O fatídico destino do temido Daniel Más
A história de Daniel Más Gonzales é a de um talento singular que marcou o jornalismo e a teledramaturgia brasileira com uma abordagem ácida e provocadora. Nascido em 1944, na cidade espanhola de Valência, e naturalizado brasileiro, ele construiu uma carreira que transitou entre jornais, revistas, televisão e cinema, sempre com uma visão crítica da sociedade. Sua escrita não fazia concessões; era ferina, mordaz, e muitas vezes desconcertante.
Como jornalista, Más teve passagem pelos mais respeitados jornais cariocas, incluindo “O Globo” e “A Última Hora”. Foi também colaborador das revistas “Vogue” e “Status”, onde escreveu textos contundentes que capturavam as nuances da elite brasileira. No entanto, foi na teledramaturgia que encontrou um espaço de expressão ainda maior, criando roteiros que desafiavam os padrões da época.
Seu primeiro trabalho na televisão foi “Um Rosto de Mulher”, em 1966, marcando o início de uma jornada de mais de duas décadas na Rede Globo. Obras como “Avenida Brasil” (1982), “Transas e Caretas” (1984), “Um Sonho a Mais” (1985) e “Bambolê” (1987) refletiam sua visão crítica e inovadora. O auge de sua criatividade veio com “Armação Ilimitada” (1986), um seriado revolucionário para a TV brasileira.
Mas seu brilho foi interrompido de forma abrupta e trágica. Em 1989, aos 45 anos, Daniel Más faleceu vítima da AIDS, uma doença que, à época, ainda não contava com tratamentos eficazes e que lhe trazia incômodos desde o ano anterior de sua partida. Seu legado, contudo, permanece vivo, ecoando nas tramas e na coragem de desafiar convenções. O destino do temido e brilhante Más foi fatídico, mas sua influência ainda se faz sentir.
O jornalista incômodo e provocador
Daniel Más nunca foi um jornalista acomodado. Seus textos eram ácidos e críticos, cutucando a alta sociedade carioca e expondo os bastidores do poder. Ele entendia como funcionavam as engrenagens da elite e fazia questão de desmistificá-las. Trabalhando nos principais jornais do Rio de Janeiro, ganhou a reputação de um colunista polêmico e temido.
A ascensão na teledramaturgia
Seu talento para contar histórias não ficou restrito às páginas dos jornais. Nos anos 1960, ingressou na Rede Globo e se destacou como um dos grandes roteiristas da emissora. Seu primeiro trabalho, “Um Rosto de Mulher”, abriu caminho para uma carreira repleta de novelas e seriados marcantes.
O impacto de “Armação Ilimitada”
O seriado “Armação Ilimitada” foi um divisor de águas na televisão brasileira. Diferente das produções convencionais da época, trazia um ritmo dinâmico, influenciado pelo cinema e pela cultura pop. Com humor afiado e linguagem moderna, a série conquistou uma legião de fãs e consolidou Daniel Más como um autor visionário.
O cinema e a liberdade criativa
Em 1985, Daniel Más experimentou outra forma de expressão ao escrever o roteiro de “Os Bons Tempos Voltaram: Vamos Gozar Outra Vez”. O cinema lhe permitia maior liberdade criativa e um espaço para aprofundar sua veia crítica. Embora tenha sido uma incursão breve, mostrou sua versatilidade como contador de histórias.
O fim prematuro e a tragédia da AIDS
A década de 1980 foi marcada pelo temor da AIDS, uma doença que dizimou uma geração de artistas, intelectuais e jornalistas. Daniel Más foi uma das vítimas desse período sombrio. Sem acesso a tratamentos eficazes, viu sua saúde deteriorar rapidamente. Seu falecimento em 4 de fevereiro de 1989 foi uma perda irreparável para a cultura brasileira (seu companheiro Régis Albino Pinheiro morreu aos 29 anos em novembro daquele mesmo ano).
O legado de um autor implacável
Mesmo décadas após sua morte, a obra de Daniel Más continua relevante. Seu estilo crítico, sua coragem em abordar temas controversos e sua capacidade de inovar fazem dele um nome inesquecível na história do jornalismo e da teledramaturgia brasileira. O destino pode ter sido cruel, mas seu impacto é eterno.
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