Bares e restaurantes sofrem com inflação
Em abril, o setor de bares e restaurantes voltou a sentir o peso da inflação de forma mais intensa que o restante da economia. Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) geral do país avançou 0,43% no mês, a alimentação fora de casa subiu 0,80%, marcando o 41º mês seguido de aumento — uma sequência que começa a parecer crônica e revela desafios persistentes no setor de serviços.
Segundo a pesquisa da Associação Nacional de Restaurantes (ANR) em parceria com a Future Tank, com base nos dados do IBGE, essa disparidade entre a inflação setorial e o índice geral é sinal de que há forças estruturais ainda desbalanceadas. E não se trata apenas de aumentos pontuais: no acumulado do ano até abril, a alimentação fora do lar já teve alta de 2,70%, contra 2,48% do IPCA nacional.
“Nesse sentido, as demandas da ANR por reformas estruturantes e medidas de estímulo ganham legitimidade. No entanto, é preciso ir além dos discursos e buscar saídas práticas.”
Há algo errado quando comer fora, prática comum nas rotinas urbanas e nas cidades com turismo ativo, se torna um item de luxo gradual. As altas mais expressivas em abril ocorreram em produtos considerados “complementares” ou de indulgência, como vinho (+3,88%) e sorvete (+3,28%). Mesmo o café — um hábito quase inegociável para muitos brasileiros — ficou 1,79% mais caro. Por outro lado, o ritmo de alta foi mais contido em itens como refrigerantes (+0,26%) e outras bebidas alcoólicas (+0,18%).
O levantamento aponta que 15 das 16 unidades da federação pesquisadas registraram inflação para alimentação fora do lar. A exceção foi o Pará, onde houve uma discreta deflação de 0,20%. Nas demais, as altas foram robustas. Mato Grosso do Sul liderou com 1,49% de aumento, seguido de Goiás (1,26%) e Espírito Santo (1,21%). Esses números não devem ser vistos como meras variações locais. Eles indicam o quanto o modelo de fornecimento e logística de alimentos ainda é sensível a choques de custo e, muitas vezes, pouco resiliente.
Pressão regional e fragilidade do modelo atual
A logística de abastecimento é uma das grandes vilãs apontadas pelos especialistas. Em um país de dimensões continentais, o custo do transporte, impactado por combustíveis, pedágios e infraestrutura precária, repassa diretamente aos preços finais. Além disso, o aumento no valor de insumos básicos, muitos ainda afetados por oscilações cambiais ou por cadeias de suprimentos fragilizadas, também pressiona a conta.
A fala de Fernando Blower, diretor executivo da ANR, é ilustrativa do impasse: o setor tenta equilibrar competitividade com rentabilidade, mas, diante da pressão de custos, ambos acabam comprometidos. O resultado? Uma experiência cada vez mais cara para o consumidor e margens apertadas para o empresário.
Outro ponto relevante é a dificuldade de repassar preços em um ambiente de demanda ainda frágil. Muitos brasileiros seguem com o orçamento doméstico comprimido, e decisões de consumo acabam refletindo esse aperto. Optar por cozinhar em casa, algo que durante a pandemia virou necessidade, segue sendo uma alternativa mais econômica — e, por enquanto, mais previsível em termos de custos.
É necessário reconhecer que bares e restaurantes não apenas oferecem produtos, mas também experiências. São espaços de sociabilidade, lazer e, em muitos casos, de identidade cultural. Quando esses ambientes começam a se tornar financeiramente inacessíveis para boa parte da população, o impacto não é apenas econômico, mas também social. Trata-se de um tipo de exclusão silenciosa, mas persistente.

Nesse sentido, as demandas da ANR por reformas estruturantes e medidas de estímulo ganham legitimidade. No entanto, é preciso ir além dos discursos e buscar saídas práticas. Reduzir o peso da carga tributária sobre alimentos, fomentar cadeias de abastecimento regionais mais eficientes e estimular o uso de tecnologias para controle de perdas e otimização de processos são caminhos possíveis — mas exigem coordenação entre setor privado e poder público.
O fato de o setor gerar milhões de empregos e movimentar uma ampla cadeia de serviços auxiliares (da produção agrícola à limpeza urbana) deveria ser suficiente para colocá-lo no centro de políticas econômicas mais abrangentes. Mas, até agora, as respostas institucionais têm sido tímidas.
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