ARPANET, CV, Telefone Preto 2…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Os Altos-Comandos e a cruzada por tanques: o Brasil descobre que soberania se mede em calibre e PowerPoint
Os generais estão em polvorosa. Entre PowerPoints e cafezinhos requentados do Ministério da Defesa, os Altos-Comandos resolveram que o país precisa se rearmar — e já! Afinal, dizem, o planeta virou um tabuleiro de guerra e o Brasil, coitado, está jogando com tampinhas de garrafa. A narrativa é nobre: preservar a soberania nacional diante do “caos geopolítico”. Na prática, soa mais como saudade dos tempos em que a farda fazia barulho — e orçamento. A lógica é curiosa: com 1% do PIB dedicado à Defesa (metade da média global), o país não compra um tanque novo desde que Collor ainda tinha cabelo. E quando o faz, 90% vai para pagar aposentadoria de sargentos e pensionistas de generais. A PEC dos 2% é o delírio orçamentário de sempre: cria despesa sem criar munição. Os vizinhos já gastam mais — a Colômbia 3,4%, o Uruguai 2,3% — e nos superam até na vontade de parecer perigosos. O Senado, de modo comovente, aprovou R$ 5 bilhões extras, o suficiente para pintar meia dúzia de blindados com tinta fosca e fingir dissuasão. Talvez falte mesmo não dinheiro, mas coragem para admitir que o inimigo está menos nas fronteiras e mais nas planilhas. E, claro, nos próprios quartéis.
Neymar, o eterno adolescente de chuteira: pai procura contrato, filho procura convocação, e o Santos procura paciência
A cena é sempre a mesma: Neymar Pai desembarca na Vila Belmiro como quem visita um antigo amor que ainda guarda a foto do casamento na parede. Quer renovar o contrato do filho, que expira em dezembro. O problema é que o Santos parece ter evoluído mais emocionalmente do que o craque. O clube já não demonstra aquele desespero por um retorno que vem e não vem, tipo ex-namorado tóxico. Neymar, por sua vez, talvez já tenha entendido que Carlo Ancelotti não pretende convocá-lo para a Copa — o treinador italiano, dizem, prefere jogadores que não transformem o vestiário em um episódio de De Férias com o Ex. O “Menino Ney” amadureceu, dizem alguns, só não se sabe em que planeta. Enquanto isso, o pai negocia, o filho publica stories e o Santos calcula se vale o show midiático por mais seis meses de circo. O Brasil, que aprendeu a confundir talento com eternidade, assiste ao drama: o jogador que queria ser rei do futebol virou um influenciador com lesões de roteiro e promessas de volta que nunca estreiam.
O Telefone Preto 2 liga de novo: o terror que o público atende de bom grado (porque é melhor que o noticiário)
O horror continua reinando — nas bilheterias e nas manchetes. O Telefone Preto 2, de Scott Derrickson, segue em primeiro lugar com R$ 4 milhões arrecadados, deixando para trás dramas, animes e comédias nacionais que mal atenderam à chamada. Ethan Hawke volta como o Sequestrador, e o público, como sempre, gosta de sofrer — desde que a dor venha com pipoca e Dolby Surround. O enredo dá um salto de quatro anos, mas a metáfora é atualíssima: traumas, pesadelos e telefonemas do passado que insistem em não morrer. O terror psicológico de Derrickson parece conversar com uma plateia cansada de sustos reais: inflação, política, e boletos que também tocam à meia-noite. No Brasil, onde o noticiário diário faz Invocação do Mal parecer A Casa do Mickey Mouse, o público parece preferir o susto roteirizado. Afinal, é mais fácil encarar o vilão mascarado do que o espelho de cada dia.

O Rio de Janeiro mergulha no inferno: operação contra o CV vira guerra urbana e bate recorde de mortos
Sessenta e quatro mortos, quatro policiais entre eles, oitenta e um presos. Esse é o saldo da mais letal operação da história do Rio. As forças de segurança decidiram enfrentar o Comando Vermelho com 2.500 agentes, 75 fuzis apreendidos e nenhuma estratégia capaz de impedir que a cidade virasse um campo de batalha. Barricadas, drones lançando bombas, tiroteios de um minuto com 200 disparos — parece cena de filme, mas é a terça-feira fluminense. A retaliação do tráfico foi cinematográfica; a resposta do Estado, previsível. O governador fala em “vitória da lei”, enquanto o cemitério ganha novos moradores. O Rio, esse laboratório da falência nacional, repete a mesma tragédia com novos números e velhas desculpas. Cada megaoperação é um déjà vu de sangue, um espetáculo de improviso com roteiro conhecido: o crime se reorganiza, a polícia recarrega, e o morro segue ardendo. No fim, sobra a pergunta que ecoa entre os tiros: quem, afinal, governa quem?
29 de outubro de 1969: um fio elétrico, duas máquinas, e o nascimento do vício mundial chamado Internet
Há 56 anos, dois computadores resolveram conversar pela primeira vez. O diálogo foi curto — um “LO” antes do sistema travar —, mas suficiente para mudar a humanidade. Nascia ali a ARPANET, o embrião da Internet. O planeta ganhou um cérebro coletivo, e também uma compulsão global: a de clicar, curtir e xingar. O que começou como projeto militar virou parque de diversões e campo de batalha, oráculo e tribunal, confessionário e paredão. Do “LO” inicial vieram o “LOL”, o “WTF” e a overdose de selfies. Hoje, a rede é o divã do mundo, o espelho da nossa ansiedade e a vitrine das nossas vaidades. O que antes conectava mentes agora desconecta afetos. O mesmo fio que uniu o planeta também amarrou o ser humano à tela. Se a ARPANET soubesse o que criou, talvez tivesse desligado o cabo e ido tomar um café offline.

Eduardo Bolsonaro entra para o SPC da República: do pistolão à inadimplência patriótica
O deputado Eduardo Bolsonaro agora ostenta um novo título: o de devedor da União. A Câmara o incluiu no Cadin por R$ 13,9 mil — valor referente a quatro faltas injustificadas em março, quando o parlamentar já curtia o sol da Flórida enquanto o país pegava fogo. É o primeiro caso de um “liberal” que deve ao Estado porque não foi trabalhar no Estado. A ironia é irresistível: o filho do ex-presidente, que prega disciplina e combate aos parasitas do sistema, virou inadimplente da própria máquina pública. A Casa tentou descontar o valor do salário, mas, pasmem, não havia saldo. O parlamentar, que faltou a 40 das 55 sessões do ano, pode até perder o mandato — embora o Congresso, generoso, só vá decidir isso em 2026. Até lá, Eduardo segue firme na defesa da liberdade de não comparecer. É o novo liberalismo tropical: menos Estado, menos presença, mais fatura em aberto.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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