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Bruno Tolentino: ácido até o último suspiro

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Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino Sobrinho, nascido em 1940 no Rio de Janeiro, teve sua vida permeada desde cedo por figuras literárias ilustres, como a crítica teatral Bárbara Heliodora e o renomado crítico literário Antonio Candido, primo do poeta. A convivência com escritores próximos à família, como Cecília Meireles, moldou seu ambiente inicial, influenciando seu futuro como poeta e intelectual. A biografia de Tolentino, porém, é marcada por desafios na reconstrução de eventos, já que muitos detalhes foram modificados pelo próprio autor.

O início literário e a mudança para Europa

Em 1963, Tolentino lançou seu primeiro livro, “Anulação e outros reparos”, que incluía o notório poema “Ao Divino Assassino”. Esse poema, em terça-rima, expressava a revolta do poeta contra Deus, especialmente durante a morte de sua ex-namorada Anecy Rocha. Com o golpe militar de 1964, Tolentino partiu para a Europa a convite do poeta Giuseppe Ungaretti, onde passou trinta anos de sua vida, principalmente na França e na Inglaterra.

Do cárcere à retornando ao Brasil: uma jornada conturbada

O ano de 1987 marcou um episódio turbulento na vida de Tolentino. Preso no aeroporto de Heathrow, em Londres, por porte de cocaína, ele foi condenado a onze anos de prisão. Durante esse período, Tolentino não apenas cumpriu sua pena, mas também organizou aulas de alfabetização e literatura para seus colegas de prisão, chamadas de “Seminars of Drama and Literature”. Essa experiência, que ele afirmou ter adorado, influenciou sua visão crítica sobre a sociedade brasileira.

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Em 1993, Tolentino retornou ao Brasil, lançando o livro “As Horas de Katharina”, que conquistou o Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia em 1994. Nos anos seguintes, publicou obras como “Os Sapos de Ontem” (1995), “Os Deuses de Hoje” (1995) e “A Balada do Cárcere” (1996). Sua postura crítica sobre a educação, o concretismo e a música como forma de poesia foi evidenciada em uma polêmica entrevista à revista Veja em 1996.

O reconhecimento tardio e o legado duradouro

Entre 2000 e 2002, Tolentino viveu no Santuário Estadual de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, Minas Gerais, contribuindo com o Movimento Eclesial de Comunhão e Libertação. Nesse período, concluiu a revisão de suas obras magnum, “O Mundo Como Ideia” e “A Imitação do Amanhecer”, publicadas em 2002 e 2006, respectivamente. Ambas renderam a Tolentino o Prêmio Jabuti, consolidando-o como um dos poucos escritores a conquistar o prêmio em três edições diferentes.

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Bissexual libertino, Tolentino não hesitou em abordar temas LGBT em sua última obra, “A Imitação do Amanhecer”, considerada uma das mais ambiciosas e consistentes obras com essa temática no cenário literário brasileiro. O reconhecimento também veio na forma do Prêmio Senador José Ermírio de Morais, concedido pela Academia Brasileira de Letras, um feito inédito para um escritor.

O fim de uma era: morte e legado

Tolentino, portador de AIDS e sobrevivente de um câncer, passou seu último mês na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Aos 66 anos, em 27 de junho de 2007, o poeta faleceu devido a falência múltipla de órgãos. Sua obra foi crucial para a poesia brasileira, reintroduzindo uma abordagem filosófica e classicamente lírica no cenário literário nacional. Bruno Tolentino permanece uma figura controversa e fundamental na história da literatura brasileira, ácido até o último suspiro.

Última atualização da matéria foi há 11 meses

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