Ditadura destruiu Mário Wallace Simonsen
Mário Wallace Simonsen, um dos homens mais influentes e poderosos do Brasil em sua época, viu seu império empresarial ruir sob as garras implacáveis da ditadura militar que se instaurou no país em 1964. Filho do respeitado banqueiro Wallace Cochrane Simonsen e sobrinho do fundador da Fiesp, Roberto Simonsen, Mário Simonsen emergiu como um destacado empresário e defensor da indústria nacional.
O auge de sua carreira empresarial ocorreu nas décadas de 1950 e 1960, quando construiu um conglomerado com mais de 30 empresas, abrangendo setores como energia, aviação, televisão, e telecomunicações. Sua visão empreendedora o levou a investir o lucro de sua empresa de exportação de café em empreendimentos que impulsionaram a economia do país. No entanto, sua trajetória de sucesso seria abruptamente interrompida com a ascensão da ditadura militar.
O golpe de 1964 marcou o início do declínio para Mário Simonsen. Seu apoio às forças democráticas contrárias ao regime militar se tornou evidente, especialmente por meio de sua rede de televisão, a TV Excelsior, que utilizava para criticar a ditadura e apoiar o retorno à democracia. Sua proximidade com o Presidente Juscelino Kubitschek e seu apoio público à candidatura deste para as eleições presidenciais previstas para 1965 fizeram com que Simonsen se tornasse alvo de uma intensa campanha de difamação promovida pelos defensores do regime militar.
O ponto crítico ocorreu com o fechamento de suas empresas. A Panair do Brasil, maior companhia aérea privada da América Latina, foi atingida pela revogação de suas concessões em 1965, transferidas imediatamente para a Varig, empresa aliada ao governo militar. Esse episódio resultou na falência da Panair, deixando milhares de trabalhadores desempregados e provocando uma concentração prejudicial no setor de aviação brasileiro.
Além disso, a Eletromecânica Celma, subsidiária da Panair responsável pela manutenção de motores aeronáuticos, foi estatizada, impactando significativamente o setor. O isolamento de quarenta e três cidades na Amazônia, anteriormente servidas pelos voos da Panair, evidenciou as consequências deletérias das ações do regime militar na economia e infraestrutura do país.
A perseguição a Mário Simonsen intensificou-se após o golpe. Suas empresas Comal e Wasim, que negociavam café, foram proibidas de operar em 1964. A oficina Celma, aeroportos e infraestrutura da Panair foram tomados sem a devida indenização. O restante de seus bens, incluindo participações acionárias e a TV Excelsior, foi sequestrado pela Justiça.
Simonsen enfrentou não apenas a perda de seu império, mas também a asfixia econômica da TV Excelsior, cuja concessão foi cassada em 1970. Sua morte em 23 de março de 1965, apenas um mês após o governo decretar a falência da Panair, marcou o trágico fim de um visionário empresário.
O legado de Mário Simonsen, que incluía empresas como a Panair do Brasil, Companhia Eletromecânica Celma, Comal, Wasim e a Rede Excelsior, foi dilacerado pela repressão política. O empresário, que buscava o progresso e a inovação para o Brasil, tornou-se uma vítima das circunstâncias políticas da época.
O episódio trágico de Mário Simonsen é um lembrete doloroso das profundas cicatrizes deixadas pela ditadura militar no tecido empresarial brasileiro. O preço pago por seu engajamento democrático e sua defesa incansável pela indústria nacional foi alto, marcando uma era sombria na história do Brasil, onde os interesses políticos eclipsaram o desenvolvimento econômico e a justiça.
Última atualização da matéria foi há 1 ano
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