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Rolls-Royce, gregoriano, Roma…

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Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.

Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.

Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.

Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.

Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.

Mauro Vieira e Marco Rubio: a improvável amizade diplomática que faz os bolsonaristas verem comunismo até no cafezinho de Washington

Se dependesse da imaginação conspiratória do bolsonarismo, Mauro Vieira e Marco Rubio estariam trocando tapas em uma mesa da Casa Branca, com Trump narrando e George Soros passando o café. Mas não: o chanceler brasileiro e o secretário norte-americano, longe de qualquer animosidade, mantêm uma relação cordial e pragmática desde os tempos em que o mundo ainda acreditava na palavra “cooperação”. Vieira, que já fora embaixador em Washington, conhece Rubio desde quando ele ainda ensaiava ser o novo messias do Partido Republicano — versão 2010, menos Trump e mais planilha. Agora, ambos voltam a se encontrar para discutir o famigerado “tarifaço”, essa guerra comercial com sotaque diplomático e cheiro de café queimado. Enquanto a extrema-direita pinta Rubio como um espião da CIA infiltrado na Amazônia e Vieira como seu mordomo globalista, o que há, na verdade, é um exercício de diplomacia adulta — essa espécie em extinção. O que irrita mesmo a turma do QG de Brasília é ver que há diálogo onde eles só enxergam pólvora. E que, por ironia, um republicano norte-americano e um diplomata brasileiro estão fazendo mais pela paz tarifária do que muito patriota de camiseta verde-limão jamais sonhou.

Fernanda Montenegro aos 95: a atriz que desmente o tempo e humilha os vivos com talento e dignidade

Enquanto o Brasil se dissolve em memes, Fernanda Montenegro chega aos 95 anos sem jamais precisar de filtro, avatar ou assessoria de crise. Continua lúcida, brilhante e dona de um repertório que faz a Inteligência Artificial parecer uma criança confusa. Em 2025, entregou mais três filmes — Ainda Estou Aqui, Vitória e Velhos Bandidos — como quem serve champanhe no deserto da mediocridade. No Festival do Rio, assistiu à restauração de Gêmeas (1999) e lembrou, com ironia serena, que “todo dia é preciso levantar e dançar”, mesmo que o corpo queira sabotar. No Brasil, onde a cultura é tratada como inimiga do PIB, Fernanda é resistência com batom e texto decorado. A filha, Fernanda Torres, concorreu ao Oscar e provou que o talento é hereditário — embora o país não mereça nem uma delas. Em um mundo de “influencers” que mal influenciam o próprio banho, Montenegro reafirma o poder da vocação: essa entidade mística que substitui o algoritmo pela alma. Entre exames médicos e ensaios, ela ainda encontra tempo para lembrar que arte não é passatempo, é sobrevivência. E se a juventude insiste em idolatrar quem faz dancinha, Fernanda segue fazendo o que sempre fez: história.

Rolls-Royce de R$ 9,7 milhões e o glamour jurídico da Operação sem Desconto: a lei é cega, mas enxerga bem o luxo

Nelson Willians, advogado de gravata impecável e moral discutível, teve um pequeno contratempo existencial: a Polícia Federal achou que seu Rolls-Royce Phantom — avaliado em R$ 9,7 milhões e com alma de aristocrata britânico — talvez não fosse fruto do suor do trabalho, mas do suor dos outros. A Operação sem Desconto (nome que parece ironia involuntária) fez o favor de apreender o carro, que agora serve de peça de exposição sobre a relação íntima entre poder e ostentação. Enquanto uns colecionam livros, Willians coleciona inquéritos. O carro, comprado em nome da empresa da esposa, Anne Caroline, é um lembrete de que o luxo no Brasil sempre tem uma placa CNPJ e um motorista com habeas corpus preventivo. Fred Astaire e John Lennon, antigos donos de Rolls, ao menos dançavam e compunham; nossos milionários de toga preferem desfilar a moralidade como se fosse terno sob medida. E o país, que já teve Collor e seu Fiat Elba, agora tem advogados com Rolls-Royce — prova de que evoluímos do populismo à sofisticação celerada.

Fred Astaire e John Lennon, antigos donos de Rolls, ao menos entretinham (Foto: Wiki)
Fred Astaire e John Lennon, antigos donos de Rolls, ao menos entretinham (Foto: Wiki)

Trump, Gaza e o cessar-fogo do século: paz assinada sem Israel nem Hamas, mas com muito networking internacional

O mundo acordou nesta segunda (13) com a notícia de que um cessar-fogo foi assinado no Egito entre líderes de 20 países — todos menos os que realmente guerreiam. Israel e Hamas ficaram de fora, mas Donald Trump, claro, apareceu como “arquiteto da paz”, entre selfies e aplausos protocolares. O evento em Sharm El-Sheik teve mais chefes de Estado que uma assembleia da ONU e menos lógica que um episódio de Veep. Trump discursou no Parlamento israelense dizendo que “a era do terror acabou”, enquanto o terror apenas trocava de CEP. Netanyahu recusou o convite por causa de um feriado judaico — a desculpa mais elegante já dada para fugir de um vexame diplomático. A cúpula promete criar um “conselho supervisor” para Gaza, um tipo de síndico internacional do caos, com regulamento ainda em branco. O Oriente Médio nunca esteve tão perto da paz — e tão longe da coerência. No fundo, é só mais uma cúpula de paz em que todos falam de conciliação enquanto o som das bombas serve de trilha sonora.

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O dia em que a União Soviética trocou o calendário e perdeu 13 dias, mas ganhou um século de piadas históricas

Em 14 de outubro de 1923, Moscou acordou no futuro. Literalmente. Ao substituir o calendário juliano pelo gregoriano, as autoridades soviéticas decidiram pular 13 dias — uma decisão que, se tomada no Brasil, teria resolvido o problema do feriadão e das contas atrasadas. O mundo soviético passou a medir o tempo segundo o padrão ocidental, o que, convenhamos, é uma ironia deliciosa: o regime que se dizia inimigo do capitalismo acabou adotando o relógio do inimigo. Enquanto isso, os burocratas do Kremlin tentavam explicar ao povo que o dia seguinte seria 14, mesmo que o anterior tivesse sido o 1º. A confusão temporal virou metáfora perfeita da história soviética: uma tentativa heroica de mudar o mundo que, no fim, acabou presa ao próprio fuso horário ideológico. E se há algo que a revolução ensinou é que o tempo, assim como a utopia, é sempre relativo — principalmente quando medido por decreto.

Lula em Roma e a teologia da fome: entre a retórica da FAO e o apetite por aplausos globais

Lula discursou em Roma com sua mistura clássica de indignação, lirismo e moralismo social. “A fome é irmã da guerra”, proclamou, citando Marx e talvez o cardápio do almoço. Falou bonito, como sempre, e com razão: o planeta produz comida para 10 bilhões de bocas, mas insiste em alimentar o lucro de poucos. O problema é que, enquanto o presidente denuncia o protecionismo alheio, o Brasil continua exportando soja e importando miséria urbana. A retórica da soberania alimentar funciona bem nas cúpulas, onde o bufê é internacional e a consciência é light. Lula lembrou que o país saiu do Mapa da Fome, embora a fila do mercado desminta em parte o otimismo. Na plateia, diplomatas aplaudiram como quem cumpre um ritual de fé — o multilateralismo é a nova religião dos desesperados por relevância. “Enquanto houver fome, a FAO permanecerá indispensável”, disse ele. Talvez. Mas enquanto houver discursos, a fome também permanecerá rentável.

Mauro Vieira e Marco Rubio

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