Os Montoneros: guerrilha portenha em análise
No cenário político tumultuado da Argentina nas décadas de 1960 e 1970, emergiu uma organização guerrilheira que marcaria profundamente a história do país: os Montoneros. Fundado em 1970, esse grupo revolucionário, inicialmente uma dissidência da Juventude Peronista, tornou-se uma força poderosa na luta armada contra o governo militar e suas políticas repressivas.
O nome “Montoneros” tem raízes históricas na época das guerras de independência na América Latina, referindo-se aos grupos de milicianos que se uniam para lutar pela liberdade. Os Montoneros contemporâneos adotaram esse termo como um símbolo de sua luta contra o que viam como uma opressão semelhante àquela enfrentada pelos patriotas do passado.
Os Montoneros originaram-se dentro do movimento peronista, que tinha Juan Domingo Perón como líder carismático. Contudo, à medida que Perón começou a se distanciar de setores mais radicais do movimento, um grupo de jovens militantes, muitos deles ligados à Juventude Peronista, sentiu a necessidade de uma resposta mais enérgica. Foi assim que, em 1970, os Montoneros foram oficialmente fundados, assumindo uma postura mais radical e combativa em relação às políticas do governo.
A ideologia dos Montoneros era profundamente influenciada pelo pensamento de esquerda e pelas teorias revolucionárias da época. Eles buscavam não apenas a volta de Perón ao poder, mas também a instauração de um governo socialista na Argentina. O grupo acreditava que a luta armada era o único meio eficaz para alcançar esses objetivos em um contexto político cada vez mais repressivo.
Os primeiros anos da década de 1970 foram marcados por uma crescente atividade dos Montoneros. O grupo realizou uma série de ações armadas, sequestros e assassinatos políticos, visando desestabilizar o governo militar e criar as condições para a volta de Perón. Em 1973, após anos de exílio, Perón retornou à Argentina e foi eleito presidente. Os Montoneros acreditavam que a sua hora havia chegado, e muitos de seus membros se integraram ao aparato do Estado.
No entanto, a relação entre Perón e os Montoneros rapidamente azedou. O governo peronista não adotou as políticas socialistas esperadas pelo grupo, e a repressão governamental continuou. O distanciamento culminou em 1976, quando um golpe militar depôs Isabel Perón, sucessora de Juan Perón, instalando uma ditadura militar no poder. Os Montoneros foram declarados inimigos do Estado, e uma brutal repressão foi desencadeada contra o grupo e outros movimentos de esquerda.
Os anos seguintes foram marcados por uma violenta guerra suja, na qual os Montoneros enfrentaram não apenas as forças armadas, mas também grupos paramilitares e esquadrões da morte. O governo militar, em sua busca por eliminar qualquer forma de oposição, implementou táticas brutais, incluindo sequestros, torturas e assassinatos. Muitos membros dos Montoneros foram capturados, desaparecendo sem deixar rastros, enquanto outros foram mortos em confrontos armados.
A derrota militar dos Montoneros foi inevitável, mas seu legado perdurou. A organização tornou-se símbolo de resistência e luta contra a opressão, especialmente entre os setores mais progressistas da sociedade argentina. A busca pela justiça e pela memória das vítimas da ditadura militar levou a um movimento de direitos humanos que pressionou pela responsabilização dos perpetradores de violações dos direitos humanos durante aquele período sombrio da história argentina.
Na década de 1980, com o retorno gradual à democracia, a sociedade argentina começou a confrontar seu passado recente. Julgamentos contra membros das forças armadas envolvidos em violações dos direitos humanos foram realizados, mas a questão da responsabilidade dos Montoneros também foi objeto de debate. Alguns setores argumentavam que as ações radicais dos Montoneros justificavam uma resposta enérgica do Estado, enquanto outros insistiam que a luta armada era uma resposta desesperada a uma situação política intolerável.
Ao longo das décadas seguintes, a memória dos Montoneros continuou a influenciar a política argentina. Seus ideais de justiça social e resistência à opressão encontraram eco em movimentos políticos posteriores, e o debate sobre o papel dos Montoneros na história do país permanece vivo. A questão da reconciliação nacional continua sendo um desafio, à medida que a Argentina busca equilibrar a necessidade de justiça com a necessidade de superar as divisões do passado.
Os Montoneros, uma vez ativos e combativos, agora são lembrados como parte de um capítulo tumultuado da história argentina. Seus membros, muitos dos quais sacrificaram suas vidas por suas crenças, tornaram-se símbolos de uma época em que a luta pela justiça e pela liberdade era travada nas ruas e nos campos do país. Independentemente das opiniões sobre suas táticas e estratégias, os Montoneros deixaram uma marca indelével na história da Argentina, lembrando-nos de que a luta por um mundo mais justo e igualitário muitas vezes exige sacrifícios significativos.
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Anacleto Colombo assina a seção Não Perca!, onde mergulha sem colete na crônica sombria da criminalidade, da violência urbana, das máfias e dos grandes casos que marcaram a história policial. Com faro apurado, narrativa envolvente e uma queda por detalhes perturbadores, ele revela o lado oculto de um mundo que muitos preferem ignorar. Seus textos combinam rigor investigativo com uma dose de inquietação moral, sempre instigando o leitor a olhar para o abismo — e reconhecer nele parte da nossa sociedade. Em um portal dedicado à informação com profundidade, Anacleto é o repórter que desce até o subsolo. E volta com a história completa.
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