Eduardo Lyra se vê como um grande resistente
Nascido numa favela em Guarulhos-SP, mas, influenciado por sua mãe, Eduardo Lyra rompeu com a miséria e voou alto. Estudou jornalismo e descobriu que podia mudar o mundo escrevendo histórias inspiradoras. É autor do livro Jovens Falcões, que narra a trajetória de 14 jovens empreendedores que empurram a humanidade para a frente. Ainda na faculdade, foi considerado repórter revelação pelo Instituto Itaú Cultural. Esteve por duas semanas entre os mais vistos do YouTube, alcançando mais de 1 milhão de visualizações levando a mensagem de que todos podem. Também faz parte do Global Shapers, iniciativa do Fórum Econômico Mundial que seleciona jovens líderes, com menos de 30 anos, que possuem potencial para mudar o mundo. Fundou o Instituto Gerando Falcões, onde atua nas escolas públicas do país, no resgate e fortalecimento da autoestima dos jovens. “Minha grande questão com o sistema educacional é que ele é omisso. A escola perde gênios, craques, empreendedores diariamente pro crime, pro tráfico de drogas. Veja: Marcola [Marcos Willians Herbas Camacho, considerado o líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)], Fernandinho Beira-Mar [Luiz Fernando da Costa, líder da organização criminosa Comando Vermelho], e outros passaram pela escola, mas ela não foi capaz de capturar a sua inteligência”, afirma o empreendedor social.
Eduardo, o empreendedor Lourenço Bustani disse que você é um herói. E você, como se vê?
Eu me vejo como um resistente. Eu resisti a pobreza extrema, a violência, os índices de morte e consegui usar parte do meu potencial pro bem coletivo. Não sou herói. Sou resistente.
Você nasceu na extrema pobreza com um pai viciado em drogas (que hoje está livre do vício). Como a descrença se transformou em motivação?
Meu pai não era apenas viciado. Era bandido também, mas virou o jogo da vida dele, se redimiu e saiu da prisão pra cuidar da sua família. Hoje, ele é exemplo. Diante disso, da história de superação do meu pai, eu não tenho o direito de desistir ou acreditar que pau que nasceu torto, esteja sentenciado a morrer torto.
O sonho do seu pai era ser jornalista. De certa forma quando foi cursar jornalismo estava também realizando o sonho dele?
Sim. Um filho consciente da importância dos seus pais em sua vida, sempre faz gestos para dar orgulho aos pais. Mas o jornalismo também estava na minha veia. Embora hoje não me dedique a ele, sempre fui apaixonado pelas histórias das pessoas. Tanto que dedico meu tempo, para que outras pessoas construam uma história de virada de vida. E o meu caso não seja apenas um erro, mas a regra.
Quais foram as maiores dificuldades e o maior prazer que teve com o seu livro “Jovens Falcões?”.
A maior dificuldade, quase sempre, está em nós mesmos. Eu pensei, em diversos momentos, que a falta de recurso, poderia me limitar. Mas estava redondamente enganado. O principal recurso não está fora. Está dentro das pessoas.
O empresário Ricardo Bellino, afirmou que o sistema de educação tradicional nos aprisiona em caixas e nos forja dentro de formas que inibem a nossa capacidade de criar e assumir riscos. Qual a sua visão sobre esse assunto?
Se o Bellino disse, eu assino embaixo. Minha grande questão com o sistema educacional é que ele é omisso. A escola perde gênios, craques, empreendedores diariamente pro crime, pro tráfico de drogas. Veja: Marcola [Marcos Willians Herbas Camacho, considerado o líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)], Fernandinho Beira-Mar [Luiz Fernando da Costa, líder da organização criminosa Comando Vermelho], e outros passaram pela escola, mas ela não foi capaz de capturar a sua inteligência. Permitiu que eles trilhassem outros caminhos. É justamente na escola que o Brasil perde. Marcola e Beira-Mar são grandes empreendedores, que a escola perdeu.
Na nossa cultura, o fracasso é visto como uma coisa ruim. Na cultura norte-americana, o fracasso é apenas mais um motivo para continuar e acertar o rumo, deixando o que não deu certo para trás. E você, como lida com o fracasso?
Fracasso é sempre um saco. Você quer fracassar? Eu, no entanto, já nasci fracassado. Eu dormia num balde nos meus nove primeiros meses de vida, porque meus pais não tinham grana pra me comprar um berço. Mas o fracasso bem elaborado, se torna uma bazuca. Uma força avassaladora. O ideal é não se acostumar com o fracasso. Tem que ter um desejo desenfreado de vencê-lo.
Muitos empresários dizem que empreender em nosso país é um grande desafio. Como você enxerga o empreendedorismo no Brasil, que em certas ocasiões é um tanto quanto glamourizado?
Minha visão dessa parada é que temos de levar capacitação empreendedora pra dentro das favelas e periferias. Não adianta ficarmos falando de empreendedorismo pra 5% da população, que nasceu bem e vive bem. Eles já estão informados. O Brasil, os líderes, as organizações que fomentam o empreendedorismo, precisam desenhar uma estratégia de entrada nas regiões pobres e capacitar o líder local. É assim que mudamos o Brasil. Colocar o pobre, o negro, e a mulher pra tocar seu negócio. Temos de atacar o problema e parar de enfeitar a história pra quem já nasceu com o enfeite.
“Se os amigos não acreditarem no seu sonho, troque de amigos.” Em que momento você acredita, que aquele que quer vencer e ultrapassar os obstáculos, deve ser radical a esse ponto?
Isso não é ser radical. Isso é posicionamento, é postura de vencedor. Se acham que você é um banana, siga em frente e mostre que você é maior.
Fale um pouco do seu projeto Gerando Falcões.
Nascemos no meio do caos social. Sem grana, sem possibilidades, mas com o apoio de muita gente generosa, inspiramos nesses 3 anos, cerca de 300 mil jovens. Hoje oferecemos oficinas de tênis, futsal e skate tudo atrelado à literatura. E também, apostamos na música, como nova forma de educar e conscientizar uma geração sobre a importância da educação pra chegar lá.
Se pudesse resumir em uma palavra a sua jornada extraordinária pela vida, qual seria e por quê?
Persistência e humildade. Persistência pra seguir em frente em todos os momentos dramáticos da minha vida. E humildade pra reconhecer que sozinho não sou capaz de causar a transformação que sonho pro Brasil. Então, vivo dia e noite engajando pessoas numa causa.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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