Toquinho diz que a Bossa Nova não tem idade
Antonio Pecci Filho nasceu em 6 julho de 1946, na cidade de São Paulo. O apelido Toquinho foi dado por sua mãe e já aos quatorze anos ele começou a ter aulas de violão com Paulinho Nogueira. Estudou harmonia com Edgar Janulo, violão clássico com Isaías Sávio, orquestração com Leo Peracchi e Oscar Castro Neves. Toquinho começou a se apresentar em colégios/faculdades e profissionalizou-se nos anos sessenta, em shows promovidos pelo radialista Walter Silva no teatro Paramount em São Paulo. Compôs com Chico Buarque sua segunda canção a ser gravada, “Lua Cheia”. Em 1969 acompanhou Chico à Itália, país onde até hoje se apresenta regularmente. Em 1970, compôs, com Jorge Ben, seu primeiro grande sucesso, “Que Maravilha”. Ainda nesse ano, Vinicius de Moraes o convidou para participar de espetáculos em Buenos Aires, formando uma sólida parceria que durou onze anos (e encerrou-se com a morte do poeta), 120 canções, 25 discos e mais de mil espetáculos. Entre as composições da parceria destacam-se: “O Bem-amado”, “Como dizia o poeta”, ‘Carta ao Tom 74″, entre outras. No ano passado, o compositor celebrou 50 anos de estudos, autorias e parcerias de sua bem-sucedida carreira. “A continuidade do artista depende da emoção que ele provoca em seu público. A experiência aprimorou os detalhes necessários para que isso se fizesse cada vez mais sensível.”
Toquinho, recentemente você afirmou que a Bossa Nova será sempre atual. O que faz ela ainda ser atual, mesmo depois de tantos anos?
A Bossa Nova não tem tempo nem idade. Já está perpetuada pela junção perfeita de acordes, harmonias e ritmos completada pela forma poética límpida e otimista, além do romantismo configurado em sua temática. Essa beleza é insuperável!
O maestro Júlio Medaglia, disse que a música brasileira caiu para a sétima divisão. Como vê a qualidade da música brasileira no momento?
Salvo raríssimas exceções, é uma triste realidade, pelo menos no que diz respeito à música que é veiculada na grande mídia. Mas há pessoas que resistem e ainda fazem boa música. Num mundo onde a quantidade supera a qualidade, fica bem difícil encontrá-las.
Um detalhe interessante é quando afirma que trouxe as pessoas mais para perto de você em seus shows. Em que momento você viu que isso se fazia necessário?
O objetivo sempre foi esse. A continuidade do artista depende da emoção que ele provoca em seu público. A experiência aprimorou os detalhes necessários para que isso se fizesse cada vez mais sensível. O palco passou a ser a extensão de minha casa e o público responde com a mesma singeleza.
Quando entrevistado por nós, um dos seus parceiros, o artista gráfico Elifas Andreato, revelou que as gravadoras sempre foram um empecilho para a criatividade dos capistas e artistas gráficos. Isso já aconteceu em algum momento com você seja como compositor ou violonista?
A arte de Elifas é admirável. Criou capas antológicas para meus discos e de muitos outros compositores. Quando os LPs eram uma verdadeira tela para desenhistas como ele. Os temas desenvolvidos para meus discos sempre expressaram uma conexão adequada com os conteúdos das canções e com o cenário social da época. Felizmente, jamais sofri qualquer tipo de pressão para gravar essa ou aquela música, sendo sempre soberano na escolha de meus repertórios, quer para shows como para discos.
Quem ouve “Aquarela” mesmo depois de tantos anos, sente uma emoção muito grande. De onde acredita que vem essa magia, da canção que o fez ser ainda mais conhecido no exterior?
“Aquarela” é uma canção mágica. Faz as pessoas viajarem entre sonhos de várias facetas e, ao mesmo tempo, depararem com a imutável realidade do fim de tudo. De uma forma dramaticamente lúdica, consegue encantar crianças e adultos na invenção de ilusões e na racionalidade inquestionável da vida.
Das várias canções que canta com o eterno poeta Vinicius de Moraes, uma que gostaríamos de ressaltar é “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, mas naquela versão em Mar del Plata. Para quem ouve pelo menos, dá uma impressão que a “química” era espetacular. Como foi para você especificamente aquele instante?
Aquela época em Mar del Plata foi muito vibrante. Perdurou todo tempo entre as pessoas uma atmosfera de bom humor, amizade e dedicação ao trabalho. Um show atrás do outro, a vontade irresistível de compor novas músicas, o trabalho se confundia com o prazer de estarmos num lugar de liberdades e vitórias.
Você começou a ter aulas de violão aos 14 anos com o músico Paulinho Nogueira. O que trouxe para a sua bem-sucedida carreira daqueles primeiros aprendizados?
Paulinho Nogueira foi meu mestre maior, além de um grande amigo. Ele me transformou num solista de violão e me introduziu no profissionalismo. Meus primeiros shows amadores foram feitos ao seu lado, em clubes e colégios. Em 1999, tive a grande honra de gravar um CD instrumental com ele, que ainda deve figurar no catálogo da gravadora Movieplay, no qual interpretamos juntos todas as músicas, inclusive o “Choro chorado pra Paulinho Nogueira”, no qual somos parceiros, com letra de Vinicius de Moraes. Lembro-me ainda da sua vibração de menino quando Vinicius e eu fomos à casa dele mostrar esse choro. Paulinho Nogueira: fundamental em minha carreira!
Em 1969, com Jorge Ben Jor, compôs a linda “Que Maravilha”. Qual a lembrança mais intensa que ainda guarda na sua mente, quando estava compondo esse clássico da música brasileira?
Jorge é um grande amigo de muitos anos. Encontrávamos sempre no Patachou, um bar famoso na época. Depois íamos à casa de uma namorada minha e ficávamos comendo pão de queijo e tocando violão. Numa noite dessas fizemos “Que Maravilha”, meu primeiro verdadeiro sucesso, a primeira canção minha que ouvi tocar no rádio.
Teve alguma reflexão depois de fazer 50 anos de carreira no ano passado?
Esses 50 anos são um forte alicerce para muitas conquistas ainda, objetivo que todo artista tem de perseguir com o mesmo entusiasmo das primeiras canções.
Se pudesse “pegar” uma palavra, que incorporou em sua vida musical e cotidiana, qual seria?
Amizade: fundamento de todo trabalho em parceria. E respeito pela conjunção das ideias.
No que tem trabalhado atualmente?
Na continuidade de meus shows e na preparação de um DVD comemorando meus 50 anos de carreira, que será gravado no próximo dia 25 de março, no Teatro WTC, em São Paulo.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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