Mulheres liderando em territórios masculinos
No mundo de hoje, poucas pautas são tão urgentes quanto a presença feminina em espaços historicamente dominados por homens. Política, tecnologia, finanças, ciência, esporte de alto rendimento e forças armadas: todos esses terrenos foram, durante séculos, definidos pelo olhar e pelos interesses masculinos. Mesmo no século XXI, as conquistas femininas nesses espaços não vieram como dádivas, mas como conquistas árduas e, muitas vezes, solitárias.
É importante reconhecer que a narrativa de que “as coisas melhoraram” pode soar confortável demais para quem não acompanha de perto os bastidores dessa luta. Sim, há avanços — mas eles não são uniformes nem definitivos. Em algumas áreas, como a ciência e o empreendedorismo, o protagonismo feminino cresce em ritmo notável. Em outras, como a política institucional ou os altos comandos militares, a ascensão é mais lenta, esbarrando em tradições veladas, conluios silenciosos e preconceitos ainda sólidos.
“No Brasil, apenas em 2023 foi nomeada a primeira general de quatro estrelas, algo inédito para uma instituição fundada no século XIX.”
Esse movimento, no entanto, não é um capricho contemporâneo ou resultado de um suposto modismo “identitário”, como alguns críticos mais apressados gostam de rotular. Trata-se, na verdade, de uma resposta histórica a um desequilíbrio estrutural que já dura séculos. O protagonismo das mulheres em áreas tradicionalmente masculinas é não só uma questão de justiça, mas também uma demanda por eficiência. Há estatísticas robustas mostrando que ambientes diversos produzem melhores soluções, inovam mais e refletem com mais precisão as necessidades de toda a sociedade.
No Brasil e no mundo, os exemplos se acumulam. Desde Ursula von der Leyen no comando da União Europeia até Ellen Johnson Sirleaf, ex-presidente da Libéria e Nobel da Paz, ou mais perto de nós, nomes como Luiza Helena Trajano nos negócios e Djamila Ribeiro no pensamento acadêmico. A presença feminina qualificada não é mais exceção — embora ainda esteja longe de ser regra.
Os muros ainda não caíram
Apesar das conquistas, os obstáculos persistem. Em muitos ambientes, a ascensão de mulheres a posições de liderança ainda gera uma resistência velada, frequentemente disfarçada sob o manto da “falta de preparo”, “perfil inadequado” ou da velha máxima do “não é o momento certo”. A crítica raramente é explícita, mas é eficiente na manutenção dos velhos códigos de poder.
O universo da tecnologia é um dos melhores exemplos disso. As grandes empresas globais de tecnologia, que moldam o cotidiano do planeta, continuam majoritariamente sob o comando de homens. Dados recentes mostram que, entre as cem maiores companhias do setor, menos de 10% têm mulheres em cargos de CEO. Esse número se torna ainda mais dramático quando levamos em conta que muitas dessas mulheres chegaram ao topo enfrentando boicotes internos, desigualdade salarial e invisibilidade em reuniões decisivas.
Nas forças armadas e nos comandos de segurança pública, o cenário é ainda mais excludente. No Brasil, apenas em 2023 foi nomeada a primeira general de quatro estrelas, algo inédito para uma instituição fundada no século XIX. Em países europeus e asiáticos, o ingresso de mulheres em missões de combate pleno ainda gera polêmicas, mesmo com os resultados concretos de eficiência operacional. O machismo nesse setor, além de estrutural, ainda é frequentemente institucionalizado por códigos internos antiquados e resistências culturais.
No campo da política, o avanço é nítido, mas desigual. Enquanto alguns países latino-americanos conseguiram eleger lideranças femininas fortes, outros retrocederam. A participação feminina nos parlamentos ainda é baixa em diversas nações. No Brasil, mesmo com a adoção das cotas de gênero para candidaturas, as mulheres seguem sendo sub-representadas nas esferas de decisão.
Essas dificuldades, no entanto, não significam derrotas. Elas mostram o tamanho da transformação necessária. As novas gerações de mulheres chegam mais preparadas, com mais acesso à educação e com menos disposição para aceitar papéis subalternos. E isso incomoda. Mas incomodar, no bom sentido, é necessário. Romper estruturas exige desconforto.
O que o século XXI está testemunhando não é apenas uma inserção eventual de mulheres em espaços masculinos. Trata-se de uma reescrita lenta, mas profunda, das regras do jogo.

O futuro, inevitavelmente, será mais feminino. Não por uma imposição ideológica, mas pela simples razão de que não faz mais sentido que metade da humanidade seja coadjuvante onde deveria ser protagonista.
A liderança feminina não é só necessária. É lógica.
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Myrna Dias é Secretária de Redação do Panorama Mercantil e assina a seção Atualíssima, dedicada ao universo feminino sob uma ótica contemporânea, crítica e elegante. Com sensibilidade afiada e texto limpo, ela constrói pontes entre comportamento, cultura e protagonismo. Sua escrita conjuga escuta e posicionamento, navegando entre tendências e dilemas reais com firmeza e empatia. Em um portal comprometido com profundidade e discernimento, Atualíssima é o espaço onde o feminino encontra voz, análise e atitude.
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