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O design autêntico do arquiteto Pedro Franco

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Considerado uma das estrelas do design brasileiro, o arquiteto Pedro Franco acumula diversos prêmios e está à frente da A Lot of Brasil. Como designer foi premiado em alguns importantes concursos nacionais como Brasil Faz Design e Abimovel, e participou de importantes conferências de design como: Torino Design Week (convidado por Vanni Pasca) ou no Salão Internacional do Móvel 2012 (sob convite de Marva Griffin). Em 2009 foi curador da Exposição Brasil é Cosi ocorrida como “Manifestazione Fuori Salone”. Também organizou o Bric Design Awards concurso internacional junto a Revista Casa Cláudia. “Um designer precisa ser curioso na essência. Precisa ser questionador. Para tanto é fundamental a construção de uma base. Imersão em exposições de todos os gêneros: pintura, design, música, fotos. Por outro lado, o designer desenvolve produtos para pessoas e sendo assim é fundamental destinar um tempo à cidade, criando interlocução e observando pessoas de todas as diferentes tipologias. Minhas viagens, meus passeios por todos os cantos de São Paulo, a troca com artesão ou com outros artistas me alimentam. Observar uma cenografia de um teatro ou cinema, prestar atenção a letra de uma música, ou em detalhes da cidade. Itens que alimentam e que viram bases para uma criação verdadeira”, afirma um dos designers mais respeitados e admirados do Brasil.

Pedro, o que é essencial na vida de um designer?

Um designer precisa ser curioso na essência. Precisa ser questionador. Para tanto é fundamental a construção de uma base. Imersão em exposições de todos os gêneros: pintura, design, música, fotos. Por outro lado, o designer desenvolve produtos para pessoas e sendo assim é fundamental destinar um tempo à cidade, criando interlocução e observando pessoas de todas as diferentes tipologias. Minhas viagens, meus passeios por todos os cantos de São Paulo, a troca com o artesão ou com outros artistas me alimentam. Observar uma cenografia de um teatro ou cinema, prestar atenção a letra de uma música, ou em detalhes da cidade. Itens que alimentam e que viram bases para uma criação verdadeira.

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O que um design deve ter além de forma e função?

Não acredito apenas na forma e função. Hoje em dia o mundo não precisa apenas de mais uma cadeira, de uma poltrona. É necessária a concepção de objetos ou móveis que emocionem, que tragam um algo a mais. Inclusive este é o principal fator de sustentabilidade. Bons produtos, com verdadeiros discursos são atemporais. Um produto criado com valores de alma, são distantes de modismo, de intenção rápida de consumo e sendo assim perduram no decorrer dos anos.

Não tenho pressa em criar. Bons produtos levam tempo para serem feitos. Meus produtos são sempre revisitados, mesmo que desenhados há 20 anos. Na última edição do Salão do Móvel reapresentei uma nova versão de minha Poltrona Supernova, que anteriormente foi apresentada no Salão de Milão em 2002. Hoje tenho novos recursos, novas possibilidades produtivas, e sendo assim é plenamente necessário revisitar as criações. Talvez daqui a 10 anos a Cadeira Esqueleto, se justifique em ganhar um redesenho por novas tecnologias que vêm por aí (inteligência artificial, impressoras 3D com maiores recursos, etc). Em resumo, por trás de cada produto deve haver um manifesto, uma alma, uma história única.

Muitos falam que o seu trabalho é irreverente. Em que momento você acredita que conseguiu encontrar essa irreverência e anexá-la ao seu trabalho?

Desde sempre criei produtos baseados em uma ideia que me apaixonei. A mesma pode ter surgido a partir de um material, ou de um momento, ou de uma situação. Desta forma sempre me empenhei firmemente em produzir peças com um valor a mais. Nunca me restringi a função de uso. Encaro cada criação com o mesmo comprometimento do pintor com sua tela. Deve estar plena de simbolismos, manifestos, convicções. Talvez por isso 90% de minhas criações de 20 anos atrás, estão ainda em produção. Estes valores, transformam cada produto em único. Esta irreverência, expressada de diferentes maneiras demonstram o Pedro Franco daquele momento, minhas convicções congeladas no tempo. Por vezes eram valores antagônicos aos que carrego hoje.

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Quais os maiores pilares do seu trabalho em sua visão?

Procuro criar ícones, produtos que perdurem no decorrer do tempo (conforme citei acima). Não sigo modismos. Cada produto para ser verdadeiro, deve traduzir o contexto de sua criação: uma cidade, um país, uma cultura. Utilizo o design como plataforma para expressar meu contexto. Um design sobretudo emocional.

Quando se fala em design, muito é dito sobre a criatividade. Em que ponto fica a estratégia nesse ecossistema?

Tenho como clientes grandes indústrias de diferentes setores: cerâmica, melanina, tintas, tecidos. Para cada cliente, tenho de entrar na intimidade da empresa: target de público, diferenciais no quesito produtivo, política de pricing, fortalezas e fraquezas. São nortes que embasam o trabalho. Porém, o mundo se transformou na última década sobretudo pela aparição do player China. Produtos não devem mais apenas atender um briefing, e focar em sua funcionalidade. Como grande diferencial está a emoção. E desta forma mesmo as grandes empresas se preocupam muito em como emocionar seus clientes, como se comunicar e gerar identificação com os mesmos num mundo onde a comunicação mudou.

Talvez por isso meu estúdio tenha crescido muito nos últimos 5 anos. Porque a emoção é a base de meu trabalho há 20 anos. Porém, nestes casos é fundamental que esteja atrelada a uma estratégia, que gerem valores como storytelling, aumentem valor percebido, etc. Sou formado em arquitetura, tenho especialização em design, mas também fiz há alguns anos um curso de MBA Executive International (FIA); pois, sentia falta de mais informações para desenvolver o verdadeiro Design Estratégico. Hoje enquanto crio, procuro gerar (como sempre) emoção, mas a mesma está baseada num pensamento crítico e estratégico.

Leia ou ouça também:  A inspiração de Margot Takeda da A10- Ideias

Como a estratégia é utilizada pelas suas marcas?

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Cada marca é um personagem único, com necessidades e posicionamentos únicos. Procuro sempre tangenciar os valores básicos e intrínsecos do Pedro Franco Designer x Valores das Marcas. A intersecção entre os dois é que efetivamente trazem o novo, o diferencial. Não há uma regra. São trabalhos individuais. Sempre digo que é fácil criar um produto bonito, mas que a necessidade do design é ir muito além disso. Precisa enaltecer valores da marca, atender o uso e emocionar o usuário.

Por isso, apenas aceito clientes nos quais tenha uma plena sinergia, e que me deixem entrar na intimidade da empresa. A criação estética do produto é talvez inferior a 30% do processo criativo total. O mesmo deve estar atrelado a outros valores e perguntas. O que (valores) ele representa da empresa? Como será seu processo logístico? Como ele deve ser comunicado? Como ele deve ser exposto? Como ele gerará o valor percebido pelo público? E, além disso, tudo deve ter um algo a mais, deve emocionar, caso contrário não seria necessário um designer nessa cadeia.

Fale um pouco sobre as suas marcas A Lot Of Brasil e Skitsch.

A Skitsch foi uma marca italiana que eu trouxe e introduzi no Brasil. Foi uma importante escola de aprendizado. Uma marca italiana, com muita fantasia, bem comunicativa e com preocupação de como expor seus produtos. No entanto, em 2012 resolvi parar de importar e produzir em solo brasileiro. Foi aí que fundei a Indústria A Lot of Brasil. Uma indústria brasileira, que produz 100% em solo nacional, e que tem como pilar a pesquisa e o desenvolvimento de novos materiais. Uma marca que procura trazer o orgulho do Made in Brasil. Uma forma de nova antropofagia. Recebi inputs de designers italianos, belgas, indianos, eslovenos que pensaram novos produtos em função de meu briefing para ser produzidos no Brasil. Além de minhas peças como design brasileiro, é claro. O resultado disso veio de forma muito positiva.

A Lot of Brasil foi a 1.ª indústria da América Latina convidada a ter stand próprio dentro do Salão Internacional do Móvel de Milão (desde 2013). Abriu caminho para muitas outras empresas brasileiras que por lá se fazem presentes. Também temos matérias-primas patenteadas e exclusivas em todo o mundo. A Cadeira Esqueleto, é produzida a partir de resíduos de sementes de frutos brasileiros, injetados em um molde. Passou a ser o produto de alto design mais vendido e exportado do Brasil. Hoje sou convidado a palestrar sobre esse case em todo o mundo. Milão, Paris e Seul. Além disso, a peça faz parte do acervo do Vitra Schaudepot em função desse novo material.

O que elas têm em comum e que só você vê?

Ambas trabalham com designers globais, mas a produção é local.

Como a sustentabilidade está inserida em seu trabalho?

O primeiro ponto de sustentabilidade vêm da responsabilidade de se pensar o produto. Ele tem por que existir? É algo novo? Traz novos valores além de sua funcionalidade? São necessários processos produtivos responsáveis, mas para tanto é necessário investir em pesquisa e desenvolvimento. Assim que checamos na fórmula do material injetado na Cadeira Esqueleto (a partir dos resíduos de sementes de frutos brasileiros). O Brasil tem um potencial enorme no campo da sustentabilidade.

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É necessário investir em pesquisas. O uso de matérias sustentáveis é um substantivo, não um adjetivo. Porém, não podemos esquecer outro fator importante: o produto deve ser socialmente correto. De nada adianta eu produzir com matérias sustentáveis, mas vou produzir com comunidade local, exigindo que produzam do meu jeito, comprando o produto por X e vendendo o mesmo por 10x.

Por que você acredita nisso?

Acredito que o design pode ser uma plataforma de mostrar técnicas artesanais locais. Porém, exatamente como elas são. Como designer não posso interferir no modo de fazer de um artesão. O artesanato é um tesouro que atravessou os tempos e que faz parte de nossa cultura, da iconografia brasileira. Se modifico sua forma de fazer, ela perde a sua essência. Na comercialização acho que todas as partes da cadeia devem ganhar. Cada um com a parte criativa que lhe cabe. Como dizia o filósofo Victor Papanek: “A real importância do design é como ele se relaciona com as pessoas”.

Última atualização da matéria foi há 3 anos


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