TV 3.0, Milei, Saddam Hussein…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Sidney de Oliveira, Ultrafarma, Ricardo Nunes e a surpreendente arte de transformar aliados de ontem em objetos radioativos de hoje na vitrine do poder municipal paulistano
É fascinante ver como a política brasileira transforma apoios entusiasmados em constrangimentos tóxicos com a mesma velocidade com que uma aspirina se dissolve num copo d’água. Sidney de Oliveira, dono da Ultrafarma, foi de estrela da propaganda eleitoral de Ricardo Nunes a presença indesejada nas redondezas do gabinete do prefeito. A ponto de Nunes cancelar presença em evento do setor farmacêutico só para não cruzar com o agora maldito aliado. O motivo? Denúncias de um esquema de sonegação de impostos em conluio com auditores da Fazenda paulista — o tipo de trama que faria inveja a roteiristas de seriados sobre corrupção. Nunes, que um dia sorriu diante das câmeras ao lado de Oliveira, hoje evita até sombra do empresário, como quem foge de um resfriado em tempos de pandemia. O prefeito se comporta como se não conhecesse mais o homem que o ajudou na campanha. É o clássico “quem te viu, quem te vê”: em 2024, apoio explícito; em 2025, quarentena política. O curioso é que ninguém muda tão rápido de convicção: o que muda é a reputação do apoiador, que passa de pilar de campanha a trambolho incômodo. Nunes parece ter aprendido rápido a lição: em São Paulo, aliados úteis ontem viram esqueletos no armário amanhã. A farmácia popular da política é cruel, e seu princípio ativo é sempre a conveniência.
O café brasileiro, os Estados Unidos desesperados, a tarifa de 40% e a inesperada tragédia de um americano sem espresso matinal para postar no Instagram
Se os Estados Unidos gostam de posar como donos do mundo, deveriam ao menos respeitar quem fornece o combustível que move seus escritórios, podcasts e indignações nas redes sociais: o bom e velho café brasileiro. Nada menos que 32% do café verde consumido pelos americanos vem daqui — mais do que os outros quatro maiores exportadores juntos. Agora, com a tarifa de 40% sobre importações, os EUA arriscam viver o verdadeiro pesadelo: Starbucks sem estoque, executivos sem cafeína e influenciadores digitais tendo que trocar o espresso por chá gelado. O lobby americano do café já alerta para a tragédia econômica, porque sem o grão barato e abundante do Brasil, a roda do capitalismo americano gira mais lenta que reunião de condomínio. Colômbia, Vietnã e Honduras até tentam competir, mas ninguém abastece como o Brasil. É o tipo de ironia histórica que Marx aplaudiria: o império que dita regras comerciais depende da cafeicultura tropical para funcionar. Se o Brasil resolver redirecionar o café para outros mercados, os americanos vão descobrir que liberdade pode até vir com armas, mas produtividade só vem com cafeína. Quem diria: a revolução anti-hegemônica começa na xícara.

Bruce Willis, Emma Heming, Diane Sawyer e a cruel lembrança de que Hollywood pode até criar heróis eternos, mas a biologia não respeita contratos milionários de bilheteria
A esposa de Bruce Willis, Emma Heming, resolveu lembrar ao público que a vida real não tem final feliz garantido. Em entrevista a Diane Sawyer, ela contou que o ator convive com a demência frontotemporal, mas que, paradoxalmente, está com “uma saúde ótima no geral”. É um daqueles paradoxos que fariam Kafka sorrir: o corpo funciona, o cérebro falha. Bruce, eterno herói de ação, ainda se movimenta muito, mas a linguagem se apaga, obrigando a família a criar novas formas de comunicação. A confissão soa como roteiro de um drama intimista, mas é apenas o cotidiano brutal de uma família tentando se adaptar ao colapso de um mito. Hollywood vende a ilusão de eternidade; a vida, porém, entrega boletos, diagnósticos e adaptações dolorosas. O público, viciado em narrativas de superação, talvez espere um “grande retorno” de Willis — mas a realidade clínica não admite reprises. O que resta é uma lição amarga: até os heróis que salvavam o mundo precisam ser salvos, todos os dias, por famílias que aprenderam a falar sem palavras.
28 de agosto de 1990, Saddam Hussein, Kuwait anexado e o dia em que o Oriente Médio descobriu que as fronteiras são lápis de cera nas mãos de ditadores com tanques de guerra
Há 35 anos, Saddam Hussein resolveu brincar de arquiteto imperial e anexou o Kuwait, dividindo-o entre província e distrito batizado com seu próprio nome — Saddamiyat al-Mitla’. Foi um gesto de arrogância geopolítica que faria até Júlio César corar de inveja. O problema é que, diferentemente do Império Romano, o Iraque de 1990 não tinha condições de bancar o espetáculo. O resultado foi a Guerra do Golfo, com os Estados Unidos liderando a “coalizão dos bons” em nome do petróleo disfarçado de liberdade. Saddam acreditava que podia redesenhar o mapa à canetada; esqueceu que mapas modernos são controlados por quem tem aviões stealth, não apenas tanques enferrujados. A anexação do Kuwait entrou para a história como exemplo clássico de excesso de ambição e cálculo errado. Para os kuwaitianos, virou trauma nacional; para Saddam, prelúdio de sua queda. E para o mundo, mais uma prova de que no Oriente Médio, as linhas do mapa valem tanto quanto promessas de político em época eleitoral.
Javier Milei, pedras em carreatas, Cristina Kirchner acusada e o eterno espetáculo argentino em que política se confunde com luta livre improvisada em praça pública
A Argentina continua fiel à sua tradição de transformar campanhas eleitorais em episódios de reality show com pitadas de tragédia. Javier Milei precisou ser retirado às pressas de uma carreata depois que opositores atiraram pedras e garrafas contra sua comitiva. O presidente, sempre performático, acenava da caçamba de uma picape, cena digna de populismo vintage. Mas o roteiro desandou: correria, insultos, acusações a militantes ligados a Cristina Kirchner e um deputado fugindo de moto sem capacete — porque no caos argentino, até a fuga precisa ser cinematográfica. Milei, que se apresenta como libertário visionário, descobre que a realidade política do país se parece mais com um ringue improvisado em Lomas de Zamora. A imprensa descreve o tumulto como embate entre apoiadores e opositores, mas no fundo é a metáfora perfeita da Argentina: uma democracia onde o entusiasmo político se expressa não em votos, mas em pedradas. O episódio reforça a sensação de que, no teatro político argentino, todos os papéis são trágicos — menos o da plateia, que assiste incrédula, rindo para não chorar.
Lula, TV 3.0, compras no controle remoto e a ousadia de transformar o sofá do brasileiro em marketplace interativo com direito a quiz, anúncio e boleto na mesma tela
O presidente Lula assinou o decreto da TV 3.0 e promete que a televisão brasileira vai deixar de ser apenas passarela de novelas e telejornais para se tornar shopping center digital de última geração. Imagens em altíssima definição, som imersivo, interatividade digna de videogame e até a possibilidade de comprar panela antiaderente sem levantar do sofá. O sonho da publicidade virou decreto. Com a novidade, cada comercial pode se transformar em quiz interativo ou joguinho — quem sabe em breve o brasileiro possa matar tempo apostando quantas vezes o âncora do jornal falará “crise”. A propaganda direcionada, feita sob medida para região e perfil do telespectador, completa a transformação: adeus, comerciais genéricos de sabão em pó; olá, anúncios personalizados da pizzaria da esquina. É a fusão perfeita do consumo com o entretenimento. Resta saber se o telespectador, já soterrado por telas, vai querer mais uma que mistura novela, Big Brother e carrinho de compras. A revolução da TV 3.0 é promissora, mas também um lembrete cruel: no capitalismo moderno, até o sofá da sala virou prateleira.

Última atualização da matéria foi há 2 meses
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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