Eduardo Mufarej analisa a fragmentação partidária
Eduardo Mufarej é paulistano, casado e tem 41 anos. Sócio da Tarpon Investimentos desde 2004, Eduardo atuou até outubro de 2017 como CEO da Somos Educação, empresa da qual é atualmente presidente do Conselho de Administração. Eduardo Mufarej é o idealizador do RenovaBR, associação sem fins lucrativos cujo objetivo é preparar pessoas éticas e comprometidas a entrar para a política. Ele também atua como presidente do Conselho da Confederação Brasileira de Rugby, além de ser membro dos Conselhos do Centro de Liderança Pública (CLP), do Ranking dos Políticos e da Escola de Negócios da Universidade de Yale. “O eleitor brasileiro precisa recuperar a esperança de se sentir representado. A gente acredita que ser representante da população deve ser missão e não privilégio. Só quando o cidadão comum entrar de verdade na política teremos um Governo que atue pelo interesse comum. A política funciona melhor quando temos mais gente envolvida. Por isso é nosso papel votar e apoiar para depois cobrar. (…) O Brasil acabou virando um país onde o clientelismo prevalece. Há cooptação de candidaturas com financiamento e contrapartidas de execução de mandato. Na minha opinião, esse é o maior problema estrutural do Brasil. O sistema estimula isso. Por mais bem intencionada que seja uma pessoa para servir a sociedade e o público, ela não tem recursos para financiar sua candidatura”, afirma.
Eduardo, o Brasil precisa reinventar ou renovar a sua forma de fazer política?
O eleitor brasileiro precisa recuperar a esperança de se sentir representado. A gente acredita que ser representante da população deve ser missão e não privilégio. Só quando o cidadão comum entrar de verdade na política teremos um Governo que atue pelo interesse comum. A política funciona melhor quando temos mais gente envolvida. Por isso é nosso papel votar e apoiar para depois cobrar. E a função deles é mostrar comprometimento e trabalho duro.
O que um líder deve ter para inspirar o Brasil neste século denominado como o “século das incertezas?”.
Escutar e dar voz à população são os primeiros passos para ser um representante legítimo. No RenovaBR, o respeito às diferenças é testado o tempo todo em debates e aulas para construção de consensos. Desenvolver a capacidade de dialogar é fundamental para que, quando eleitos, as lideranças consigam se articular e fortalecer a democracia.
Quais as principais convergências entre a educação e a política do nosso país que estão completamente divergentes neste momento?
Não podemos nos omitir da formação das futuras gerações. E o Brasil tem sido omisso ao não investir, principalmente, nas crianças, nos jovens. Nosso ensino básico tem uma qualidade muito aquém da desejada e isso nos distancia do sonho de país que todos queremos.
Na política, não é diferente. Não estamos investindo na formação de lideranças públicas, e acho que, de certa forma, isso nos levou a ser governados por pessoas com as quais não nos sentimos conectados. O RenovaBR foi criado para suprir esse vazio. Precisamos olhar com carinho para jovens lideranças e fazer com que consigam desenvolver seu repertório – para que gente honesta e competente possa ocupar espaço dentro da política.
Como tem sentido as ruas e os seus respectivos anseios para uma nova forma de fazer política?
Nunca a sociedade brasileira desejou tanto a renovação de quadros e práticas. A população quer novos nomes, mas não sabe muito bem o caminho. Iniciativas como o RenovaBR e vários movimentos de renovação nasceram por isso. Hoje eu diria que a gente tem a melhor safra de candidatos a deputado federal e estadual que o país viu em muito tempo. Temos pessoas formadas em Harvard e Yale, com projetos sociais relevantes, com histórico de honestidade e realização.
Quanto desses anseios acredita ser genuíno e não mobilizado por preferências partidárias de um lado ou de outro?
A fragmentação partidária é muito grande no Brasil. Tem um monte de siglas que não querem dizer nada. Ao mesmo tempo, há interesses e visões ideológicas da sociedade que não têm um lugar na política. No RenovaBR a gente tenta criar um consenso, uma convergência de diferentes grupos, com diferentes ideologias, sempre na perspectiva de fomentar o diálogo. Preferências partidárias sempre vão existir e fazem parte do jogo. O fundamental é ouvir o outro lado. Quando eu fundei o RenovaBR eu decidi que a única contrapartida aos líderes é um compromisso com quatro regras fundamentais: trabalhar até o último dia de mandato, prestar contas ao eleitor, abrir mão e combater privilégios do cargo e trabalhar por uma transformação política de larga escala que priorize o interesse público. O discurso ideológico só faz com que a gente se afaste.
E o RenovaBR, como se coloca neste “tabuleiro?”.
O RenovaBR se coloca como uma ponte entre o curso de qualificação para pré-candidatos e a sociedade que quer novos quadros, novas práticas. Foi daí que surgiu essa ideia, uma iniciativa de preparar novas lideranças políticas e estimular a presença do cidadão comum no Congresso Nacional. Precisamos fazer com que os bons talentos que temos no Brasil sintam-se amparados para entrar nesse meio. Entrar para a política não é a decisão mais óbvia para pessoas capacitadas e atuantes, por isso muitas vezes a política é ocupada por pessoas que a gente não deseja. É fundamental que a gente construa esse ponto em comum para recuperar a capacidade de acreditar.
O que mais lhe desagrada na forma de fazer política no Brasil?
O Brasil acabou virando um país onde o clientelismo prevalece. Há cooptação de candidaturas com financiamento e contrapartidas de execução de mandato. Na minha opinião, esse é o maior problema estrutural do Brasil. O sistema estimula isso. Por mais bem intencionada que seja uma pessoa para servir a sociedade e o público, ela não tem recursos para financiar sua candidatura.
Há um distanciamento do eleitor junto ao seu representante. Hoje temos dois critérios para a distribuição do fundo eleitoral: tamanho de bancada e votação na última eleição. Isso faz com que os maiores partidos detenham a maior parcela do fundo, independentemente se eles fazem um bom trabalho de governança. Temos um financiamento público, mas sem nenhum critério qualitativo de distribuição.
Para 2022, o voto distrital misto seria um grande ganho para o processo democrático do país. Primeiro, porque reduz os custos de campanha. Depois, faz com que o eleitor se aproxime do seu representante.
Acelerar novas lideranças políticas é o propósito do RenovaBR. Como isso deve acontecer na prática?
A renovação não é uma tarefa fácil e não vai acontecer do dia para a noite. Mas desistirmos e acreditarmos que a renovação da política não é possível é exatamente o que os velhos políticos querem. Precisamos ter a coragem de acreditar e dar o primeiro passo para essa mudança. Não sozinhos, mas unindo esforços com todos que tem esse mesmo objetivo. Se não nessas eleições, quando?
Nosso objetivo é simplesmente encorajar pessoas comprometidas e realizadoras. De um lado, preparando quem quer se candidatar ou atuar no setor público. Do outro, incentivando cidadãos a atuar como multiplicadores da mensagem de esperança. Precisamos derrotar a ideia de que “político é tudo igual, tanto faz”. Enquanto as pessoas acreditarem nisso, não existe renovação. Na democracia o voto é o principal instrumento de que os cidadãos dispõem para exercer sua soberania e, dessa forma, garantir direitos, escolher representantes, defender interesses e preferências. É uma reversão de tendência. Esse processo vai acontecer na medida em que o eleitor votar de forma criteriosa, estudando as propostas e acompanhando o mandato do político escolhido.
O que o mercado (que você conhece tão bem) espera do novo presidente do país?
Neste momento, a gente passa por um período de espera e vejo que, dependendo da solução que se tiver pós-eleição, e assumindo que seja favorável às reformas estruturais e, ao mesmo tempo, com uma boa comunicação e o fluxo de capital estrangeiro, o país tem chance de uma retomada. Vejo uma perspectiva de recuperação econômica do país, do ponto de vista dos fundamentos macroeconômicos está em uma posição bem colocada para atrair fluxos de capital e realizar investimentos. Porém, tem uma coisa hoje que está faltando, que é confiança.
A eleição deste ano lhe preocupa em algum ponto?
Acredito que esta eleição será diferente porque há uma fadiga do sistema político. A população está cansada. Obviamente que não sabemos muito o desdobramento, mas estamos passando por um tipo de modelo de campanha que vai ser uma transição entre uma realidade e o que vai ser no futuro. As pessoas olham e dizem que não querem isso que está aí. Temos uma armadilha nesse processo, que é importante pontuar. Os índices de abstenção que tiveram no Tocantins chamaram muita atenção. O problema é que a elevação dos índices de abstenção só ajudam a perpetuar a classe política atual.
Por que você acredita que iniciativas como o RenovaBR são tão importantes e fundamentais para a democracia brasileira?
Desistir da política brasileira neste momento de profunda crise de representação não me parece uma solução promissora. Nenhuma iniciativa da sociedade civil, sem a participação popular, irá acabar com todos os problemas que temos. Na falta de confiança na política institucional, são iniciativas da sociedade civil, como o RenovaBR, que estão permitindo alguma esperança de que é possível um cidadão comum, conectado a outros, fazer a diferença e mudar a política do Brasil.
Última atualização da matéria foi há 1 ano
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