Hibristofilia: “doença” brasileira – e mundial
É cada vez mais comum ver criminosos de altíssima periculosidade cercados por fãs devotos, defensores fervorosos e até pretendentes amorosos. Não se trata de um fenômeno isolado nem de uma excentricidade da internet: tem nome, tem história e, acima de tudo, tem impacto social. A hibristofilia — termo usado para descrever a atração sexual ou emocional por pessoas que cometeram crimes violentos — parece ter saído dos estudos psicológicos para se tornar quase uma praga cultural contemporânea.
A hibristofilia não apenas continua existindo: ela se atualizou, ganhou fôlego nas redes sociais e se infiltrou em discursos políticos, reality shows e debates públicos, muitas vezes escamoteada sob o véu de um “romantismo incompreendido”, “revolta contra o sistema” ou “injustiçados pela mídia”. O Brasil, infelizmente, está longe de ser imune a essa patologia afetiva — pelo contrário, parece tê-la naturalizado.
“Criminosos passam a ser vistos como vítimas do sistema, enquanto as verdadeiras vítimas são esquecidas ou ridicularizadas. Em certos nichos ideológicos, o discurso de defesa da ordem convive com o flerte com a barbárie.”
Casos emblemáticos ilustram bem o fenômeno. Suzane von Richthofen, por exemplo, após ser condenada pelo brutal assassinato dos próprios pais, teve ao longo dos anos uma fila de admiradores, casou-se na prisão, separou-se, e virou figura de culto em redes sociais. O mesmo aconteceu com Daniel Cravinhos, seu cúmplice no crime, que também desfrutou de uma popularidade obscena. Mais recentemente, o caso de Lázaro Barbosa, o assassino em série do Distrito Federal, mobilizou uma onda de apoio bizarra nas redes — com frases como “Lázaro, se entrega para mim”, estampadas em memes e camisetas. Em todos esses exemplos, não se trata apenas de uma morbidez passageira: há identificação, fetichização e glamourização da violência.
A hibristofilia não nasce do nada. Ela se alimenta de fatores sociais, culturais e até midiáticos. Em um mundo onde a fama é mais valorizada do que a ética, não surpreende que criminosos famosos se tornem “celebridades invertidas”. A romantização da violência encontra terreno fértil num imaginário popular que ainda oscila entre a repulsa moral e a fascinação irresistível.
O culto ao criminoso e a erosão da moral pública
Nas redes sociais, o fenômeno atinge novos níveis de exposição. Mulheres (e também homens) declaram-se apaixonadas por estupradores, assassinos, estelionatários e líderes de facções. Criminosos ganham seguidores em massa, recebem cartas, presentes e propostas de casamento. É como se o crime, uma vez viralizado, se tornasse sinônimo de desejo. A mídia, muitas vezes, colabora com isso ao oferecer cobertura sensacionalista, ignorando os limites entre informação e espetáculo.
Há um componente psicológico importante na hibristofilia. Especialistas apontam que muitas pessoas que se atraem por criminosos buscam figuras de poder, de dominação, ou acreditam serem capazes de “salvar” ou “curar” o infrator. É o velho mito da Bela e a Fera, em versão contemporânea e grotesca. Mas o problema vai além da psicologia individual: há um sintoma coletivo nisso. Vivemos tempos de profunda desilusão institucional, insegurança afetiva e carência de referências morais sólidas. Num cenário como esse, o transgressor ganha um charme perigoso.
No plano internacional, o problema é idêntico. Ted Bundy, nos Estados Unidos, foi cortejado por mulheres mesmo após ser condenado por dezenas de assassinatos. Richard Ramirez, o “Night Stalker”, casou-se na prisão. Anders Breivik, o terrorista norueguês que matou 77 pessoas, também recebe cartas românticas até hoje. Esses nomes viraram, para alguns, símbolos de masculinidade distorcida, de rebeldia, de “força brutal” — uma inversão completa de valores.

No Brasil, a hibristofilia parece ainda mais visível porque se mistura com a cultura da impunidade, da hipermidiatização da tragédia e da polarização política. Criminosos passam a ser vistos como vítimas do sistema, enquanto as verdadeiras vítimas são esquecidas ou ridicularizadas. Em certos nichos ideológicos, o discurso de defesa da ordem convive com o flerte com a barbárie. A justiça vira espetáculo, e o criminoso, protagonista sedutor.
É urgente discutir isso com seriedade. A hibristofilia é mais do que uma excentricidade amorosa: é um reflexo sombrio de nossa relação com o poder, a violência e o desejo. Naturalizar esse fenômeno — ou tratá-lo com indulgência — é contribuir para o colapso do pacto civilizatório. Quando começamos a desejar quem destrói, talvez seja sinal de que há algo muito errado na forma como nos relacionamos com a justiça, o afeto e a própria noção de humanidade.
Última atualização da matéria foi há 4 meses
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Emanuelle Plath assina a seção Sob a Superfície, dedicada ao universo 18+. Com texto denso, sensorial e muitas vezes perturbador, ela mergulha em territórios onde desejo, poder e transgressão se entrelaçam. Suas crônicas não pedem licença — expõem, invadem e remexem o que preferimos esconder. Em um portal guiado pela análise e pelo pensamento crítico, Emanuelle entrega erotismo com inteligência e coragem, revelando camadas ocultas da experiência humana.
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