Nicolas Cage, Itália, reformas…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Donald Trump, Lula, Henrique Meirelles, Mario Garnero e a nova alquimia geopolítica: quando um afago na ONU vale mais que um jantar em Mar-a-Lago e lembra que diplomacia paralela é velha como o próprio Itamaraty
Na novela infindável da política internacional, nada é tão simbólico quanto um “afago” de 39 segundos no corredor da ONU. A imagem: Trump, bronzeado e performático, cumprimentando Lula com aquela aura de magnata que descobriu a empatia tardia. Só que, como diria Maquiavel, é preciso ver o que não está sendo mostrado. Por trás do aperto de mão, há uma diplomacia paralela operando – e ninguém menos que Henrique Meirelles e Mario Garnero, esses dois sacerdotes da conciliação improvável, mexendo os cordões. Ambos têm experiência em levar mensagens do Brasil a republicanos hostis, criando um cordão umbilical entre o pragmatismo financeiro de Wall Street e o populismo de Washington. Há um déjà vu de 2002 no ar, quando Garnero guiava Lula e José Dirceu entre cocktails e apertos de mão em Beaver Creek. O roteiro se repete: Trump bate, Lula cresce; Lula cresce, Trump recalcula. Talvez a “química” seja só física política pura – carga positiva atraindo negativa – ou talvez seja o prenúncio de negociações para desmontar sobretaxas e, quem sabe, aliviar as sanções sobre nomes do STF. E se Steve Bannon e seus satélites brasileiros erraram o cálculo, talvez tenham dado um tiro no pé — ou um pouco acima, em parte sensível, como disse Jorio Dauster. De qualquer modo, a roda gira. Nietzsche ficaria satisfeito: o eterno retorno da diplomacia de bastidores segue firme.
Eduardo Bolsonaro, Hugo Motta, Carol de Toni e a dança das cadeiras na Câmara: quando o posto de líder da minoria é o green card não escrito do bolsonarismo exilado nos Estados Unidos
Eduardo Bolsonaro sonhava com um trono menor, mas estratégico: a liderança da minoria na Câmara, uma espécie de “franquia” do bolsonarismo dentro do Congresso. Só que Hugo Motta jogou água gelada no sonho. O deputado da Paraíba disse não, deixando Eduardo de mãos abanando e, possivelmente, de malas prontas para Miami sem cargo de líder para justificar a estadia. Carol de Toni pode voltar ao posto ou um nome novo pode surgir, mas o vexame político já está feito. Para piorar, Eduardo teve de assistir ao seu ídolo Trump trocar salamaleques com Lula em Nova York, um sinal de que até o Capitólio aceita a realpolitik. Mas, como bom filho do mito, preferiu declarar que tudo era “estratégia calculada” do ex-presidente americano. Ah, claro, “estratégia” — daquelas que só se revelam no TikTok. No final, a novela do cargo mostra o mesmo de sempre: cada movimento é uma aposta para 2026, cada gesto no plenário é um ensaio geral para o futuro exílio voluntário nos EUA. E assim o bolsonarismo em versão exportação vai ficando cada vez mais caricato, com o líder sem cadeira e a cadeira sem líder.
Nicolas Cage, Lisa Marie Presley, anel no oceano e mergulhadores contratados: quando Hollywood prova que a vida imita roteiro de filme B com orçamento de blockbuster
É quase poético: Nicolas Cage, o ator que já foi caçador de tesouros em tela, jogando fora um tesouro de verdade, sua aliança de casamento com Lisa Marie Presley, e depois contratando mergulhadores para buscá-la. A confissão feita no “60 Minutes” é puro ouro para tabloides: o casamento durou três meses, a aliança custava US$ 60 mil e o drama terminou no fundo do mar. Cage riu do episódio, talvez porque só restava rir. Mas a cena revela mais: no cinema, ele faz o improvável parecer verossímil; na vida real, faz o verossímil parecer improvável. O romance breve com a filha de Elvis Presley sempre teve um ar de fanfic. Com Lisa Marie já falecida, o relato ganha um tom melancólico, quase necrológico. E os fãs adoram: é a interseção entre cultura pop, tragédia pessoal e fetiche por escândalos. Se existe uma moral nessa história, talvez seja que anéis jogados ao mar têm mais chances de serem encontrados do que reputações perdidas em Hollywood.

Carla Zambelli, Itália, Alexandre de Moraes e redes sociais desbloqueadas: quando o exílio involuntário ganha contornos de novela judiciária com pitadas de tragédia e reality show
Carla Zambelli está presa na Itália, mas Alexandre de Moraes resolveu liberar seus perfis nas redes sociais. Ironia fina: a deputada que dizia ser censurada agora pode postar — só que da prisão. Moraes ainda impôs multa de R$ 20 mil por dia se ela reincidir em discursos de ódio. O caso é um microcosmo da era digital: crime, política e espetáculo se misturam. Zambelli diz estar doente, desmaiando, andando devagar. A narrativa da vítima é clara, o timing político também. O STF quer mostrar que pune, mas não cala; a direita vê perseguição, a esquerda vê justiça. Enquanto isso, a deputada vira personagem de si mesma, falando à comissão por videoconferência, mostrando fotos do filho, acusando Moraes de tirar até as redes do menino. Parece novela, mas é processo judicial. E no meio disso tudo, uma lição: na política brasileira contemporânea, o palco é sempre híbrido — metade tribunal, metade feed do Instagram.
Lula, reforma de casas, R$ 100 mil, Caixa Econômica Federal e pré-sal: quando o governo pega o Minha Casa Minha Vida, faz um remix classe média-friendly e torce para 2026 chegar com cimento fresco
O novo programa federal para reforma de moradias é o “Minha Reforma, Minha Esperança” não oficial. Famílias poderão pegar até R$ 100 mil e pagar em 96 meses, sem carência, com juros diferenciados. O governo usa R$ 30 bilhões do fundo social do pré-sal para bancar a linha e espera beneficiar dois milhões de famílias. Parece bom? Parece. Mas já vimos esse filme: programas bem-intencionados, execução errática, dívida aumentando e, no final, a oposição chamando de populismo pré-eleitoral. A jogada é clara: atingir a classe média, dar gás ao setor de construção civil e criar uma narrativa de governo que entrega obras. O problema é que reformas não se fazem apenas com cimento e dinheiro barato — dependem de logística, fiscalização e política macroeconômica estável. Ainda assim, Lula aposta no concreto, literal e figurado, para erguer pontes com eleitores. Em tempos de déficit habitacional crônico, qualquer ação parece bem-vinda. Mas a pergunta que fica é: quantas dessas casas reformadas resistirão à erosão fiscal e quantas serão só outdoor eleitoral?

August Frank, memorando de 1942, Holocausto e a banalidade do mal: quando uma nota burocrática define o destino de milhões e lembra que o inferno também tem timbre oficial e carimbo com brasão
Em 26 de setembro de 1942, August Frank, tenente-general da SS, emitia um memorando que não era só papel: era sentença. Tratava dos “procedimentos” para evacuação de judeus, como se fosse um manual de logística. O detalhe macabro é que a palavra “evacuar” escondia a engenharia da morte. Este aniversário sombrio lembra que genocídios não nascem de discursos inflamados apenas, mas de burocracias eficientes, carimbos e planilhas. Hannah Arendt chamou isso de “banalidade do mal”: o funcionário zeloso que cumpre ordens, o timbre frio que mascara a barbárie. Em 2025, é oportuno revisitar esses documentos para entender como regimes se tornam assassinos em massa com ares de normalidade. O memorando de Frank é um lembrete: a distância entre linguagem administrativa e abismo moral é mínima. Se não há vigilância, se não há crítica, a engrenagem se repete. E cada vez que um líder fala em “limpeza” ou “ordem” com fervor, convém olhar para o passado e ver as sombras desses papéis.
Xania Monet, Abbey Road, PL...
setembro 25, 2025Cat Stevens, Senado, Meca...
setembro 24, 2025Vale Tudo, Lawfare, ONU...
setembro 23, 2025Google IA, SAFs, Mounjaro...
setembro 22, 2025Ciro Gomes, Cannes, Pressão...
setembro 20, 2025Jimmy Kimmel, CBF, terremoto...
setembro 19, 2025Vaticano, TV Tupi, CNPJ...
setembro 18, 2025Charlie Kirk, Mercosul, F-35...
setembro 17, 2025Fux, Mahsa Amini, CPMI...
setembro 16, 2025Junk food, Itaú, Khrushchev...
setembro 15, 2025Marco Rubio, Mauro Cid, Oslo...
setembro 13, 2025Bets, Allende, Lisa Cook...
setembro 11, 2025
Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.
Facebook Comments