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Angelica de la Riva serve a sociedade com sua voz

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A soprano Angelica de la Riva tem conquistado seu mercado nos EUA, na China e na Europa, e já é comparada a lenda Maria Callas. Seu recente début na China foi sob a batuta do maestro Bartholomeus-Henri Van de Velde. Nos EUA, conquistou o Carneggie Hall em 2010, voltando para mais cinco apresentações desde então. Atuou no papel principal da ópera Horas Vacias, no Lincoln Center, gravando um CD que apresenta em turnê por Nova Yorque, França, Suíça e Áustria. Foi a primeira soprano brasileira a cantar no Avery Fisher Hall. Angelica também se apresentou como solista no Strathmore em Washington; no Jay Pritzker Pavillion no Millenium Park em Chicago, e no Teatro Adolfo Mejia em Cartagena (Colômbia). Como convidada, cantou nos Festivais da Opera de Chiari, em Milão; no do Westminster Choir College, em Princeton; Moment Musicaux em Normandie (França) e no Festival de Granada (Espanha) com Teresa Berganza entre outros. “Cada um tem seu momento individual e tempo de percepção da sua responsabilidade, ou seja, timing diferente em que “cai a ficha”. Acredito que todo ser humano tem uma responsabilidade social e deve fazer o máximo possível para atuar sobre ela constantemente. (…) Acredito que o mais importante na popularização da música clássica, da Ópera, é jamais baixar o nível intelectual ou a qualidade das produções e sim facilitar o acesso a elas”, afirma a soprano. 

Angelica, como é ser comparada com a maior soprano de todos os tempos, a americana Maria Callas?

Maria Callas foi uma uma das maiores se não a maior soprano de todos os tempos. Uma artista sem igual, uma grande mulher, um ícone que se tornou imortal. Sua disciplina, dedicação, foco, intensidade e elegância sempre foram uma referência pra mim, desde pequena. Ser comparada a ela é uma honra e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade já que sua capacidade artística era única.

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Sempre perguntamos para os artistas que entrevistamos, algo que você já falou em uma de suas entrevistas: “Todo artista tem uma grande responsabilidade social”. De um modo geral, você acredita que os artistas têm a nítida consciência disso?

Alguns sim, outros não. Cada um tem seu momento individual e tempo de percepção da sua responsabilidade, ou seja, timing diferente em que “cai a ficha”. Acredito que todo ser humano tem uma responsabilidade social e deve fazer o máximo possível para atuar sobre ela constantemente. A responsabilidade social do artista é muito maior por vários motivos, o primeiro deles é pelo simples fato de que temos mais oportunidades de alcançar, de sensibilizar e de conscientizar mais gente ao mesmo tempo. Existem vários níveis de atuação, e as “missões”/paixões vão sendo identificadas no decorrer do caminho. Por exemplo: sinto uma necessidade de difundir a música clássica brasileira, divulgar os nossos compositores assim como a música de compositores que se inspiraram no nosso país. Dentro dessa missão surgiu o “Projeto Amazonas” que é uma série de concertos que acontece em diversos países, apresentando música de compositores de todos os períodos e diferentes nações cujas obras foram inspiradas pelo poder ancestral da Floresta Amazônica. Essa ideia surgiu de uma parceria com o violonista clássico colombiano Nilko Andreas Guarin e proposta ao Carnegie Hall em Nova York pela primeira vez em 2010 e agora acontece anualmente. Carnegie Hall – Amazonas 2013. O principal objetivo do “Amazonas” é sensibilizar os diferentes públicos a nível global e convidar o mundo a observar mais de perto as grandes calamidades causadas pela humanidade a todos os seres, especialmente pelos seres humanos aos próprios seres humanos. Acreditamos que usando nossa linguagem, a música, uma língua que não precisa de tradução, podemos trazer a nossa contribuição para proteger e preservar nossa floresta para que nós e nossos descendentes possamos continuar usufruindo dela.

A música clássica no Brasil ainda é restrita se compararmos com outros gêneros musicais. O que você acredita que deveria ser feito para que esse estilo musical alcançasse ainda mais pessoas?

Acredito que o mais importante na popularização da música clássica, da Ópera, é jamais baixar o nível intelectual ou a qualidade das produções e sim facilitar o acesso a elas. Alguns dos projetos que vou cantar no Brasil em 2014 e 2015 visam exatamente isso: alcançar mais pessoas. Um dos projetos por exemplo, tem como objetivo fazer com que os concertos sejam mais acessíveis ao público em geral, explorando possibilidades e aguçando a curiosidade das gerações mais jovens. Acredito que o Brasil está numa boa direção com relação a isso. São sementes que estão sendo plantadas e vão dar frutos pouco a pouco. Guardando as devidas proporções, a música clássica está restrita em quase todos os países se compararmos com outros gêneros musicais e existe uma preocupação enorme em todo o mundo com essa “crise”. O próprio diretor atual do Metropolitan Opera em Nova York, Peter Gelb, começou fazem alguns anos uma grande campanha e utiliza diferentes ferramentas para levar a Ópera ao público (Transmissões em HD nos cinemas, nas rádios, e produções em espaços públicos) e também trazendo uma audiência mais jovem para os teatros (investindo intensamente em marketing e linguagens mais contemporâneas).

Você tem uma grande estima pela falecida cantora lírica carioca Bidu Sayão. Como se sentiu ao pisar no Lincoln Center, sabendo que seria a segunda brasileira a ter esse privilégio, já que a primeira foi a intérprete citada?

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A experiência no Avery Fisher Hall no Lincoln Center foi extremamente emocionante, quase como se estivesse num sonho. Cantar na casa da Orquestra Filarmônica de Nova York, cantar no mesmo palco em que regeram Mahler [Gustav Mahler, maestro e compositor austríaco 1860-1911]; Bernstein [Leonard Bernstein, maestro, compositor e pianista norte-americano 1918-1990] e Toscanini [Arturo Toscanini, maestro italiano 1867-1957] é difícil de explicar… Quase como se tudo no palco estivesse em câmera lenta, como se o mundo, por um instante tivesse parado…

Leia ou ouça também:  Ayala Rossana comenta sobre atuação no teatro

Podemos dizer que você se descobriu como soprano, quando imitava os cantores de Ópera que o seu pai ouvia?

Meu pai me descobriu! Ele diz que quando bebê, eu chorava como uma valquíria, coitada da minha mãe [Risos.] Depois quando fui crescendo podia imitar com facilidade os cantores das óperas que o meu pai escutava tanto em casa quanto no carro todos os dias: Verdi [Giuseppe Verdi, compositor italiano 1813-1901]; Puccini [Giacomo Puccini, compositor italiano 1858-1924]; Villa-Lobos [Heitor Villa-Lobos, maestro e compositor carioca 1887-1959], Wagner [Richard Wagner, maestro, compositor, diretor de teatro e ensaista alemão 1813-1883] e também muita música popular brasileira e cubana: Tom Jobim [1927-1994], Elis Regina [1945-1982], Bola de Nieve [Ignacio Jacinto Villa Fernández, cantor, compositor e pianista cubano 1911-1971] e Olga Guillot [cantora cubana 1922-2010]. Música sempre fez parte da minha vida e acredito que tudo aconteceu naturalmente principalmente pelo ambiente cultural e musical onde fui criada e pela influência dos meus pais.

Quando você trabalhava na área do Direito, disse que sentiu que aquela não era a sua missão para mudar o mundo. Em algum momento da sua jornada como cantora, você parou e disse para si mesma: “Agora sim eu estou começando a mudar o mundo?”.

O mundo muda sozinho a partir dos estímulos mais simples. A arte, em especial a música, cria uma sintonia emocional profunda contagiante e exponencial que nos permite compartilhar valores éticos e estéticos. Como disse o grande maestro José Antonio Abreu [maestro, economista, educador e ativista venezuelano]: “A arte deve estar a serviço da sociedade e não o contrário”. Sou uma artista a serviço da sociedade.

Imagina que teria acontecido algo de diferente em sua carreira, se em 2002 o diretor do Lincoln Center Jack Kirkman não tivesse dito para você que deveria estudar em Nova York?

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Tudo acontece quando tem que acontecer. O que o Jack Kirkman falou depois de me ouvir foi extremamente importante pra mim, e foi a gota d’água. Sempre quis estudar e viver em Nova York, desde pequena. Tive algumas outras oportunidades em 1997 quando me ofereceram uma bolsa de estudos em Princeton e na Westminster Choir College, mas não me sentia pronta para estar tão longe da minha família.

Ficamos sabendo que você gosta muito de ouvir Giuseppi Verdi, sendo que ele não sai da sua playlist. Como é interpretar as obras de quem tanto se admira?

É uma benção! Não é a toa que Verdi foi um dos compositores de ópera de maior sucesso e mais prolífico na história. Além dos libretos das suas óperas serem extremamente interessantes e apaixonantes, ele compunha de uma maneira muito específica pra voz, se enfocando na expressão natural da voz. Pra mim, começar a cantar Verdi foi um “turning point” [expressão em inglês que seria algo como ponto de virada] porque me ensinou muito tecnicamente. Nada na música de Verdi é supérfluo, nenhuma nota, nenhuma frase. Além disso, sua capacidade de “pintar” a natureza de cada personagem revelando-a na sua música é de uma genialidade admirável. O nosso grande compositor Antonio Carlos Gomes [compositor campineiro 1836-1896] foi seu aluno e somou a sua genialidade a um estilo de composição muito similar.

Quando você se encontra com a sua irmã Marina de la Riva, existe muitas trocas de ideias sobre o trabalho de ambas?

Sempre. Tenho uma enorme admiração pelos meus irmãos, estamos sempre conectados e trocando ideias nos campos pessoal e profissional. Somos muito unidos e servimos de críticos uns aos outros (quando “convocados”). Admiro muito o trabalho da Marina, é um trabalho genuíno, único.

Não gostou de alguma crítica ao seu trabalho?

Toda crítica construtiva é muito bem-vinda. Dito isso, ainda não tive crítica que eu discordasse ou que não gostasse.

Você é uma pessoa que faz planos para o futuro da sua carreira, ou apenas vive o momento com total intensidade?

Eu tento ao máximo encontrar esse equilíbrio: viver o momento presente, considerando que o futuro chega, e chega rápido. Minha sorte, é que amo o processo. Amo estudar, me preparar, ensaiar. Para mim viver o momento com a maior intensidade faz parte de plantar o futuro da minha carreira. Tenho alguns projetos, muitos planos e inúmeros sonhos. Cada um deles terá seu momento com total intensidade.

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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