Vale Tudo, Lawfare, ONU…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Carne bovina brasileira atravessa o muro de Trump pelo quintal mexicano e escancara que o mundo é feito de churrasqueiras improvisadas e acordos bilaterais à la carte
Se Trump fechou a porta, o Brasil entrou pela cozinha. E o México, sempre elegante em sua diplomacia de tacos e tarifas, virou o quintal gourmet onde a carne brasileira se recompõe da dieta forçada de 50% de imposto no mercado dos EUA. É o roteiro de um western comercial, com Geraldo Alckmin e Carlos Fávaro no papel de caubóis diplomáticos vendendo picanha premium a um país que ainda digere as próprias tarifas retaliatórias. Os 35 frigoríficos brasileiros já habilitados para o México aguardam ansiosos a homologação de mais 14, numa cena digna de reality show regulatório. Enquanto o agronegócio canta vitória, a realidade geopolítica lembra que o mercado global é um tabuleiro onde cada país é um peão tentando virar rainha. O México, por sua vez, negocia contrapartidas: quer vender atum, pêssegos e aspargos, transformando o prato brasileiro em uma feijoada multicultural. Tudo isso no embalo do tarifaço trumpista, que obriga nações a costurarem acordos bilaterais às pressas, sem as frescuras da OMC. No fim, quem paga a conta é o consumidor — seja em dólares, pesos ou reais. Mas que se dane: churrasco não tem ideologia.
Vale Tudo toma o trono do streaming e prova que a Globo ainda sabe vender novela como quem vende água benta em dia de procissão digital
Quem diria que, em plena era do TikTok, o remake de “Vale Tudo” viraria o novo “must see” das maratonas da Globoplay. A versão de Manuela Dias superou “Pantanal” e assumiu o topo do pódio em horas assistidas e alcance, transformando o streaming da Globo em um confessionário onde o público vai expiar sua nostalgia coletiva. As senhoras do zap, os millennials órfãos de novelas icônicas e até críticos blasé agora se rendem à produção que evoca os anos dourados do folhetim, mas com câmera 4K e close dramático calibrado para a tela do celular. É a prova de que a Globo ainda sabe fabricar produtos que transcendem o hype das redes sociais, mesmo depois de ter perdido o monopólio do sofá das oito. O remake de “Vale Tudo” é quase um ato de resistência estética: em vez de algoritmos, enredo; no lugar de playlists, cliffhangers. Enquanto a Netflix luta para engajar com thrillers genéricos, a Globoplay resgata a arte de manipular emoções com vilãs sofisticadas e mocinhos indecisos. É o streaming vintage, só que pago em débito automático.
PIB da música no Brasil revela que o setor movimenta bilhões enquanto artistas independentes seguem tocando no metrô por moedas e algoritmos
A Anafima trouxe números que fariam qualquer banqueiro desafinar: shows ao vivo renderam R$ 94 bilhões em 2024, equipamentos de áudio somaram R$ 13,9 bilhões, música gravada R$ 3,4 bilhões, fomento público R$ 2,6 bilhões e direitos autorais apenas R$ 1,8 bilhão. A cada real embolsado, um artista independente solta um suspiro de indignação em uma live mal monetizada. O streaming domina 87% do mercado gravado e o Spotify reina absoluto com mais de 60% de share, transformando a indústria fonográfica numa espécie de feudo escandinavo tropicalizado. Daniel A. Neves, presidente da Anafima, diz que o setor “pode ser ampliado consideravelmente” com incentivos fiscais, como se a solução fosse um PAC musical. A realidade é menos glamourosa: o público paga caro em shows, mas acha caro pagar pelo streaming — e o dinheiro evapora nas gravadoras ou nos royalties míseros. No fim, o PIB da música é um gigantesco karaokê de cifras, onde poucos têm microfone e milhões cantam de graça.
Arábia Saudita completa 93 anos unificada e ainda consegue misturar petróleo, deserto e geopolítica como se fosse um coquetel servido em taça de ouro
Em 23 de setembro de 1932, Abdulaziz ibn Saud proclamou o Reino da Arábia Saudita e concluiu a unificação. Noventa e três anos depois, o país é uma monarquia absoluta com a sutileza de um cheque bilionário do PIF (Public Investment Fund) e a ambição de um príncipe que coleciona clubes de futebol e startups de IA. Enquanto o Ocidente discute ESG e direitos humanos, a Arábia Saudita investe pesado em turismo, tecnologia e diplomacia petrolífera, mantendo o Ocidente dependente de seu ouro negro e de sua hospitalidade estratégica. A data é celebrada com desfiles, fogos de artifício e anúncios de megaprojetos futuristas no deserto, como a cidade linear Neom, que parece saída de um delírio arquitetônico patrocinado pelo petróleo. É a prova de que história e dinheiro juntos produzem narrativas sedutoras: ontem beduínos, hoje investidores globais. Entre petróleo e geopolítica, a Arábia Saudita segue sendo a esfinge do Oriente Médio — e o mundo inteiro ainda tenta decifrá-la.

Trump cancela vistos de autoridades brasileiras e transforma diplomacia em reality show de retaliações com pitadas de Lawfare
Donald Trump decidiu suspender o visto do advogado-geral da União, Jorge Messias, e de outras autoridades brasileiras. É a continuação da novela “Quem mexeu no meu passaporte?”, onde a Casa Branca é roteirista e juiz ao mesmo tempo. O pacote vem embalado pela Lei Magnitsky, com direito a bloqueio de contas bancárias, sanções e congelamento de ativos — o tipo de “soft power” que faz a diplomacia parecer uma sessão de divã com Dr. Freud. O Brasil, que já amarga tarifas de 50% sobre produtos exportados para os EUA, agora encara uma escalada que mistura política, retaliação e moralismo seletivo. Messias chamou a medida de “agressão injusta” e prometeu manter-se firme, mas o gesto americano já expôs a vulnerabilidade das relações bilaterais. É a geopolítica transformada em reality show jurídico, onde cada episódio termina com uma punição espetacular e um tweet incendiário. Se isso é diplomacia, então House of Cards era documentário.

Lula vai à ONU com discurso cheio de pausas dramáticas para falar de multilateralismo enquanto mira Trump sem dizer o nome dele
Na Assembleia Geral da ONU, Lula deve manter a coreografia ensaiada: falar de democracia, defesa do multilateralismo, Gaza, extremismo e um mundo menos alinhado a Washington — sem cutucar Donald Trump diretamente. É a diplomacia do “eu sei que você sabe que eu sei”, tentando contrastar com a política externa americana sem gerar brigas de bar internacionais. O evento paralelo sobre defesa da democracia não terá os EUA como anfitriões, sinalizando um distanciamento calculado. Lula aposta no contraste elegante: enquanto Trump pratica tarifas e sanções, o Brasil tenta vender um discurso de consenso e reforma global. É uma aposta arriscada: discurso bonito não paga taxa de importação nem devolve visto cancelado. Mas no palco da ONU vale tudo — até posar de estadista sereno enquanto o mundo desaba em crises simultâneas. A plateia global, acostumada a discursos mornos, deve apreciar o tempero brasileiro, mesmo que o prato principal seja só retórica.
PT, COP-30, Me Too...
novembro 8, 2025Tarifas, Sam Smith, Bolcheviques...
novembro 7, 2025PCC, Claudio Castro, Morrissey...
novembro 6, 2025Dick Cheney, Obama, aéreas...
novembro 4, 2025Magna Fraus, Laika, CPI...
novembro 3, 2025Nicolau II, Geração X, F-35...
novembro 1, 2025Kim Kardashian, Saci, Gayer...
outubro 31, 2025PL, Ciro Gomes, Tsar Bomba...
outubro 30, 2025ARPANET, CV, Telefone Preto 2...
outubro 29, 2025Cosan, Lionel Messi, Radiohead...
outubro 28, 2025Bradesco, semicondutor, PT...
outubro 27, 2025A380, Penélope Nova, NBA...
outubro 25, 2025
Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




Facebook Comments