Cosan, Lionel Messi, Radiohead…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Rabino argentino da Congregação Israelita Paulista vira personagem de crônica carnal: ética, libido e reputação numa mesma mesa de confissão pública
A Congregação Israelita Paulista, instituição símbolo da sobriedade e da moral, acordou em chamas espirituais. Seu rabino sênior, Ruben Sternschein, foi afastado após reportagem bombástica da revista Piauí, que reconstitui em minúcias quase literárias as aventuras eróticas do líder religioso. A publicação detalha relatos de cinco mulheres, misto de assédio moral, sexual e emocional — e ainda obteve um documento de cinco páginas enviado à Conferência Central de Rabinos Americanos. Sternschein nega, diz que tudo foi consentido. Eis a teologia moderna: o livre-arbítrio reinterpretado como “foi combinado, juro por Deus”. A congregação, constrangida, tenta equilibrar o tripé da fé, da ética e do dano reputacional. Publicou nota reafirmando seu compromisso com a verdade e afastou o rabino “para que se concentre em sua defesa” — eufemismo institucional para “você virou problema”. A Piauí, fiel ao seu estilo de demolição educada, publicou uma peça de jornalismo narrativo que faz de cada vírgula uma punhalada elegante. E, claro, o caso já transcende o templo: é sociologia pura. Em tempos de moral líquida, até os profetas precisam de advogado.
Radiohead e a dor de existir entre notas dissonantes: a volta da banda é menos sobre guitarras e mais sobre terapia coletiva disfarçada de turnê europeia
Depois de quase uma década de silêncio, o Radiohead anunciou sua turnê europeia — e, junto dela, um inventário emocional de arrependimentos, depressões e reconciliações. Thom Yorke confessou ao The Times que o grupo parou porque “as coisas desandaram” e ele precisava processar o luto pela morte da ex-companheira. Ed O’Brien disse que estava “de saco cheio do Radiohead”. E Jonny Greenwood, o discreto gênio, falou sobre ser cobrado politicamente por causa de seu casamento com uma artista israelense. É a banda mais melancólica do planeta praticando autocrítica pública — uma catarse coletiva que faria Freud chorar em 7/8. A volta, segundo Yorke, é “um milagre funcional”. A lista de 65 músicas enviada para o setlist soa como uma terapia de grupo em forma de pauta. Cada membro reconhece seus abismos, seus silêncios e suas culpas. Até o conflito Israel-Hamas virou tema de análise lírica: Yorke denunciou a “caça às bruxas” nas redes, O’Brien defendeu uma “Palestina Livre”, e Selway disse que “o pedido do boicote é impossível”. No fundo, o Radiohead sempre foi isso — a alma torturada da era digital, tocando o desconforto enquanto o mundo grita hashtags.
Rubens Ometto vende os quintais da própria fortuna para salvar a Cosan: o agronegócio aprendeu que até a cana precisa de açúcar financeiro para não azedar
A saga de Rubens Ometto está virando uma epopeia do capitalismo brasileiro: o bilionário da Cosan, antes sinônimo de lucro açucarado, agora vive um reality show financeiro chamado “Os Ricos Também Precisam de Caixa”. A Aguassanta Desenvolvimento Imobiliário, braço de seu império, estaria vendendo terrenos e projetos inteiros — uma liquidação de luxo, digamos assim. O dinheiro, naturalmente, irá irrigar o solo sedento da Cosan, que anda precisando de nutrientes em forma de bilhões. Só nesta safra, já foram R$ 4,5 bilhões do BTG e R$ 2 bilhões da Perfin — e ainda há mais R$ 750 milhões em notas comerciais, emitidas com o suor da Aguassanta Participações, o family office que virou bombeiro do grupo. Ometto, acostumado a ver a cana moer tudo, agora sente o gosto amargo do mercado moendo seus ativos. A Cosan precisa de capital, e rápido, antes que vire um case de “planejamento agressivo demais”. Tudo indica que a estratégia é vender para comprar tempo, o bem mais caro da economia contemporânea. É a tal “reestruturação”, palavra que os financistas usam quando o caos precisa parecer técnico. O agronegócio aprendeu o vocabulário da Faria Lima: “aporte”, “rodada”, “capitalização”. Só não aprendeu a aceitar prejuízo.

Lionel Messi, o deus que não viralizou: o craque reina na MLS, mas o público americano ainda prefere futebol com as mãos e cultura com dublê de carisma
Lionel Messi encerrou a temporada na Major League Soccer como rei absoluto das estatísticas e plebeu do impacto cultural. Gols, assistências, recordes — tudo em dia. Mas, como provocou o colunista John Müller, do The Guardian, “ninguém parece ter notado fora do Instagram”. A audiência da liga caiu 5,5%, a Apple TV liberou playoffs de graça, e o Google ainda registra mais buscas por Cristiano Ronaldo nos EUA. Messi brilha, mas brilha no vácuo — um cometa que ilumina uma arquibancada distraída. A MLS queria um Pelé 2.0; ganhou um monge zen de pernas divinas, mas carisma discreto. O documentário Messi Meets America não empolgou — o público prefere Ted Lasso e seus absurdos britânicos. É o dilema do argentino: quando vence, é porque joga numa “liga de aposentados”; quando perde, é porque “já está velho”. Mesmo sendo estatisticamente o melhor, Messi não virou fenômeno cultural. A América o consome como se consome arte contemporânea: com respeito, mas sem emoção. Ele é o gênio que não viraliza — e isso, no século XXI, é quase uma derrota.
28 de outubro de 1924: jovens tenentes marcham pelo Rio Grande do Sul e inauguram o vício nacional de resolver crises com fardas e quartéis
Cem anos se passaram desde que o Rio Grande do Sul viu o levante tenentista tomar forma — uma rebeldia de jovens oficiais que misturavam idealismo, autoritarismo e testosterona política. A data marca o início de um dos capítulos mais simbólicos da história brasileira: o da eterna tentação dos quartéis. Os tenentes queriam “moralizar” o país, como tantos outros grupos depois deles. Acreditavam que o problema era de comando, não de estrutura — um clássico erro de leitura que se repete de geração em geração. O movimento, que começou como indignação juvenil, virou uma escola de golpismo patriótico. Muitos daqueles oficiais se tornariam generais, ministros e, claro, presidentes. É irônico: o levante que dizia lutar contra o mandonismo acabou formando seus próprios mandões. Cem anos depois, o Brasil continua refém dessa pedagogia militar da salvação nacional. Trocam-se os uniformes, mantém-se a crença de que bastam coturnos e bravatas para resolver a complexidade civilizacional. O Brasil, esse país tenente por vocação.

Lula se corrige na Malásia e diz que errou ao anunciar candidatura na Indonésia: o presidente redescobre que voto não é commodity de exportação
Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que já discursou para o mundo inteiro, confessou um “lapso diplomático” ao anunciar sua candidatura à reeleição longe de casa. “Eu não tenho voto na Indonésia”, disse o presidente, com seu humor de palanque e ironia de quem sabe rir de si mesmo — mas não sem cálculo político. A confissão veio na Malásia, onde participa da 47ª Cúpula da Asean. A piada tem fundo de verdade: Lula, ao dizer o óbvio, reintroduz o Brasil na narrativa eleitoral antes da hora. Analistas veem a frase como ensaio de campanha: uma piscadela estratégica a um eleitorado que ainda o aprova majoritariamente. As pesquisas Paraná e AtlasIntel o colocam à frente em todos os cenários de 2026. O petista aproveita a fragmentação da oposição e o sumiço internacional do bolsonarismo — e ainda posa de estadista global conversando com Trump. É o Lula de sempre: mistura de vaidade, cálculo e improviso. Um político que transforma gafes em manchetes e manchetes em votos. No fundo, ele sabe: o mundo o ouve, mas só o Brasil o elege.
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




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