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Rodrigo Silveira e a paixão sagrada pela marcenaria

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Rodrigo Silveira desenha e produz peças de mobiliário com linhas racionais, madeira maciça, técnicas de marcenaria tradicional e uma constante preocupação com a durabilidade de suas criações, seja pela qualidade da produção, seja pela atemporalidade dos seus desenhos. Apesar da paixão pela marcenaria aflorar durante um curso de desenho industrial na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Rodrigo revela que faz móveis desde muito cedo. Quando menino, gostava de desenhar e a mãe, Shirley Silveira, que é artista plástica, incentivou o talento. Ela mandava fabricar móveis a partir dos desenhos do filho. “Era uma forma de estimular o meu lado criativo”, comenta o designer. O designer ainda afirma: “Acho muito difícil sair da forma e função. Pois tudo pode se encaixar em função, desde que tenha a intenção proposta pelo artista anteriormente a realização do produto. Nem sou um cara que sabe teorizar tanto. Mas posso dar um exemplo no meu trabalho. Eu tento contar uma coisa para os meus clientes: você está sentando em cima de uma árvore, mesmo que picada. As pessoas não tem essa percepção. É muito difícil contar isso usando apenas um móvel como “suporte”, mas quando olhamos para o conjunto de trabalho já feito até aqui, isso pode ficar mais claro. Seria muito parecido tentar escrever um romance em apenas um capítulo, ou menos ainda, uma folha de papel”.

Rodrigo, o que você acredita que um design deve ter além de forma e função?

Acho muito difícil sair da forma e função. Pois tudo pode se encaixar em função, desde que tenha a intenção proposta pelo artista anteriormente a realização do produto. Nem sou um cara que sabe teorizar tanto. Mas posso dar um exemplo no meu trabalho. Eu tento contar uma coisa para os meus clientes: você está sentando em cima de uma árvore, mesmo que picada. As pessoas não tem essa percepção. É muito difícil contar isso usando apenas um móvel como “suporte”, mas quando olhamos para o conjunto de trabalho já feito até aqui, isso pode ficar mais claro. Seria muito parecido tentar escrever um romance em apenas um capítulo, ou menos ainda, uma folha de papel.

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Voltando ao ponto, eu me proponho a contar essa história. Essa história passa a ser função. Se para deixar essa história mais clara eu precisar fazer uma cadeira com 3 metros e que se auto suporte quando encostada na parede, eu a farei. Para o desavisado os 3 metros e a “falta” de pés traseiros não passarão de adereço. Mas dentro de um raciocínio anterior ao julgamento do expectador, ela é pura função e a cumpre muito bem. Faz o usuário olhar verticalmente para o móvel, o associando diretamente ao crescimento de uma árvore. No meu caso, meu design defende um ponto de vista: O meu. E sim, isso é função.

A sua paixão pela marcenaria foi instantânea ou existiu uma sedução antes desse encantamento?

A paixão pela marcenaria foi um processo lento e natural, me dediquei a aprender marcenaria pois queria ter conhecimento para saber como cobrar marceneiros na hora em que fossem produzir meus desenhos. A medida que fui aprendendo e mergulhando especificamente nesse processo produtivo (a marcenaria em madeira maciça que privilegia o uso de encaixes as ferragens metálicas) fui me encantando mais e mais. Mais de dez anos depois continuo ainda me aprofundando e me encantando com novas espécies de madeiras, novas técnicas construtivas e novos jeitos de olhar para processos já estabelecidos em meu trabalho.

Seus desenhos são atemporais. Chegar a esse grau de atemporalidade foi natural?

Considero um grande elogio chamá-los de atemporais. Respeito a matéria-prima foi talvez a única escolha consciente que mantenho desde que entrei numa oficina, o resto acontece como um resultado disso. Se eles são atemporais, não sou eu que julgo. Espero que futuras gerações o possam dizer que são.

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Que características um desenho atemporal deve ter em sua visão?

Deve ser desvinculado totalmente de tendências, e totalmente vinculado com o propósito principal de um móvel. Lembrando que o “propósito principal” não é imutável. Depende muito da intenção do artista. Acho que é importante pra mim que o conjunto de móveis desenhados, tenha uma narrativa. As vezes é muito clara, as vezes nem tanto. Mas mesmo que imperceptível para muitas pessoas, o objeto vem carregado dela. Quando penso em atemporalidade hoje, a enxergo como um todo. Uma peça atemporal é resultado de um processo de produção bem feito, da escolha certa das madeiras para cada uso, do pensamento racional na hora de projetá-las… poderia continuar indo. Mas basicamente estamos falando de responsabilidade como designers. Social e ambiental.

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Como funciona a sua relação de troca com a madeira?

Funciona diariamente na oficina. O tempo em que uma peça leva para ser produzida, a umidade, a espécie escolhida para a produção, o tipo de corte feito num tronco que resulta numa prancha de madeira… Só citando algumas das inúmeras variáveis que lidamos todos os dias e que são mutantes. Todo dia acumulo conhecimento que a madeira me provem, tornando meu repertório sobre as madeiras que venho trabalhando, cada vez maior. Eu pelo outro lado, dou uma nova função ao que era uma árvore, tentando respeitar sua antiga função na natureza ao máximo e tentando dar uma nova vida tão longa e útil quanto a que teve anteriormente a seu corte.

Gostamos muito da sua mesa Trapézio. Como se deu o desenvolvimento da sua primeira mesa redonda?

A curva pela curva, na minha opinião em marcenaria gera um resíduo difícil de se aproveitar, por isso não a uso tanto. Apesar de não fazer móveis com curvas, quando o projeto “pede” elas aparecem, e dentro da problemática citada, tento encaixar um melhor aproveitamento de material dentro dela.

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Você foi diretor de arte de uma revista. Como foi essa experiência?

Design é design, seja gráfico, seja de produto. Meu olhar sempre foi o mesmo para os dois. Acredito que faça móveis melhores do que fazia revista, aqui no meu ateliê tenho a liberdade que preciso para aplicar os meus conhecimentos de produção e referências estéticas. Lá como diretor de arte não tinha. Mas foi uma experiência muito importante para descobrir o que não queria fazer da vida.

Quando sentiu que a transição do diretor de arte para o designer de móveis seria inevitável?

Eu era muito novo e me sentia preso, não tinha liberdade criativa quase nenhuma (quando trabalhava em revista) e ainda por cima trabalhava virando as noites. Sempre foi inevitável.

O diretor de arte detalhista ainda está incorporado no designer?

Acho que foi uma evolução natural… com o tempo descobri que um padrão de qualidade tanto estético quanto produtivo, é uma conquista não perene. Todos os dias tenho que correr atrás de mantê-lo. Um dia que você afrouxa a rédea, ele cai. Então acho que está sim incorporado lógico. A diferença é que tinha 21 anos quando fazia revistas, hoje com 36 tenho a calma pra enxergar isso.

Uma das suas paixões é o surf. O que esse esporte lhe ensinou e que você aplica mesmo que indiretamente em seu ofício?

Acho que é aprender a reagir com o que a natureza te dá, esse dinamismo está presente na troca que citei anteriormente no meu dia a dia aqui dentro da oficina. Em ambos exigem atenção e geram uma vontade enorme de aprender mais. Muitas vezes têm que improvisar e tentar coisas novas para continuar seguindo em frente.

Última atualização da matéria foi há 2 anos

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