Beleza inclusiva: representação no mercado
A indústria da beleza sempre operou dentro de padrões excludentes, ditando regras que marginalizavam corpos, tons de pele e traços fora da norma eurocêntrica. Durante décadas, as prateleiras eram dominadas por produtos que atendiam apenas um grupo seleto de consumidores, ignorando a diversidade existente na sociedade. No entanto, nos últimos anos, a pressão dos consumidores e as mudanças socioculturais têm obrigado as marcas a repensarem sua abordagem.
A beleza inclusiva se tornou uma pauta urgente, impulsionada por movimentos sociais, novas políticas corporativas e, principalmente, pelo impacto do digital. As redes sociais, em especial, desempenharam um papel crucial ao dar voz a grupos historicamente ignorados, forçando empresas a responderem a novas demandas. A inclusão não é apenas uma questão ética, mas também financeira: marcas que investem em diversidade costumam ser mais bem recebidas pelo público e conquistam maior fidelidade.
Contudo, a questão da representatividade no mercado da beleza não se resume apenas à ampliação de tons de base ou à inclusão de modelos de diferentes perfis. O problema é estrutural, envolvendo desde os processos de formulação dos produtos até a presença de diversidade nas campanhas publicitárias e na liderança das empresas. Algumas marcas fazem mudanças superficiais para capitalizar sobre a tendência, sem um compromisso real com a inclusão.
Diante desse cenário, é necessário um olhar crítico sobre as iniciativas adotadas pelas empresas, analisando se há, de fato, uma transformação na forma como a beleza é representada e consumida.
A evolução da diversidade na indústria da beleza
A indústria da beleza passou por uma transformação significativa nos últimos anos, mas a mudança foi tardia. Durante boa parte do século XX, os produtos eram voltados majoritariamente para consumidores brancos, desconsiderando as necessidades de outros grupos. O cenário começou a mudar com o surgimento de marcas independentes que desafiaram esse monopólio e provaram que a diversidade gera lucro. Empresas como Fenty Beauty, criada por Rihanna, mostraram que oferecer uma cartela ampla de cores não era um diferencial, mas uma necessidade. Grandes conglomerados seguiram essa tendência, expandindo seus portfólios. No entanto, apesar dos avanços, muitas marcas ainda fazem inclusão de forma superficial, sem representatividade genuína em sua cadeia produtiva.
O impacto das redes sociais na cobrança por inclusão
As redes sociais desempenharam um papel crucial na promoção da beleza inclusiva. Com consumidores cada vez mais vocalizando suas demandas, empresas que não se adaptam são rapidamente expostas. Influenciadores da diversidade ganharam força, amplificando vozes antes marginalizadas e promovendo discussões sobre racismo, gordofobia, etarismo e outras formas de exclusão. Campanhas que não representam a pluralidade da sociedade são alvo de críticas instantâneas, gerando crises de imagem para marcas que insistem em padrões antiquados. Essa pressão online não apenas muda o comportamento das empresas, mas também fomenta a ascensão de novas marcas comprometidas com a inclusão desde a sua fundação.

Representatividade além das campanhas publicitárias
Embora muitas empresas tenham incorporado diversidade em suas campanhas publicitárias, a inclusão real vai muito além da escolha de modelos variados. O problema começa na falta de diversidade nos bastidores, com a ausência de profissionais negros, indígenas, gordos e trans em cargos de liderança e desenvolvimento de produtos. Muitas marcas utilizam representatividade apenas como estratégia de marketing, sem mudanças concretas em suas estruturas. Para que a beleza inclusiva seja genuína, é fundamental que a diversidade esteja presente desde a concepção dos produtos até as decisões estratégicas das empresas.
O mercado de luxo e a resistência à inclusão
O segmento de beleza de luxo ainda apresenta resistência em abraçar a diversidade. Enquanto marcas populares têm avançado na inclusão, muitas grifes renomadas continuam presas a padrões elitistas e excludentes. A falta de variedade em tons de base, a escassez de produtos para diferentes tipos de cabelo e a escolha de modelos padrão em desfiles e campanhas mostram que a inclusão no mercado premium ainda caminha a passos lentos. Algumas empresas fazem ações pontuais para agradar o público, mas sem compromisso contínuo. Essa resistência demonstra que, para muitas marcas de luxo, a inclusão ainda é vista como um risco, e não como uma evolução necessária.
Inclusão de pessoas com deficiência na indústria da beleza
Um dos aspectos mais negligenciados da beleza inclusiva é a acessibilidade para pessoas com deficiência. Poucas marcas investem em embalagens adaptadas, como frascos fáceis de abrir para quem tem dificuldades motoras, ou em produtos com texturas e aplicadores pensados para esse público. Além disso, a presença de pessoas com deficiência em campanhas ainda é mínima, reforçando a ideia de que elas não são parte do mercado consumidor. A falta de acessibilidade nos pontos de venda também limita o consumo, criando barreiras que poderiam ser facilmente superadas com investimentos estratégicos. Para que a inclusão seja completa, é essencial que a indústria leve em conta todas as formas de diversidade, e não apenas aquelas que geram maior visibilidade.
O perigo do “pinkwashing” e da falsa inclusão
Com o crescimento da demanda por representatividade, muitas empresas passaram a utilizar a inclusão como estratégia de marketing, sem um compromisso real com a causa. O chamado “pinkwashing” ocorre quando marcas lançam campanhas superficiais sobre diversidade sem mudanças estruturais. Um exemplo comum são empresas que promovem a beleza natural, mas continuam vendendo produtos que reforçam padrões inatingíveis. Da mesma forma, algumas marcas exaltam a inclusão LGBTQIA+ apenas no mês do orgulho, sem iniciativas concretas ao longo do ano. Esse tipo de estratégia tende a ser percebido pelos consumidores, que buscam cada vez mais transparência e autenticidade nas ações empresariais.

O futuro da beleza inclusiva: tendência ou mudança real?
A beleza inclusiva deve ser mais do que uma tendência passageira. O futuro da indústria depende da capacidade das marcas de compreenderem que a diversidade é uma realidade e não um nicho de mercado. O avanço das regulamentações, a pressão dos consumidores e o surgimento de novas gerações mais conscientes fazem com que a inclusão deixe de ser opcional. Empresas que resistirem a essa transformação correm o risco de perder relevância e mercado. Para que a mudança seja efetiva, é necessário um compromisso real com a representatividade, desde a formulação dos produtos até a liderança das corporações. A inclusão na indústria da beleza não deve ser apenas uma resposta à demanda, mas uma reformulação estrutural do que significa ser belo em uma sociedade plural.
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