Flávio Cerqueira se tornou um mestre do bronze
Flávio Cerqueira Nasceu em 1983 em São Paulo. É mestrando no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP). O artista trabalha com o processo tradicional da escultura em bronze para dar forma a suas figuras. Como um contador de história, Cerqueira cria de maneira revigorada esculturas figurativas para apresentar narrativas em uma atmosfera de interação com o espectador. O trabalho de Cerqueira tem sido apresentado em inúmeras exposições coletivas no Brasil e no exterior, dentre as quais se destacam South/South Let me Begin Again, Goodman Gallery, Cidade do Cabo, África do Sul (2017); 10ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2015); Resignifications, Museu Stefano Bardini, Florença, Itália (2015); Ichariba Chode, Plaza North Gallery, Saitama, Japão (2015) e 16º Bienal de Cerveira, Portugal (2011). Além de fazer parte de acervos de coleções importantes no Brasil, como as dos museus Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC – USP) e Museu de Arte do Rio Grande do Sul, (MARGS). “Vivo um dia de cada vez e essas experiências servem de combustível para eu produzir meu trabalho. Enquanto eu estiver vivo, vou continuar fazendo trabalhos que têm relações com as coisas que sinto, vejo, vivencio e experimento como ser humano”, afirma o talentoso escultor.
Flávio, você é considerado umas das personalidades mais fascinantes do mundo das artes em nosso país na atualidade. Como você definiria o seu trabalho?
Fico muito feliz com o elogio, mas não quero me responsabilizar por tal afirmação. Me considero um jovem artista que ainda tem muitas coisas a explorar, aprender, mostrar e a dizer com o meu trabalho.
A arte deve ter um papel social?
Arte pode ter um papel social, assim como pode ser decorativa, pode ser política, pode ser formalista, isso vai depender muito de quem faz e de quem absorve esta arte.
Críticos dizem que suas obras fogem do convencional. Por que acredita que eles têm essa visão?
Pode ser pelo fato de eu fazer um trabalho figurativo me utilizando de uma técnica milenar, que é a fundição em bronze pelo processo de cera perdida. E por acreditar que arte pode ser política, social, engajada e não perder sua beleza estética.
Por que o bronze lhe fascinou?
Quando eu vi uma exposição do Rodin [Auguste Rodin, escultor francês. Apesar de ser geralmente considerado o progenitor da escultura moderna, não se propôs a rebelar-se contra o passado, 1840 – 1917] na Pinacoteca do Estado em 2000, eu vi a “Porta do Inferno” [A obra foi encomendada em 1880 como um conjunto de portais a ser instalado no Cour de Comptes, no Museu de Artes Decorativas de Paris, que havia sofrido um incêndio. Foi o próprio Rodin quem escolheu como tema a Divina Comédia de Dante. Feita em bronze, traz 180 figuras com dimensões que variam de 15 cm a mais de um metro. Diversas figuras foram reproduzidas em tamanho maior como esculturas independentes. Entre elas estão O Pensador, O Beijo e As Três Sombras.] e fiquei horas diante dela e sai extasiado pensando… “É isso que eu quero fazer na minha vida”.
Qual a importância da narrativa em suas obras?
As narrativas são de importância muito grande na minha produção artística, por meio delas eu consigo estabelecer uma forte relação com os espaços em que eles são instalados. Eu também me comunico com quem se depara com eles, pois, eu dou apenas um momento desta narrativa e o expectador pode a partir disso criar e estabelecer suas próprias relações.
Uma de suas esculturas com o rosto cabisbaixo e com um buraco do lado esquerdo do peito na obra “Tinha que acontecer”, nos chamou bastante atenção. De onde veio a inspiração para aquela escultura em específico?
O trabalho que se refere se chama Ex Corde. Ele foi feito em uma época de momentos de fragilidade e certa frieza, coisas da vida!
Um artista deve ser um pouco psicólogo para analisar o ser humano e transpor isso em suas obras?
Não, o artista apenas tem uma sensibilidade um pouco mais aguçada do que algumas pessoas e acaba evidenciando coisas que às vezes passam despercebidos pela grande maioria.
Como enxerga o mercado de arte em nosso país?
Eu sei de sua existência, faço parte dele, mas não é uma coisa que me tira o sono. Foco na minha pesquisa e produção como artista, sempre em busca de evoluir e estabelecer uma maior comunicação e interação com o público.
Sente que está fazendo um trabalho atemporal ou cada trabalho tem sua própria temporalidade?
Eu faço um trabalho que me satisfaz e me deixa realizado como pessoa e como artista. Sobre o tempo, outras pessoas que irão dizer…
Qual a essência do ser humano que você ainda pretende trazer para os seus trabalhos em um futuro próximo?
Vivo um dia de cada vez e essas experiências servem de combustível para eu produzir meu trabalho. Enquanto eu estiver vivo, vou continuar fazendo trabalhos que têm relações com as coisas que sinto, vejo, vivencio e experimento como ser humano.
O cineasta Glauber Rocha, dizia que a função do artista é violentar. Concorda com ele?
Esta palavra é muito forte e carregada de significados e esta pode ser a forma que ele entende de fazer arte e tudo bem. Para mim arte não tem regras e limites. Cada trabalho é uma experiência nova que pode tomar proporções que fogem do nosso controle.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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