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A ideias do pioneiro do graffiti Binho Ribeiro

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Binho Ribeiro faz graffiti desde 1984, sendo o pioneiro do movimento no Brasil. Hoje é um dos mais reconhecidos street artists do país não apenas pelo trabalho consistente que nunca parou de fazer nas ruas, mas também pela criação em telas e curadoria de grandes projetos envolvendo a street art – como o Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo (MAAU), o primeiro museu aberto de arte urbana do mundo, e a Bienal Internacional Graffiti Fine Art, hoje a mais completa bienal de arte urbana do mundo. “Eu comecei nessa época porque andava de skate, dançava break e era envolvido com a cultura hip hop. Obviamente essa foi a minha grande apresentação para o mundo do grafite. Hoje eu ainda tenho grande influência e grande carisma pelo universo do hip hop… admiro, frequento, absorvo informações em todos os lugares que eu vou em todo mundo. A minha cultura é muito mais do grafite que do street art e com isso eu me preservo e sou bastante respeitado em diversos lugares onde passo. No Brasil gosto muito de deixar claro a minha admiração e a minha identificação com essa raiz, mas quando eu trabalho com o universo surrealista eu me liberto um pouco e posso às vezes experimentar elementos, formas de pinturas e conceitos que vão um pouco além dessa cultura de rua”, afirma um dos nomes mais respeitados do mundo da street art e que fala com exclusividade para o portal Panorama Mercantil.

Binho, a arte deve ter algum tipo de papel social?

Eu acredito que a arte se comunica com as pessoas ou ela perde a função da sua existência. A arte expõe protestos, alegrias, altera ambientes, mexe com as pessoas, tenta tocar no ser humano. Então, eu acho que a arte é totalmente ligada a todo processo social ou ela talvez não fizesse sentido.

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Você começou em 1984. Como se consegue fazer um trabalho com tanta consistência artística desde este tempo?

Eu não vejo isso como algo tão distante porque continuo com bastante energia para produzir, para estudar, para criar, para fazer aquilo que me faz bem que é a pintura, ou mesmo o exercício físico do gestual, da parte criativa, da experimentação, do aprendizado técnico, do conceitual… Por isso eu acho que estou começando, ainda estou aprendendo e isso me motiva a estar produzindo cada vez mais.

Como o Brasil está inserido no cenário global da street art?

Você tem diversos artistas com grande renome na street art e também no grafite. Isso é uma busca intensa por parte de nós artistas pioneiros de uma certa forma e por diversos jovens talentosos que despontaram nos últimos anos, afirmando o grande conteúdo diferenciado que temos no Brasil (isso de norte a sul). O Brasil realmente ficou um pouco afastado desse universo durante muitos anos, porém, hoje a gente tem um equilíbrio muito favorável em tudo que é produzido em nosso país da forma que representamos, desde o clássico (sendo respeitado e realmente bastante admirado) assim como jovens talentos mostrando diferentes formas de pintura, de desenho, de apresentação, de conceitos… Isso faz com que o Brasil seja bem representado e bastante renomado nessa cultura de arte urbana.

E como analisa o seu trabalho em toda essa cena?

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Eu acho que o meu trabalho segue um pouco disso, em especial porque eu mantenho o grafite clássico como sendo raiz da minha produção artística e em paralelo eu também trabalho um mundo mais surrealista, fazendo ali um contrapeso entre aquilo que era antigo, porém, que é ainda moderno, usual e atual, com aquilo que seria algo diferente do que já foi feito. Então, quando eu faço um grafite, gosto que ele se pareça um grafite e não um outro tipo de arte qualquer (digamos assim) e quando eu faço uma obra surrealista eu faço um grafite que extrapola algumas das diretrizes originais dessa forma de pintura. Eu tento ocupar dois universos, trabalhando com dois conceitos, porém, que são eminentes de uma única cabeça de um geminiano!

Você foi influenciado pelos movimentos dos guetos de Nova York em meados da década de 80. O que lhe influencia hoje?

Eu comecei nessa época porque andava de skate, dançava break e era envolvido com a cultura hip hop. Obviamente essa foi a minha grande apresentação para o mundo do grafite. Hoje eu ainda tenho grande influência e grande carisma pelo universo do hip hop… admiro, frequento, absorvo informações em todos os lugares que eu vou em todo mundo. A minha cultura é muito mais do grafite que do street art e com isso eu me preservo e sou bastante respeitado em diversos lugares onde passo. No Brasil gosto muito de deixar claro a minha admiração e a minha identificação com essa raiz, mas quando eu trabalho com o universo surrealista eu me liberto um pouco e posso às vezes experimentar elementos, formas de pinturas e conceitos que vão um pouco além dessa cultura de rua.

O que ainda vemos nos seus trabalhos que são oriundos dessas influências da década de 80?

Quando eu faço as letras! O grafite que vem da palavra grafito, da escrita, antes de mais nada ela é uma caligrafia. A partir dessa caligrafia que marca os territórios, mais a capacidade técnica, o estilo que cada um conseguiu desenvolver, aí vem os outros elementos como desenhos, cenários e propostas, que tem uma ligação maior com personagens que vivem o dia a dia urbano, que vivem a rua e que tem uma ligação com skate, com bike, com jovens, que tem uma linguagem mais a ver até mesmo com a pichação e outras manifestações artísticas que vem mesmo das grandes cidades.

Fale um pouco sobre a sua produtora cultural.

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A questão da produção cultural me acompanha também desde jovem. Durante todo processo artístico de construção e técnica, sou muito impaciente e desde muito cedo eu aprendi a organizar coisas como eventos de grafite, encontros, exposições, eventos musicais, competições de skate… então, eu desenvolvi não só por questões profissionais ou financeiras, mas, porque tenho um carinho especial por essa questão. Com isso o crescimento ou a maturidade desses projetos e destes desafios, me fizeram ter a necessidade de eu ter outras pessoas próximas que me ajudassem a executar esses projetos. Então, um fruto que eu tenho desse empenho é a “Bienal Graffiti Fine Art”. Temos também o MAAU (Museu Aberto de Arte Urbana), pioneiro de uma certa forma em termos mundiais e grande referência em diversos países e estados, entre diversos projetos que eu faço às vezes direcionados diretamente para uma agência ou para uma grande marca onde às vezes eu misturo a minha capacidade artística com a minha experiência organizacional para que eu possa realizar esses projetos.

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Quais os principais pilares da sua produtora em sua visão?

Acho que o principal pilar é a estabilidade financeira e também a capacidade execucional. É fazer com que as pessoas que estejam ao redor, tenham uma possibilidade profissional séria, rentável e que toda estrutura possa se tornar realmente autossuficiente, ou seja, quando você trabalha em projetos onde o coração vem à frente, quando o carinho que a gente tem vem à frente do dinheiro, é muito difícil equilibrar esses pontos que lidam com a parte financeira da coisa. Esse é um dos pilares, fazer com que ela se torne realmente autossustentável. Isso é uma fração do intuito talvez maior que é a realização de grandes projetos, de projetos sólidos que possam também elevar o nome de vários artistas que são às vezes jovens, às vezes não muito conhecidos, porém, que através de oportunidades como essa, começam a dialogar com o público e obviamente o público também crescente irá dialogar cada vez mais com esses eventos ou com essas propostas primeiramente culturais, mas que tem também tem um intuito social. Esse acredito que seja o nosso pilar realmente maior: fazer com que possamos ter grandes projetos e fazer com que muitos jovens tenham oportunidade para tocar daqui pra frente.

O que não pode faltar em uma criação idealizada por você?

Gosto de trabalhar com cores. Talvez uma das coisas mais legais do meu ofício é a paleta de cores que eu trabalho, mas também tenho diversos desafios com sépia e monocromático… Quando eu sigo o caminho mais clássico eu me incomodo quando fico um tempo sem fazer algumas letras, sem poder me situar mesmo dentro da cultura do grafite original. Quando eu trabalho com surrealismo eu tento, na verdade, ir um pouquinho além de até onde eu havia ido antes, mas eu não posso ir simplesmente tão rapidamente de forma que descaracterize o trabalho. Realmente é um processo lento, um processo de construção e desconstrução ao mesmo tempo. Como eu tenho minhas bases, minhas raízes muito ligadas a técnica, há como resolver determinados efeitos, acabamentos, levezas de traços e combinação de cores. Acho que tudo isso junto faz com que meu trabalho fique facilmente reconhecido. É a maneira que eu me divirto muito. É a maneira que eu me sinto satisfeito quando eu saio para pintar e o resultado atinge esses requisitos.

Esse toque pessoal foi conseguido com o tempo ou foi algo que trouxe desde o seu primeiro dia de trabalho?

Como eu desenho desde criança, acho que aprender a desenhar foi um desafio muito legal. A oportunidade que eu tive, um concurso que eu ganhei (ganhando com isso uma bolsa de estudo no Candido Portinari), na época foi o que realmente me profissionalizou e que me colocou de frente ao mundo que eu queria e que era de estudo, de desenho, de quadrinhos na época e rapidamente eu conheci o que seria o grafite, a arte de rua e com o tempo eu vim aprimorando tanto essa parte de ilustração de técnica de pintura e de desenho, como, em geral, a parte mais madura. Acredito em todo esse processo de estudo, de aprendizado, de conquistas, de entendimento do que sua cabeça deseja e sua mão consegue fazer, seja com a latinha de spray, com um pincel, com um lápis ou com uma canetinha. De qualquer forma esse é o resultado que eu busco e que eu acho que é bastante visível no meu trabalho.

O que ainda falta para você como artista, mesmo tendo um grande reconhecimento nos mais diversos países nesses mais de 30 anos de carreira?

Eu tenho dificuldade em pensar no que falta, porque eu me sinto bastante satisfeito com as conquistas, com o formato que as coisas acontecem na minha vida e ao redor. É claro que eu gostaria (isso talvez não seria uma coisa muito apenas pra mim mais pra todos), que as grandes empresas pudessem olhar um pouco mais para esses jovens, para esses mercados, para esses talentosos e precursores da cena, e que a gente possa ter um pouco mais de apoio nos projetos que eu realizo, para que eles possam dar uma assistência maior aos artistas e a produção. Eu pessoalmente como artista, acho que apenas tenho que continuar fazendo tudo que faço, tendo mais oportunidades, tendo mais estrutura para aproveitar melhor essas oportunidades, e tendo apenas a saúde que acho que tenho, para que eu possa seguir criando, aprendendo e na medida da oportunidade ensinando também.

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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