Kim Kardashian, Saci, Gayer…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Aneel acende a vela, reza por chuva e nos manda a conta: Brasil mergulha na bandeira vermelha e confirma que até o céu entrou no ajuste fiscal
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou o que já se tornara ritual mensal: bandeira tarifária vermelha, patamar 1. Traduzindo do burocratês elétrico, significa que a natureza falhou, a gestão falhou e o consumidor vai pagar por isso com R$ 4,46 extras a cada 100 kWh. Tudo porque os reservatórios estão tão secos quanto a paciência do brasileiro — 44,6% no Sudeste-Centro-Oeste e 48,96% no Nordeste, os piores índices em três anos. A meteorologia agora virou política pública: se chover, o governo respira; se não chover, entra o patamar 2 — aquele com gosto de derrota hídrica e preço de ouro líquido (R$ 6,24/100 kWh). A Aneel diz que o país está em “estado hidrológico de atenção”, mas já parece um estado de resignação permanente. Ironia final: depois de tantas promessas de matriz limpa, o Brasil continua sendo o único país em que a eletricidade depende do humor das nuvens e das rezas do consumidor.
COP30 chega a Belém e derruba preços de hospedagem: ironia climática ou o Airbnb descobrindo que a Amazônia também tem teto?
Os preços dos imóveis e hospedagens em Belém despencaram 47% às vésperas da COP30, segundo o Airbnb. Parece que até o mercado imobiliário paraense entrou em modo sustentável. Em fevereiro, os anfitriões pediam cifras de hotel em Dubai; agora, oferecem desconto de desespero com vista para o mangue. São 315 propriedades disponíveis por até R$ 5 mil durante todo o evento — uma pechincha para quem vai discutir a salvação do planeta em ar-condicionado. Para os mais abastados, há opções de R$ 10 mil, porque a elite verde também gosta de travesseiro de pena orgânica. A ironia é irresistível: Belém se prepara para receber os arautos do clima e, de repente, o capitalismo local percebe que o calor úmido e o açaí de verdade não valem tanto quanto o storytelling da sustentabilidade. No fundo, a COP30 já provou algo: o mercado é o mais rápido a se adaptar às mudanças climáticas — pelo menos às de oferta e demanda.
Kim Kardashian declara que a ida do homem à Lua foi falsa e confirma que a pós-verdade agora tem contorno labial e filtro vintage
Durante o último episódio de The Kardashians, Kim Kardashian decidiu que o pouso na Lua foi uma encenação — e o mundo descobriu que a estupidez é um recurso renovável. No set da série All’s Fair, ela tentou convencer Sarah Paulson de que Neil Armstrong nunca deu aquele pequeno passo. “Eu sempre me envolvo em teorias da conspiração”, disse, como se isso fosse uma credencial acadêmica. A NASA respondeu, pacientemente, que o homem foi à Lua seis vezes — e que pretende voltar sob o comando de Donald Trump, o que, convenhamos, é um argumento ainda mais assustador. A confusão de Kim vem de um vídeo antigo de Buzz Aldrin, mal interpretado, sobre animações usadas em 1969. Mas para quem vive de reels, tudo vira ficção mesmo. A celebridade que já vendeu “transparência emocional” por streaming agora vende negacionismo lunar com acabamento de iluminador facial. É o triunfo da selfie sobre o telescópio.

Moraes nega visita de Gayer a Bolsonaro e prova que até o cárcere domiciliar tem fila VIP (mas sem o ingresso da delinquência política)
Alexandre de Moraes negou, pela segunda vez, o pedido de visita do deputado Gustavo Gayer ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar — o Airbnb mais caro da República. O ministro justificou que Gayer é investigado em inquérito conexo, o que seria como permitir que cúmplices trocassem receitas de golpe no café da tarde. Bolsonaro, porém, poderá receber Nelson Piquet, Altineu Côrtes e Alberto Fraga — uma mistura de Fórmula 1, fisiologismo e fidelidade partidária. Enquanto isso, Gayer conseguiu a suspensão do processo que o acusava de calúnia e injúria contra o senador Vanderlan Cardoso, graças a um “ato de coleguismo” da Câmara. É a prova de que o Congresso continua confundindo imunidade parlamentar com impunidade hereditária. Moraes, por sua vez, virou síndico de um condomínio moral em chamas, administrando com rigor jurídico o que sobrou da ética nacional. O Brasil, sempre fiel à sua comédia, segue entre o despacho e o deboche.
Halloween e Dia do Saci: o Brasil celebra o folclore alheio enquanto o próprio se esconde no mato esperando ser lembrado
Chegou o 31 de outubro: dia em que crianças brasileiras saem fantasiadas de monstros americanos e os adultos fingem lembrar que o Saci existe. É o embate anual entre o “trick or treat” e o “perna só”, em que o folclore nacional perde para o marketing importado. O governo tenta equilibrar a balança, decretando o “Dia do Saci” — mas ninguém sabe onde comprá-lo, já que ele não tem licenciamento da Disney. No fundo, o Halloween triunfa porque oferece o que o brasileiro adora: doce, fantasia e uma boa desculpa para fugir da realidade. Enquanto isso, o Saci continua marginalizado, símbolo de um país que renega sua própria imaginação. E pensar que o Halloween é sobre fantasmas, mas o verdadeiro fantasma é o apagamento cultural. Moral da história? O folclore brasileiro não precisa de vassoura: já foi varrido há tempos.

Lewandowski envia peritos ao Rio após 120 mortos e anuncia lei antifacção: Brasil tenta fazer necropsia em si mesmo
Após a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou mais de 120 mortos, o ministro Ricardo Lewandowski prometeu enviar 20 peritos da Polícia Federal para “acelerar as investigações”. Traduzindo: o governo vai investigar o que o próprio Estado matou, só que com mais papel timbrado. A medida vem junto com a promessa do “Projeto de Lei Antifacção”, que pretende “descapitalizar o crime” — frase bonita que soa como promessa de banqueiro arrependido. O texto prevê até 30 anos de prisão e a criação de um “Banco Nacional das Organizações Criminosas”, o que soa como o LinkedIn do submundo. Lewandowski tenta transformar o caos em protocolo, mas o país parece condenado a essa coreografia macabra: chacina, coletiva, promessa, e silêncio. O Rio virou laboratório da tragédia, e Brasília, o seu estagiário jurídico. O governo fala em “celeridade”, mas o Brasil segue atrasado no quesito humanidade.
Tarifas, Sam Smith, Bolcheviques...
novembro 7, 2025PCC, Claudio Castro, Morrissey...
novembro 6, 2025Dick Cheney, Obama, aéreas...
novembro 4, 2025Magna Fraus, Laika, CPI...
novembro 3, 2025Nicolau II, Geração X, F-35...
novembro 1, 2025PL, Ciro Gomes, Tsar Bomba...
outubro 30, 2025ARPANET, CV, Telefone Preto 2...
outubro 29, 2025Cosan, Lionel Messi, Radiohead...
outubro 28, 2025Bradesco, semicondutor, PT...
outubro 27, 2025A380, Penélope Nova, NBA...
outubro 25, 2025ONU, Tupac, F1...
outubro 24, 2025Fux, extradição, La Santé...
outubro 23, 2025
Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




Facebook Comments