Lil Nas X, Jonestown, Metarhizium…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
STF, agrotóxicos e a Constituição como peça decorativa de mesa
Enquanto o país tenta descobrir se come ou se vira fazenda de vez, o STF empurra para o fim do mês o julgamento sobre a constitucionalidade dos benefícios fiscais dados a agrotóxicos. É aquela novela nacional: de um lado, PSOL e PSB alegam que reduzir ICMS e zerar IPI para produtos tóxicos não combina com o artigo que fala em “meio ambiente equilibrado”; do outro, o agronegócio garante que sem veneno não tem pão — e sem pão não tem nação. Governos estaduais, sempre atentos à “saúde” fiscal, defendem que abrir mão de impostos é investimento estratégico no futuro (do quê, exatamente, ninguém especifica). Enquanto isso, os defensivos agrícolas seguem mais subsidiados que saúde mental no SUS, e o consumidor continua cheio de fé, rezando para que o alface lave os pecados de tudo o que veio antes. A Corte, com seu tradicional apreço pelo tempo geológico, julga calmamente o tema que decide se a salada do brasileiro será temperada só com azeite ou também com um pouco de química fina.
Diplomacia gourmet: a cruzada brasileira pela exportação de frango em tempos de tarifaço
O Itamaraty e o Ministério da Agricultura montam uma caravana de boa vontade — e peito de frango — rumo à Ásia, mirando novos mercados, como o sempre exótico Paquistão. Depois da tour presidencial por Indonésia e Malásia, e do acordo para vender frango aos malaios, o Governo e os frigoríficos correm para compensar o tarifaço de Trump, que tratou o Brasil como aquele primo distante com quem ele finge não ter parentesco. A missão mistura geopolítica com culinária: abrir mercados, garantir divisas e provar que, se o Brasil não é uma potência militar, pelo menos é uma potência frangueira. Diplomatas afinam discursos, empresários engraxam sapatos e todos ensaiam o mantra moderno do agronegócio: “É do Brasil, mas não tem nada a ver com desmatamento, tá bom?”. A meta é manter o frango desfilando nos freezers globais enquanto o país tenta se equilibrar entre a demanda internacional e a eterna ressaca da política comercial americana.
Lil Nas X, justiça e o espetáculo paralelo da cultura pop jurídica
O mundo pop voltou a encontrar seu tribunal preferido. Lil Nas X, ou Montero Hill para os íntimos do cartório, compareceu sorrindo à audiência na Califórnia, após sua prisão em agosto e o misterioso período em tratamento intensivo não revelado — porque celebridade boa é celebridade enigmática. A acusação? Agressão a três policiais durante um episódio às 5h40 da manhã, na Ventura Boulevard, quando ele supostamente perambulava nu, como quem faz performance conceitual sem avisar a polícia. O advogado garante que Montero está “ótimo”, o que, na linguagem jurídica do showbiz, significa algo entre “respirando bem” e “preparado para o Grammy”. O caso, que envolve possível overdose, vídeo de desculpas no Instagram e detalhes lacrados pela juíza, é um excelente lembrete de que estrelas pop continuam funcionando como espelhos quebrados da sociedade: brilham, cortam e refletem mais do que deveriam. Nova audiência em março — mais uma temporada garantida.

Jonestown, 47 anos depois: a cicatriz que ainda assombra
Em 18 de novembro de 1978, Jim Jones e seu Templo do Povo transformaram Jonestown, na Guiana, no palco do maior assassinato-suicídio em massa da história contemporânea. Mais de 900 mortos — um número tão absurdo que parece ficção, mas é só humanidade em sua versão hardcore. Jonestown virou metáfora, virou estudo de caso, virou alerta sobre líderes carismáticos que prometem mundos, fundos e o paraíso servido em copo de plástico. Hoje, quase meio século depois, o episódio segue lembrado como o auge da manipulação emocional, da obediência cega e do desastre coletivo embalado em discurso de salvação. A data não desperta apenas memória histórica: ela incomoda, lateja, reaparece sempre que alguém tenta explicar por que pessoas inteligentes podem seguir cegamente alguém — ou alguma coisa. Jonestown é a prova de que o apocalipse não precisa de meteoros; basta um microfone, convicção e seguidores famintos por sentido.
O fungo perfumado que seduz mosquitos e salva vidas (e os perfumes, talvez)
Pesquisadores da Universidade de Maryland criaram um fungo modificado do gênero Metarhizium que exala um aroma doce à base de longifolene — o mesmo composto usado em perfumes humanos — para atrair e matar mosquitos transmissores de dengue, malária e zika. É basicamente um “Eau de Déu à Morte Natural”. A novidade chega em ótima hora: inseticidas químicos estão ficando tão inúteis quanto promessa de campanha. O fungo, seguro para humanos e cultivável até em fezes de galinha, mata de 90% a 100% dos mosquitos em laboratório, mesmo competindo com cheiros naturais. O truque biológico é tão engenhoso que desafia até a evolução: se os mosquitos passarem a ignorar o perfume, também ignorariam flores — e morreriam de fome. É raro ver a natureza assinando seu próprio contrato de derrota. O próximo passo são testes em campo e adaptações para outros aromas florais, porque até mosquitos têm preferências olfativas.

Flávio Bolsonaro, o herdeiro (ou substituto) do conservadorismo órfão
Com Jair Bolsonaro à beira de uma possível prisão e Eduardo Bolsonaro em modo “youtuber independente nos EUA”, Flávio Bolsonaro assume, quase por gravidade geopolítica, o posto de principal nome da direita para 2026. Não por aclamação — mas por falta de alternativas maduras e palatáveis ao centrão. Eduardo virou um francotirador digital, atacando governadores e se afastando de qualquer coordenação estratégica. Michelle, a joia do marketing cristão, mira o Senado. E Tarcísio de Freitas, o ungido que nunca quis ser ungido, deve encontrar Bolsonaro em dezembro para conversas que não vão anunciar nada além de incertezas polidas. Enquanto isso, Flávio dialoga com Ciro Nogueira, União Brasil e meia Brasília, tentando consolidar alianças como quem monta Lego sem manual. Seu papel cresce na medida em que a situação jurídica do pai degringola — prova de que, na política brasileira, o vácuo nunca fica vazio; ele escolhe um Bolsonaro para ocupar.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.
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