Apocalipse 13: a involução do pensar

A nomeação de Leão XIV como novo papa reacendeu, nas redes sociais, uma onda de interpretações apocalípticas centradas no capítulo 13 do último livro da Bíblia. É um fenômeno previsível no tempo da hiperconectividade, mas nem por isso menos preocupante. Atribuir sentido literal a imagens simbólicas escritas há quase dois milênios — como as “bestas do mar e da terra” — é um movimento que diz menos sobre a Bíblia e mais sobre o estágio atual da reflexão pública: uma involução do pensar, marcada por interpretações rasas e pelo desejo de narrativas espetaculares.
Roma e Washington,
aliança inesperada —
a cruz pesa mais.
A ideia de que o novo papa norte-americano — Leão XIV, nascido Robert Francis Prevost — encarna ambas as “bestas” descritas no Apocalipse, por supostamente representar o poder religioso e, indiretamente, o poderio político-militar dos Estados Unidos, revela uma leitura profundamente anacrônica e desconectada do contexto original do texto sagrado. Como lembra o professor Kenner Terra, doutor em ciências da religião, o Apocalipse 13 é uma crítica cifrada ao império romano, especialmente ao imperador Nero. As imagens ali descritas falam mais sobre opressão e idolatria imperial do que sobre profecias de fim do mundo.
No entanto, o que assusta não é a fantasia religiosa em si — afinal, a escatologia sempre teve apelo —, mas o uso desinformado de um texto teológico complexo para justificar teorias conspiratórias, frequentemente alimentadas por desconfiança institucional e medos difusos da modernidade.
Velha profecia,
mas olhos novos leem —
a paz ainda fala.
Nisso, o símbolo vira fetiche, e o símbolo mal interpretado vira arma. O fenômeno reflete um impulso crescente de abandonar a análise histórica, teológica e crítica, preferindo-se o sensacionalismo travestido de verdade revelada.
A internet amplifica essas leituras, não pela sua natureza, mas pelo modo como é usada. Cabe a nós — leitores, religiosos ou não — exercitar o discernimento e valorizar a interpretação séria, que respeita o contexto. Porque o verdadeiro apocalipse talvez não esteja em Roma, mas na erosão coletiva da capacidade de pensar com profundidade.

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