eBay, PIB, Polícia Federal…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
PCC descobre a alquimia farmacêutica: de posto de gasolina a balcão de remédio, a fórmula da lavagem de dinheiro nunca decepciona os criativos da periferia paulista
Quem diria que a farmácia da esquina, com letreiro desbotado e azulejo quebrado na fachada, pode ser mais eficiente que a Bolsa de Valores quando o assunto é multiplicar capital? O PCC, sempre versátil, percebeu que a verdadeira droga não está no pó branco de laboratório, mas na aspirina com cadastro duvidoso no Farmácia Popular. As “farmácias independentes” — 760 apenas em São Paulo — funcionam como caixas registradoras do crime, exibindo prateleiras organizadas, mas escondendo um cofre de operações obscuras. A Polícia Federal, que por enquanto finge não ouvir o barulho dos frascos, sabe que o mesmo truque já foi usado no mercado de combustíveis. E assim como os postos “bandeira branca”, essas drogarias operam no cinza da lei, com receitas falsas, médicos generosos e notas fiscais inventadas. Ironia cruel: a farmácia popular, criada para aliviar o bolso do povo, virou a boutique de luxo do crime. Enquanto isso, as grandes redes seguem em expansão frenética, duplicando lojas a cada esquina, como se o Brasil fosse um parque temático da aspirina. Mas é no pequeno, no improvisado, no improviso do balcão, que o crime encontra seu esconderijo perfeito. A cidade é uma farmacopeia de negócios, mas também uma bula de cinismo: atrás da tarja preta, só a máfia prescreve.
Walter Apfel, um banqueiro adoentado, um casamento com dramaturga e um Goldman Sachs esfregando as mãos como bom corretor de almas em liquidação
No meio da espuma da Faria Lima, quase ninguém notou que o Banco Fator está à venda — e não na prateleira de liquidação do Magazine Luiza, mas no sofisticado cardápio de M&As globais. Walter Apfel, debilitado na saúde, passa o bastão, e quem assume o bisturi é o Goldman Sachs, o templo máximo do capitalismo performático. Memória cultural: Apfel já foi casado com a dramaturga Leilah Assumpção, e, no divórcio, deixou a ex quase bilionária — uma das raras vezes em que dramaturgia pagou melhor que IPO. O Fator, que sempre foi discreto, é agora peça num tabuleiro de xadrez maior, onde gigantes caçam pequenas presas para engordar balanços. É curioso: banqueiros envelhecem, mas bancos nunca morrem; só trocam de CNPJ como camaleões de planilha. A venda, sussurrada entre copos de vinho em jantares reservados, mostra que nem mesmo a elite financeira está imune à falência biológica de seus fundadores. E o Goldman, como sempre, não perde viagem: do subprime ao PCC, toda moeda serve quando bem lavada. Apfel pode ter problemas de saúde, mas seu banco vai ganhar novo fôlego na UTI do mercado — anestesia paga em dólar.
Burning Man, um festival de espiritualidade cara, poeira gratuita e agora também homicídio: porque nem no deserto a morte tira férias
O Burning Man sempre vendeu a imagem de “liberdade radical”, uma utopia temporária onde executivos de Wall Street e hippies tardios dançam lado a lado na poeira. Mas neste ano, a narrativa da celebração virou caso de polícia: um homem, branco, não identificado, foi encontrado morto em uma poça de sangue no acampamento. A cena grotesca contrastou com o incêndio ritual da escultura central, “o Homem”, que deveria simbolizar renascimento e não obituário. O xerife do Condado de Pershing confirmou: não foi acidente de bad trip, mas homicídio em plena utopia alternativa. E assim, o festival que sempre foi metáfora de “fogo sagrado” virou literalidade policial. A ironia é inevitável: os mesmos que pregam a comunhão transcendental com a poeira agora convivem com fitas amarelas de investigação. O corpo, levado ao IML de Washoe, deixa a pergunta incômoda: que tipo de libertação espiritual acaba com o som do zip do saco preto? A “Black Rock City”, sempre exaltada como laboratório de possibilidades humanas, revela que, no fundo, continua sendo só uma cidade: com caos, violência e cadáveres. A humanidade não se reinventa; apenas improvisa em tendas caras.
Pierre Omidyar, o homem que no longínquo 1995 achou que vender bugigangas online daria certo, fundou o eBay e provou que o capitalismo adora um leilão de ilusões
Trinta anos atrás, em 3 de setembro de 1995, Pierre Omidyar apertou “enter” e colocou no ar o eBay. Parecia uma brincadeira nerd: quem iria comprar coisas usadas pela internet? O resto é história: a plataforma virou império digital, antecedendo Amazon, Shopee e o vício contemporâneo de colecionar dívidas parceladas. O eBay não inventou apenas o e-commerce, inventou também a estética do “arremate”: transformar tralha em desejo, transformar disputa em prazer e transformar economia em espetáculo. Omidyar, bilionário discreto, mostrou que o capitalismo se alimenta mais da ilusão de ganhar que do objeto adquirido. E o usuário, coitado, nunca sabe se está adquirindo uma raridade ou apenas mais um peso morto para o apartamento pequeno. Ironia da história: enquanto o eBay envelhece como plataforma quase vintage, o conceito que ele pariu se espalhou como religião global. O “compre agora” virou mantra, e o botão do PayPal, oração cotidiana. No fim, Omidyar provou que somos todos arqueólogos das próprias inutilidades, leiloando esperança a cada clique. O eBay é menos site e mais sintoma: o consumismo sempre encontra novo altar.

PIB cresce 0,4%, manchetes vibram, mercado se anima e o povo continua comendo fiado na bodega porque estatística não paga boleto atrasado
O IBGE anunciou: o PIB cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025, atingindo R$ 3,2 trilhões. É o 16º trimestre consecutivo de alta, recorde histórico. Palmas? Talvez. Mas a desaceleração é evidente: o crescimento de 1,3% no trimestre anterior virou quase nada agora. A agropecuária caiu, mas os serviços salvaram o placar. O mercado vibra com a “resiliência da economia”, analistas escrevem relatórios e o governo agradece o alívio estatístico. Mas na vida real, o que significa 0,4%? Talvez uma pizza de mussarela em vez de calabresa no sábado. Ou o fiado que aumenta na vendinha, enquanto o investimento recua 0,2%. O consumo das famílias até cresceu, mas provavelmente mais no crediário do que na renda. É uma recuperação de PowerPoint: cheia de gráficos ascendentes, mas com gente descendo ao caixa eletrônico para sacar até o último centavo. O PIB é o espelho mágico da economia: sempre mostra um país mais bonito do que aquele que aparece no transporte lotado das seis da manhã. A festa dos números não serve cerveja ao público — só estatísticas mornas.
Oposição clama por anistia, chama STF de teatro e marca 7 de setembro para o grande revival golpista: o Brasil, sempre entre circo, missa e comício
Na Câmara, a oposição a Lula insiste que o presidente da Casa, Hugo Motta, deve cumprir a palavra e pautar a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro — incluindo, claro, Jair Bolsonaro. É o roteiro clássico: transformar tentativa de golpe em “ato patriótico” e julgamento no STF em “peça de teatro”. Deputados do PL e aliados se reúnem em apartamentos funcionais para planejar a narrativa: não vão lotar o julgamento, porque sabem que perderam no voto, então apelam para o enredo. Caroline de Toni chama o dia de hoje de “vergonha nacional”, enquanto Zucco fala em “pacificação”. O 7 de Setembro foi escolhido como palco de protestos: querem colorir as ruas com verde e amarelo, como se fosse desfile cívico, mas com roteiro de revanche. O Centrão, sempre pragmático, não demonstra entusiasmo: prefere negociar cargos do que bandeiras. No fundo, o embate é esse: enquanto a economia celebra estatísticas e o PCC lava dinheiro em drogarias, a política insiste em encenar melodrama barato. O Brasil, afinal, não é país de futuro; é teatro de temporada, onde o mesmo elenco se repete com falas cada vez mais cansadas.

Última atualização da matéria foi há 3 semanas
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Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.
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