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Ricardo Graham fala sobre a sua marca oEbanista

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Ricardo Graham Ferreira – oEbanista, cria e produz suas peças de maneira artesanal, no tempo humano, no tempo natural das coisas. Desde 2006, Ricardo trabalha a madeira de forma quase simbiótica, utilizando técnicas artesanais e tradicionais que aprendeu durante os intensos quatro anos de estudos com mestres ebanistas do sul da França e do norte da Itália. A escolha da Ebanesteria, um ofício quase extinto no mundo contemporâneo, surgiu da paixão de Ricardo pela madeira e suas infinitas possibilidades. O respeito pelo material e o prazer de dar vida aos seus desenhos com suas próprias mãos, utilizando espécies tropicais adquiridas de manejo florestal, então trabalhar verdadeiras joias raras que são as madeiras protegidas e até em extinção, mas que chegam até o artista advindas de demolições de casarões antigos ou de outras construções são, sem dúvida, duas de suas maiores satisfações como profissional. “No meu caso, aprendi marcenaria na prática. A minha forma de expressar acontece de uma maneira um tanto espontânea, não tenho uma técnica específica, um método só: a madeira inspira, a cor, a textura dela. Tenho desenhos de peças como a última poltrona que fiz, com braços curvos, que era uma coisa que eu queria fazer, mas não tinha conhecimento técnico ainda, e depois de estudar, consegui executar”, afirma o talentoso artesão e ebanista.

Ricardo, você gosta de ser chamado de artesão, designer ou de ebanista?

Gosto de ser chamado de ebanista, ou de artesão. Designer uso para explicar o que é ebanista. Tenho formação em Ebanesteria, que não deixa de ser um artesão. O ebanista, a meu ver, é um designer muito especializado na técnica como na matéria-prima, no caso a madeira. Ele é um designer de móveis.

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Existiu algum momento crucial para a sua decisão de seguir esse caminho em seu ofício?

Teve um momento sim. Quando eu fazia terapia, certo dia numa sessão, surgiu essa possibilidade de fazer marcenaria. Foi com uma observação mais profunda que lembrei da minha paixão por trabalhar com ferramentas, madeira. Foi libertador, um marco na vida pessoal e profissional. Encontrei o meu modo de expressar a criatividade de uma forma que não tinha ideia. Foi uma compreensão, uma força, uma decisão muito importante.

Você se especializou na Itália. O que essa especialização lhe acrescentou em visão de mundo e consistência profissional?

Minha especialização na Itália se deu um misto de experiências: morar fora e ganhar conhecimento em um lugar que eu sabia que tinha muita história e conteúdo nesse tema. Eu estudei em uma região muito especializada na Ebanesteria, a Lombardia, e estagiei em uma cidade chamada Meda, no norte de Milão, conhecida pela sua tradição com móvel. Foram três anos na Itália e um ano na França. Eu trouxe o nome Ebanista para cá, porque embora exista na língua portuguesa, caiu em desuso por aqui.

Em que momento surge oEbanista?

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Quando voltei, instalei minha oficina em 2006. Saiu uma matéria no caderno Ela, do jornal O Globo, falando sobre o meu trabalho, com o título “O Ebanista”. Gostei muito do título e resolvi dar esse nome à minha marca, em 2008. As pessoas foram se interessando pela história – achavam que tinham a ver com ébano, me perguntavam a origem, o que rendeu curiosidade. Esse termo está no Manual Prático da Marcenaria, que fala como um ebenista deve se portar em uma oficina, entre outras coisas.

Quais os principais pilares da marca?

As pessoas percebem na minha marca uma grande qualidade do trabalho, percebem elegância, fineza nas peças, elas observam que a marcenaria é caprichada, que tem a marcenaria tradicional presente. Por isso creio que os meus pilares são as práticas da minha atividade. A realizo com consciência, concentração e amor. Acho que as pessoas conseguem perceber isso.

Quando a pesquisa se casa perfeitamente com uma criação realizada por você?

Minha irmã é estilista formada em Londres e ela falava como a pesquisa era importante na formação dela. No meu caso, aprendi marcenaria na prática. A minha forma de expressar acontece de uma maneira um tanto espontânea, não tenho uma técnica específica, um método só: a madeira inspira, a cor, a textura dela. Tenho desenhos de peças como a última poltrona que fiz, com braços curvos, que era uma coisa que eu queria fazer, mas não tinha conhecimento técnico ainda, e depois de estudar, consegui executar. Então, acho que a pesquisa se casa quando o resultado é harmonioso, completo.

Trabalhar com madeira maciça era uma ideia que sempre teve em mente?

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Desde a minha formação em marcenaria. Na escola, e também onde estagiei, se utilizava muito o compensado de madeira. Quando cheguei ao Brasil, fui me voltando para a madeira maciça. Sempre gostei de trabalhar com encaixes, então a madeira maciça é perfeita, e quando voltei pra cá, descobri um mundo dessa matéria-prima. Guardo mais ou menos 12 espécies de madeira, o que pode parecer pouco, mas cada espécie e amostra tem sua densidade, sua resposta ao clima, seu potencial de flexibilidade diferentes.

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Qual o maior diferencial do seu trabalho e que você considera ser primordial?

Acredito que o maior diferencial é a minha expressão artística que acontece nele, minha assinatura. Todos temos trabalhos diferentes, se nos dedicarmos a fazermos aquilo que nos insira, todos seremos únicos. A dedicação, a personalidade e o amor são o que torna cada trabalho importante e único.

Você já disse em uma certa ocasião, que a melhor inspiração é aquela que você não pensa. Fale um pouco mais sobre isso.

O que quero dizer é que a gente não sabe tudo e não saber tudo é algo muito bom. Porque é daí que nascem as coisas que a gente não está esperando. Você tem uma ideia e ela tem um percentual de função, de técnica, mas tem o desconhecido, o inesperado, que faz a obra ser única no mundo. Desenho a mão livre, deixo fluir e digo em não pensar nesse sentido, em dar espaço para o desconhecido. Dar esse espaço é extremamente importante, porque é um campo que você não controla, e é daí que sai o realmente inovador.

Seus bancos têm um apuro irretocável e talvez seja uma de suas marcas registradas. Como eles surgiram em suas criações?

O Banco Sela surgiu de uma forma espontânea. Eu tinha vontade de desenhar algo, uma noção de como deveria ser o encontro do corpo, com a madeira do assento. A minha pesquisa sobre isso foi na experimentação, na prática, pegando a goiva, a madeira e trabalhando a forma, usando a escultura como técnica. Sela foi esculpido; a forma que ele ia ganhando ia me deixando mais feliz. Me sentia cada vez mais satisfeito durante cada fase do processo. Assim como o assento, os pés foram produzidos pela experimentação. Eu queria um banco que pudesse usar durante meu trabalho na oficina, então usei uma altura de 90cm – mais alto que uma cadeira comum – para usá-lo em frente às bancadas, gerando mais conforto e disposição para sentar e levantar. A peça foi muita inspiração e experimentação.

Os braços da poltrona que fiz atualmente também tiveram esse impulso, onde a criação é conjunta da visão com as mãos, uma sinergia muito grande entre o que foi imaginado e o que é executado. Tato, visão, a forma vai ganhando e se materializa em uma coisa não óbvia, que transpõe a mente para o material. Nesse processo, considero a mão minha ferramenta principal, pois, precisa passar com precisão e sensibilidade no material.

O que um bom design deve ter além de forma e função?

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Uma peça que dá certo precisa ter aquele algo a mais, ter que refletir a sua alegria de estar executando, sua dedicação. Isso fica impresso no produto. Em uma palestra, comentei que, quando fiz o Banco Sela, que foi premiado, estava em um nível de conhecimento técnico diferente do que tenho hoje, mas não posso dizer que foi uma peça que, se tivesse feito atualmente, teria sido melhor executada. Não é o conhecimento que garante a beleza, é esse algo a mais, que está presente na obra de quem se dedica e ama seu ofício.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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