, esperava-se um boom de preços impulsionado pelo caos. Mas o que veio foi uma enxurrada de barris do Golfo Pérsico — e o barril tipo Brent afundou abaixo de US$ 70. Os otimistas do setor torciam por um verão intenso no Hemisfério Norte para impulsionar a demanda. Mas nem os turistas escapando de praias bombardeadas conseguiram salvar os preços. O mundo está nadando em petróleo, e isso é uma péssima notícia para quem vive da especulação do pânico. Mais curioso ainda: o excesso de oferta veio junto com uma desaceleração no consumo — afinal, quem tem tempo para dirigir quando está fugindo de míssil? O mercado, assim como os analistas, ficou sem combustível.

Voepass voa baixo e fora da lei: quase 2.700 voos foram operados com aviões sem manutenção depois de acidente que matou 62 pessoas
No Brasil, algumas empresas só aprendem na marra — e, às vezes, nem assim. A Voepass, companhia aérea regional que já se esforçava para inspirar pouca confiança, conseguiu o feito de operar quase 2.700 voos com aeronaves sem a manutenção obrigatória, mesmo após um acidente que matou 62 pessoas em Vinhedo (SP). A ANAC, finalmente, cassou de forma definitiva o Certificado de Operador Aéreo da empresa, impedindo que ela continue operando voos comerciais. Mas a defesa da Voepass — pasme — afirmou que a cassação seria uma “pena perpétua”. Difícil saber o que é mais ofensivo: a tentativa de romantizar a punição ou o desprezo contínuo pela segurança dos passageiros. Segundo o relatório, sete aeronaves voaram sem inspeções básicas que evitariam falhas graves. A pergunta que fica: se não tivesse havido acidente, ainda estariam voando? Com essa lógica, o lema da empresa deveria ser: “Voepass — a emoção está garantida, o pouso nem sempre”.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.
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