Buenos Aires, OTAN, Michelle Bolsonaro…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Buenos Aires liga para o Brasil pedindo “uma luz”, literalmente: sistema elétrico argentino reza para São Pedro e para Itaipu ao mesmo tempo
O verão argentino está chegando, e com ele aquele calor escaldante que faz até o tango parecer um samba suado. Diante de um novo episódio de La Niña, que promete transformar Buenos Aires num micro-ondas, a estatal Cammesa já começa a sondar discretamente o Brasil – o vizinho pródigo em energia – como quem pede açúcar emprestado e, de quebra, já pergunta se pode usar o fogão. O parque gerador argentino segue numa espécie de coma induzido: termoelétricas caríssimas, transmissão que lembra linha de pipa e renováveis que mais parecem promessa de político. Enquanto isso, os hermanos miram em contratos emergenciais para dezembro, esperando que o Brasil envie megawatts como quem manda empanadas por delivery. A dependência energética virou uma metáfora do país: grita alto, mas a tomada está sempre desligada. Se der tudo errado, resta rezar para Evita — ou para São Fernando Henrique, patrono das privatizações.

Rua 25 de Março é promovida a potência global do contrabando: EUA incluem polo paulista em sua nova cruzada moral contra a pirataria mundial
Eis que a Rua 25 de Março, esse formigueiro brasileiro de comércio informal, foi alçada à geopolítica internacional com o prestígio de uma Pyongyang do varejo. O Escritório de Representantes do Comércio dos EUA resolveu abrir investigação contra o Brasil e, surpresa!, incluiu nossa honrada rua como símbolo máximo da pirataria mundial. Os americanos, que por acaso vendem armas como quem vende pipoca, se escandalizaram com camelôs vendendo bolsas “Louis Vuitom” e celulares “Samsumg”. O relatório oficial também bate em etanol, tarifas preferenciais e comércio digital, mas o foco real parece ser a humilhação moral de ver um brasileiro comprando um “Nike” por R$ 89,99. O Tio Sam, que adora um livre mercado, surtou ao ver um livre mercado de verdade – só que com sacolas plásticas e carrinhos de feira. No fim das contas, a pirataria assusta menos pelo produto e mais pelo espelho que oferece: um capitalismo sem maquiagem, suorento e barulhento como a própria São Paulo.
Cena de karaokê vira enredo de tragédia grega em bar de Ohio: Linkin Park, ciúme homicida e um disparo no refrão
Na América profunda, onde armas são mais acessíveis que paracetamol, um bar em Ohio virou palco de uma ópera grotesca: durante uma performance da emotiva “One More Light”, Benjamin Hawk foi assassinado a tiros enquanto cantava com a namorada. O autor? Richard Lindgren, ex-marido da moça, que aparentemente levou muito a sério o conceito de “nota de corte”. Entrou calmo, atirou frio e saiu andando como se fosse o último cliente da noite. A motivação? Clichê de novela: ciúmes, ressentimento e uma masculinidade tóxica armada até os dentes. A justiça americana fixou fiança em US$ 5 milhões, o que nos lembra que nos EUA tudo é negociável – inclusive o homicídio. Entre um solo de guitarra e outro, a tragédia revelou a mistura habitual da cultura estadunidense: paixão reprimida, armas à disposição e karaokê como arena do ego ferido. Shakespeare chamaria de tragédia; o Texas, de terça-feira.
Senado dos EUA ratificou a OTAN há 76 anos e o mundo continua em guerra: tratado de paz virou desculpa para novas guerras
Em 21 de julho de 1949, o Senado dos EUA ratificou o Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aquele mesmo que prometia segurança coletiva e acabou se tornando um clube seleto de intervenções preventivas. De lá pra cá, a OTAN já protegeu o mundo de perigos inquestionáveis como hospitais na Sérvia, casamentos no Afeganistão e, mais recentemente, drones russos com ego inflado. Criada para conter a URSS, a aliança hoje serve mais para conter a concorrência e garantir que nenhuma potência emergente tenha ideias muito criativas. O mundo nunca teve tanta paz… nos relatórios internos da OTAN. A realidade, porém, inclui guerras em série, um desfile de sanções e uma proliferação de bases militares que fariam Alexandre, o Grande, parecer um síndico de bairro. Mas tudo em nome da liberdade – aquela mesma que ninguém consegue explicar, mas que sempre chega com um caça sobrevoando sua casa.
Michelle Bolsonaro emerge como a Juíza de The Voice Conservador: agora é ela quem fala, enquanto Jair coloca a tornozeleira e o pijama
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi promovida a porta-voz do bolsonarismo enquanto o ex, agora réu adornado com uma tornozeleira eletrônica, tenta manter a compostura em meio a investigações por tentativa de golpe e obstrução de Justiça. Damares Alves, fiel escudeira e entusiasta do apocalipse, declarou que Michelle é “a maior líder da oposição” – o que talvez diga mais sobre a oposição do que sobre Michelle. O drama da tornozeleira, segundo Damares, foi uma “violência simbólica” contra uma mulher de pijama – o que parece argumento de novela das seis escrita por um pastor evangélico. A visita à casa dos Bolsonaro foi quase uma unção política: entre orações, queixas e cafés, consolidou-se o novo arranjo dinástico-conservador, onde o silêncio do patriarca é substituído por vídeos, stories e notas oficiais da matriarca. Se o Brasil fosse um reality show, esse seria o momento em que a produção avisa: “A partir de agora, o jogo virou”.
Brasileiro começou o ano prometendo controlar os gastos e acabou comprando 3 pares de tênis em 12 vezes sem juros: a economia do improviso segue firme
O planejamento financeiro do brasileiro em 2025 foi mais um episódio da série “Expectativa x Realidade”. Segundo a Serasa, quase metade da população gastou mais do que devia nos primeiros seis meses do ano – e a outra metade mentiu no questionário. Os dados revelam que 49% queriam pagar as contas em dia, 38% pretendiam controlar o orçamento e 29% sonhavam em economizar todo mês. Tudo muito bonito até o segundo boleto. O brasileiro médio vive num eterno modo “depois eu vejo”, onde o Pix é o novo cigarro e o cartão de crédito, uma extensão da alma. Investir? Só em parcelamento de fritadeira. Economizar? Talvez em likes. Pagar em dia? Só a Netflix. A verdade é que o país vive de improviso, equilibrando desejos, boletos e memes. A economia brasileira não é recessiva, é relacional: tudo depende do humor, do clima e da próxima promoção no app da Shein.

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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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