Alzheimer, Golpe de Estado, rock…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Bolsonaro, Alexandre de Moraes, Tarcísio e o 7 de Setembro: a reprise de um espetáculo que começou como tragédia e terminou como meme político
Naquele longínquo 7 de setembro de 2021, Bolsonaro, ainda presidente, desfilava sua coleção de bravatas como quem vende tapete na feira de Caruaru: barato, repetitivo e cheio de fiapo solto. Chamou as eleições de “farsa”, prometeu que só sairia “preso ou morto” e deu um ultimato ao Supremo. Era o auge da retórica de buteco presidencial. No meio disso, Tarcísio de Freitas, hoje governador de São Paulo, assistia ao show pirotécnico, talvez já treinando os sorrisos calculados que usaria no futuro. A democracia brasileira, então, foi reduzida a figurante numa micareta autoritária. A cena virou peça de arquivo, mas continua lembrada para que ninguém se esqueça de como se tenta subverter a República com frases de efeito e vaidade mal disfarçada. O problema é que, no Brasil, todo déjà-vu é prenúncio de repetição: e a cada 7 de setembro, o fantasma de 2021 reaparece, lembrando que democracia aqui sobrevive mais por teimosia do que por solidez.
Olivia Rodrigo, Sabrina Carpenter e Chappell Roan roubam a cena: e Thurston Moore declara o funeral do rock em praça pública
Segundo Thurston Moore, ex-Sonic Youth, o rock já não é a chama olímpica que incendiava corações juvenis, mas um fósforo molhado que ninguém se dá ao trabalho de acender. O guitarrista sentencia que o público hoje quer “entretenimento amplo” — conceito que vai de Olivia Rodrigo a vídeos de gatinhos no TikTok. Enquanto isso, Led Zeppelin e Pearl Jam viraram peças de museu, reverenciados por senhores de camiseta preta que ainda acreditam no poder transformador do riff. O Lollapalooza, outrora um templo de guitarras e feedback, agora é parque temático de popstars patrocinados por marcas de refrigerante. E não adianta espernear: os jovens querem menos solos de guitarra e mais refrões para postar no Instagram. O rock não morreu com estrondo; morreu com stories. E, ironicamente, talvez tenha sido o Sonic Youth um dos coveiros desse velório com distorção.
Marselha, 10 de setembro de 1877: a última guilhotina cai, e a França descobre que pode matar sem espetáculo público
Hamida Djandoubi, um criminoso tunisiano, foi o último a sentir a lâmina fria da guilhotina em território francês. Executado em Marselha, entrou para a história não pelo crime, mas pelo corte final. A França, cansada do teatro sangrento, decidiu aposentar a máquina que já fora símbolo revolucionário, terror e moralidade em aço inoxidável. Curioso: a guilhotina foi abolida bem antes da pena de morte ser completamente extinta, como quem guarda a cadeira elétrica no porão “para emergências”. Desde então, a França preferiu condenar seus desafetos à obscuridade e ao ostracismo, o que, convenhamos, dói mais do que perder a cabeça. O século XIX terminou descobrindo que o espetáculo da morte já não rendia Ibope, e que a civilização, quando quer parecer refinada, apenas muda a forma de punir — não o prazer de ver o outro desaparecer.
Manifestantes bolsonaristas desfilam bandeira dos EUA na Paulista: o patriotismo terceirizado e a soberania made in Kentucky
No 7 de setembro, enquanto o hino ecoava, um grupo de bolsonaristas decidiu homenagear a pátria… errada. Levaram um bandeirão dos Estados Unidos à Avenida Paulista, talvez numa confusão cartográfica que confundiu São Paulo com Miami. Ministros do Governo Lula riram da cena em Brasília, vendo ali ouro político puro: nada como a oposição exibir sua devoção colonial em plena data da Independência. Afinal, não existe argumento mais eficiente contra o “patriotismo” bolsonarista do que a imagem de verde-amarelos puxando a bandeira estrelada como se fosse abadá da Disney. É o anti-nacionalismo travestido de civismo, a versão tropical da síndrome de Estocolmo. E o melhor: tudo registrado, filmado e eternizado para os anais do YouTube, onde o ridículo não tem prazo de validade.

Alexandre de Moraes, STF e a coreografia da Justiça: Bolsonaro no banco dos réus como maestro de um samba de golpe mal ensaiado
Na Primeira Turma do STF, Alexandre de Moraes abriu o julgamento que pode condenar Bolsonaro e outros sete por tentativa de golpe. E não poupou palavras: falou em organização criminosa, mentiras digitais, ataques às urnas e discursos golpistas embalados como lives de domingo. A acusação é clara: Bolsonaro seria o maestro de uma orquestra desafinada, em que cada réu tocava seu instrumento de forma estridente — mas todos sob o mesmo compasso. Moraes relembrou os discursos de 7 de setembro de 2022, em que o então presidente ameaçou descumprir ordens judiciais e jogou gasolina no circo institucional. No julgamento, a dúvida não é mais se houve golpe, mas se os culpados serão chamados pelo nome certo ou por apelidos carinhosos. O STF, enfim, tenta mostrar que democracia não é brinquedo, embora às vezes o Congresso e o Planalto insistam em tratá-la como piada de salão.

Alzheimer, Donanemabe e a promessa de memória em cápsulas: quando a ciência tenta consertar aquilo que o tempo insiste em roubar
O Brasil começou a aplicar o Donanemabe, medicamento da Eli Lilly que promete combater o Alzheimer em estágios iniciais. O fármaco ataca as placas de beta-amiloide, aquelas proteínas traquinas que se acumulam no cérebro e apagam memórias como vírus de computador. É uma luz para pacientes que ainda estão no início da luta contra o esquecimento. Mas não deixa de ser irônico: vivemos em um país em que a memória coletiva já anda comprometida sem necessidade de placas cerebrais. Enquanto a ciência oferece esperança para indivíduos, a sociedade segue esquecendo golpes, ditaduras e crises econômicas como se fosse Alzheimer cultural. O remédio pode até devolver lembranças a quem sofre da doença, mas ainda não inventaram cápsula capaz de curar a amnésia seletiva nacional. Essa, infelizmente, não tem bula — tem conveniência.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.
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