Google IA, SAFs, Mounjaro…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
SAFs, bancos, deputados e a eterna pelada tributária: quando BTG, XP, Cruzeiro e companhia driblam o Congresso e tentam marcar gol de pênalti sem goleiro
As Sociedades Anônimas do Futebol resolveram largar o gramado para ocupar o gramado de Brasília. BTG (no papel de técnico do Fluminense), XP Investimentos (o lateral-direito da Portuguesa) e Pedro Lourenço (o cartola do Cruzeiro com ar de mecenas mineiro) formam agora um esquema tático mais próximo do 4-4-2 de bastidor do que de qualquer 4-3-3 em campo. O alvo é o novo arcabouço tributário, aquele árbitro que não aceita suborno de torcida e apita pênalti com VAR e tudo. No Congresso, dois senadores viraram gandulas de luxo: Carlos Portinho, relator da Lei das SAFs, e Eduardo Braga, líder do MDB que ainda acredita na tática do “vamos conversar”. A manobra é um pouco de tudo: lobby, promessa de ADIs no STF e cara feia para foto no jornal. O problema é que o placar mostra 1×0 contra as SAFs, graças à Lei Complementar 214/2025, que eleva a tributação até 8,5% da receita bruta em 2033 — um escanteio fiscal que mais parece cobrança de falta direta. Hoje a mordida é de 5% e cairia para 4%, mas o fisco resolveu mostrar o cartão vermelho. Os investidores juram que ninguém vai mais querer brincar de clube-empresa com essa conta; a realidade é que o futebol brasileiro sempre sobreviveu a cartolas, tabelas e tribunais. E, no fundo, Brasília adora quando um time reclama do juiz.
Brasil bate 30 mil transplantes, mas fila de espera ainda parece roteiro de tragédia grega: esperança, suspense e um ato final incerto
O Brasil ama números superlativos: maior festa do mundo, maior programa de vacinação do mundo, maior fila de transplantes do mundo. Em 2024 foram mais de 30 mil procedimentos — um recorde digno de comercial oficial com música emotiva ao fundo. Só que, entre os bastidores, 78 mil pessoas ainda esperam por um órgão como quem espera pelo próximo ônibus no subúrbio às 23h30. Rim, córnea e fígado continuam na liderança desse campeonato involuntário. Um único doador pode salvar até oito vidas, dizem os cartazes, mas o drama real é convencer as famílias — afinal, o gesto mais generoso da medicina brasileira ainda depende do aval doméstico. O SUS, por sua vez, vira herói improvável, mantendo de pé um sistema público gigantesco enquanto países ricos privatizam até o ar. Sim, há avanços: logística melhor, captação mais ágil, equipes treinadas. Mas enquanto celebramos o ranking global, continuamos com a fila — o eterno dilema brasileiro de bater palmas para o progresso enquanto mantemos os problemas estruturais no porão. É a mistura de milagre, burocracia e jeitinho que só o Brasil consegue oferecer.

Lei Maria da Penha faz 19 anos: marco histórico, mas o patriarcado brasileiro ainda joga na prorrogação sem juiz nem VAR
Em 22 de setembro de 2006 entrava em vigor a Lei Maria da Penha, aquele dispositivo legal que prometia acabar com a violência doméstica ou, no mínimo, tirar os agressores da zona de conforto. Passados 19 anos, o Brasil coleciona estatísticas tão vergonhosas quanto previsíveis: feminicídios em alta, redes de acolhimento precarizadas, denúncias ignoradas em delegacias. É claro que a lei representou avanço civilizatório e virou referência internacional. Mas no país do “deixa disso”, agressor continua alegando “ciúme” ou “momento de fraqueza” como atenuante e ainda posa de vítima de um suposto complô feminista. O judiciário, com frequência, aplica medidas protetivas com prazo de validade moral. E o Legislativo, sempre disposto a retrocessos, ameaça o arcabouço de direitos sob pretexto de “revisão”. Assim, a Lei Maria da Penha é símbolo de resistência, mas também de frustração: um diploma normativo poderoso convivendo com uma cultura patriarcal que se renova a cada eleição, reality show e corrente de WhatsApp. O Brasil aplaude a lei enquanto dá palco ao machismo.
Google lança Modo IA em português e promete reinventar a busca — ou apenas substituir o bom senso por respostas automáticas cada vez mais confiantes
O Modo IA da busca do Google finalmente fala português do Brasil, aquele idioma onde “jeitinho” é substantivo e verbo. Integrando o modelo Gemini 2.5, a novidade traz respostas personalizadas, automação de tarefas e promessas de uma vida digital mais prática. Só não avisa que, junto, vem o risco de uma bolha de informações tão confortável quanto enganosa. É como se o oráculo de Delfos tivesse virado um app: pergunta qualquer coisa e receba uma resposta plausível, ainda que equivocada. O Google vende a ideia de que vai manter os links e o tráfego dos sites, mas publishers já preparam as carpideiras virtuais. A ferramenta entende texto, imagem, áudio — praticamente lê pensamento. A cereja do bolo é a IA Agêntica, espécie de assistente automático com superpoderes. Tudo lindo, mas as mesmas preocupações de sempre se repetem: erros, vieses, alucinações. Em troca do conforto digital, entregamos dados, padrões de comportamento e soberania cognitiva. A busca virou um buffet de respostas prontas e nós, usuários, consumidores de certezas reluzentes.

Anvisa apreende lotes falsos de Mounjaro e Opdivo: quando a pirataria farmacêutica transforma remédio em roleta russa química
A Anvisa anunciou a apreensão de lotes falsificados de Mounjaro, remédio para diabetes e obesidade, e de Opdivo, usado em alguns tipos de câncer. É o ápice do capitalismo paraguaio em versão subcutânea: o consumidor injeta um produto que deveria salvar vidas, mas pode ser apenas álcool com corante. A Eli Lilly e a Bristol-Myers Squibb juram não reconhecer os lotes, o que transforma o ato de se medicar em um salto de fé. Num mercado em que a tirzepatida original só existe via injeção subcutânea, pipocam anúncios de pílulas mágicas, sprays nasais e chips futuristas — nenhuma delas aprovada. E como tudo isso é vendido? Pela confiança cega, pela promessa de corpo perfeito, pela precariedade de fiscalização. O alerta da Anvisa é cristalino: conteúdo, origem e qualidade são desconhecidos. Mesmo assim, a demanda cresce, movida pela pressa estética e pela medicalização do cotidiano. No fundo, estamos diante da versão química do contrabando de streaming: barato, fácil, arriscado. A diferença é que aqui a “falha no sistema” pode custar a vida.
Banco Central da Argentina vende dólares como quem distribui panfletos em comício: Milei, Caputo e a política do “último dólar” em plena maratona cambial
O Banco Central argentino voltou a queimar reservas para segurar o dólar, e a cena lembra um mágico tirando lenços infinitos do bolso — só que os lenços acabaram faz tempo. Em três dias foram US$ 1,11 bilhão injetados para defender a cotação. Luis Caputo promete vender “até o último dólar”, e Javier Milei repete que “todo o pânico é político”. Na prática, as reservas líquidas rondam US$ 6 bilhões, uma espécie de caixa-preta prestes a zerar. Analistas discutem soluções que fariam qualquer Chicago Boy corar: voltar ao “cepo” (controle de câmbio), suspender bandas, taxar compra de dólares ou desvalorizar o peso de vez. Todas as opções são politicamente tóxicas e economicamente traumáticas. O dólar no atacado encosta no teto, os paralelos explodem, e a retórica libertária vai se dissolvendo em intervenções cada vez mais clássicas. A promessa de “tornar a Argentina grande de novo” tropeça na matemática do FMI e no pragmatismo de um BC que ainda acredita em milagres de curtíssimo prazo. A crise cambial é, no fundo, um tango: dramático, previsível e com final que ninguém admite.
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setembro 10, 2025
Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.
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