Zoe Martinez, Poupança, Texas…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Vereadora quer barrar Kanye West em São Paulo e propõe decreto por “Hel Hitler”: política municipal eleva delírio a patrimônio cultural imaterial da cidade
A vereadora Zoe Martinez, do Partido Liberal (e da ala do moralismo performático de auditório), quer tornar o rapper Kanye West — ou melhor, YE, sua persona metafísico-digital — persona non grata em São Paulo. A justificativa: a canção “Hel Hitler”, já apagada das plataformas após críticas generalizadas. Zoe viu na letra algo entre Wagner e WhatsApp, e decidiu que São Paulo precisa ser salva da arte… com um decreto legislativo. A volta de Kanye ao Brasil, marcada para 29 de novembro, virou o novo apocalipse pop-político da Câmara Municipal. Ignora-se que o sujeito não foi convidado por um secretário de cultura, mas por promotores de eventos privados — e que a cidade de São Paulo tem, digamos, outras prioridades. Mas Zoe achou um bom jeito de aparecer no Google Trends. Depois do PL das Carrapetas e do Dia do Antiesquerdismo Materno, nada mais impede o Legislativo municipal de virar um grande TikTok.
Charlize Theron denuncia machismo em Hollywood e prova que nem explosões de bilhões de dólares salvam mulheres de carreiras implodidas por bilheteria morna
Charlize Theron está para o cinema de ação como um meteorito para os dinossauros: inesperada, poderosa e subestimada. A atriz — já vencedora do Oscar e estrela de sucessos como Mad Max: Estrada da Fúria — resolveu escancarar uma verdade que só surpreende quem ainda acredita que Hollywood é meritocrática: quando um homem protagoniza um fiasco, ganha nova chance. Quando uma mulher o faz, ganha um tapinha nas costas e um convite para o Hallmark Channel. Enquanto Vin Diesel segue a todo vapor com Velozes e Furiosos 73, atrizes como Michelle Rodriguez ou a própria Charlize viram peças descartáveis. Os estúdios, claro, negam a discriminação com relatórios de inclusão ilustrados por PowerPoints em Comic Sans. Mas a indústria que faz da destruição de cidades um espetáculo ignora sistematicamente o talento feminino — a não ser que a atriz em questão esteja em uma roupa justa, de costas para a câmera e com um balde de pipoca nas mãos.
O imposto sindical e o Wall Street Journal nasceram no mesmo dia: um cobrando trabalhadores, o outro cobrando a realidade — e ambos continuam vivos
Em um 08 de julho como hoje, o Brasil de 1940 ganhava seu querido Imposto Sindical, aquele tributo involuntário que dizia: “trabalhador, você é livre para contribuir — ou não trabalhar mais”. Criado no Estado Novo, com Getúlio embalado por marchinhas e autoritarismo, o imposto virou símbolo de um sindicalismo que andava de mãos dadas com o Estado — e não com a base. No mesmo dia, mas em 1889, nascia o The Wall Street Journal, jornal que se especializou em traduzir o cinismo financeiro do planeta em linguagem de planilha. Um cobra do operário, o outro do investidor — e ambos, curiosamente, nunca saíram de moda. Um financiava churrascos e discursos de auditório; o outro, trilhões em crises e bolhas. Que ambos tenham sido gerados no mesmo calendário apenas confirma que o universo tem um senso de humor bastante contábil. E se hoje a cota obrigatória caiu, o espírito da cobrança continua. Um é retroativo. O outro, pré-pago.
Texas afunda em tragédia com 91 mortos por enchentes-relâmpago e o clima pergunta: quantas catástrofes precisam até alguém fechar a torneira do negacionismo climático?
O Texas, orgulho do conservadorismo yankee, está debaixo d’água — literalmente. As enchentes-relâmpago que elevaram o Rio Guadalupe em nove metros em duas horas já deixaram 91 mortos, e o número cresce como dívida estudantil. A Casa Branca fala em tragédia; o governador Greg Abbott prefere falar em “força do espírito texano” — aquele mesmo que se recusa a aceitar a existência de mudança climática até ser tragado por ela. O Camp Mystic, retiro cristão para meninas, foi devastado. Vinte e sete garotas e suas monitoras morreram. Mas o debate climático segue como assunto “polêmico”, enquanto os meteorologistas viram os novos profetas bíblicos. Tudo isso em pleno verão norte-americano, com temperaturas mais instáveis que os discursos do Partido Republicano. O Texas chora seus mortos, mas continua rindo do Green New Deal. Quando a água baixar, talvez sobre lama suficiente para construir uma consciência ambiental.
Poupança tem saldo positivo pelo segundo mês seguido e brasileiro prova que gosta de perder dinheiro, mas com estabilidade emocional e extrato em dia
A caderneta de poupança, esse dinossauro bancário que sobrevive à selva dos investimentos modernos, teve em junho um saldo positivo de R$ 2,1 bilhões. É o segundo mês seguido em que mais se deposita do que se saca, contrariando os quatro primeiros meses do ano. Mas a alegria é curta: no ano, o saldo ainda é negativo em R$ 49,6 bilhões. Com a Selic a 15% ao ano, deixar dinheiro na poupança é como guardar vinho caro no porta-malas: seguro, mas inútil. O brasileiro, no entanto, prefere a previsibilidade ao rendimento. E assim, entre a memória afetiva da caderneta azul e o medo de abrir uma conta numa corretora cheia de siglas, o dinheiro dorme — enquanto os bancos acordam lucrando. A poupança virou um cofrinho gourmet: bonito, confiável e ineficiente. Mas, no Brasil do susto inflacionário e da taxa bancária em dobro, há quem prefira perder pouco do que tentar ganhar algo.

Ataque de abelhas na França deixa feridos e prefeito culpa vespas asiáticas: entomologia urbana, paranoia rural e horror biológico se encontram em Aurillac
O horror zumbidor visitou a cidade de Aurillac, na França, onde um ataque de abelhas deixou 24 feridos, três em estado grave. O motivo? Segundo o prefeito, Pierre Mathonier, pode ter sido um confronto aéreo entre abelhas locais e vespas asiáticas, essas imigrantes aladas que aterrorizam colmeias francesas desde que cruzaram fronteiras sem passaporte. O ataque durou 30 minutos — tempo suficiente para a população redescobrir que a natureza não precisa de machetes ou metralhadoras para ser letal. As colmeias, instaladas no topo de um hotel, estavam lá havia dez anos. Só agora, com a chegada das vespas, viraram central de guerra biológica. O prefeito já cogita ações preventivas, como repelentes, telas ou quem sabe um acordo de paz interespécies. Enquanto isso, os franceses trocam o medo do terrorismo pelo temor do ferrão. No país que nos deu Voltaire, Camus e o croissant, agora reina o terror do zumbido.

Última atualização da matéria foi há 3 meses
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.
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