Nicolau II, Geração X, F-35…
Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.
Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.
Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.
Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.
Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.
Donald Trump, o amigo que Lula não pediu: quando o silêncio da Casa Branca vale mais que um tweet fora de hora
No Itamaraty, acendeu-se a vela da prudência e abriu-se o guarda-chuva da diplomacia: ninguém quer que Donald Trump acorde inspirado e resolva tuitar sobre a megaoperação policial no Rio. O governo teme que o ex-habitante da Casa Branca transforme a tragédia carioca em palanque eleitoral tropical. Trump, afinal, tem o dom de falar o que não deve — e de transformar até um desastre humanitário em marketing pessoal. Pior: o governador Cláudio Castro já flerta com a retórica “antiterrorista”, como se o Comando Vermelho tivesse declarado guerra à OTAN. A coreografia é quase perfeita: o Rio manda relatório a Washington, o governador adota o vocabulário da CIA, e Lula, acuado, torce para que o americano resolva dormir até tarde. Mas o relógio geopolítico não perdoa: os EUA estão atacando barcos “narcoterroristas” no Caribe, e qualquer palavra mal colocada pode atravessar o Atlântico com a força de um míssil diplomático. Trump, se abrir a boca, pode dar à extrema direita brasileira o presente de Natal antecipado que ela tanto sonha: a bênção imperial sobre o caos tropical.
Câncer precoce: a juventude intoxicada pelo progresso, o fast food e o estresse gourmet
Os dados são cruéis: jovens entre 20 e 40 anos estão adoecendo mais — e de doenças que, até pouco tempo, eram exclusivas das gerações que fumaram, beberam e viveram intensamente. Agora, basta respirar, comer e abrir o celular. Segundo o Instituto Gustave Roussy, na França, os cânceres intestinais, pancreáticos e renais disparam, e ninguém entende direito o porquê. A ciência suspeita dos ultraprocessados, da poluição, do sedentarismo e, quem sabe, da modernidade como um todo. Vivemos em um mundo onde o corpo virou campo de teste para a indústria química e o tempo virou inimigo do próprio metabolismo. A “vida saudável” é, em muitos casos, patrocinada pelas mesmas marcas que vendem refrigerante. O corpo humano, essa máquina de marketing, já não dá conta da ironia que o alimenta.
Nicolau II, o czar que dançou com a História e perdeu a cabeça
Em 1º de novembro de 1894, Nicolau II subiu ao trono russo com o peso de um império nas costas e o ego maior que o Kremlin. Não imaginava que, 23 anos depois, seria deposto, preso e executado com a família numa madrugada de chumbo e revolução. O último czar acreditava em direito divino, mas o povo preferiu o direito à sobrevivência. Sua queda foi o trailer de um século que faria reis fugirem e ideologias sangrarem. Se vivesse hoje, talvez Nicolau tentasse repostar a Revolução de 1917 com filtro sépia e legenda “vida difícil, palácio frio”. A lição que ficou é simples: todo poder que ignora o chão acaba soterrado por ele.

Banho de sangue com aplausos: o dia em que governadores confundiram operação policial com desfile militar
Dois dias após o massacre no Rio, governadores da direita desfilaram no velório da empatia. Ronaldo Caiado e Romeu Zema, presidenciáveis de moral inflamada e números magros nas pesquisas, correram para abraçar Cláudio Castro — o homem que transformou o Complexo da Penha em campo de guerra. Zema, sempre pronto a reinventar o eufemismo, disse que não era “a operação mais letal”, mas “a mais bem-sucedida”. Já Caiado, entre o alazão e o discurso, comemorou o “orgulho” de ver 121 corpos como se fosse um placar de libertadores. O Brasil parece viver uma era em que a morte vale mais do que a vida, e a eficiência policial se mede pelo volume de sangue derramado. No país que aplaude bala perdida, o sucesso virou sinônimo de extermínio. E enquanto as câmeras filmavam os abraços cínicos e as frases de efeito, a pergunta que ecoa é: quando o Estado mata, ele se protege ou se denuncia?
Geração X e o vício invisível: ultraprocessados, dietas de plástico e o doce gosto da dependência
A geração que cresceu com comerciais da década de 1980 — “light”, “diet”, “zero”, “sem culpa” — agora paga o preço da propaganda. Um estudo publicado na Addiction revela que adultos de 50 e 60 anos, especialmente mulheres, desenvolveram dependência de alimentos ultraprocessados. O vício não está em garrafas nem em seringas, mas em embalagens coloridas com promessas de saúde instantânea. Chocolate “fit”, barra de proteína “natural”, refrigerante “zero”: tudo calibrado para ativar o sistema de recompensa cerebral e garantir um prazer de micro-ondas. A Yale Food Scale mede a fissura alimentar com a precisão de um alcoômetro: quem tenta parar sofre abstinência, ansiedade e culpa. Ironia suprema: a geração que desprezava o crack agora enfrenta a pedra do açúcar industrializado. O “fast food” venceu o tempo, mas não sem cobrar a conta metabólica.

Trump recua (por enquanto): navios, fentanil e a ficção de uma guerra moral no Caribe
Donald Trump negou que planeje ataques à Venezuela — o que, no universo trumpiano, significa exatamente o contrário. O magnata voltou a posar de pacificador enquanto envia destróieres, submarinos nucleares e caças F-35 para a região. É a diplomacia do “não estou atacando, só estou mirando”. O novo Departamento de Guerra, rebatizado com orgulho, age como se Caracas fosse a Medellín dos anos 1980. As Nações Unidas chamam de “execuções extrajudiciais”, mas Washington prefere “operações de liberdade química”. O problema é que o vilão está no endereço errado: o fentanil que mata 70 mil americanos por ano vem do México, não da Venezuela. Ainda assim, o governo precisa de um inimigo — e Maduro serve melhor que um laboratório farmacêutico. Os generais assinam acordos de sigilo, a CIA brinca de esconde-esconde tropical, e o mundo observa, entre o riso e o pavor, o império mais armado da Terra tentando vencer uma guerra contra fantasmas.
Tarifas, Sam Smith, Bolcheviques...
novembro 7, 2025PCC, Claudio Castro, Morrissey...
novembro 6, 2025Dick Cheney, Obama, aéreas...
novembro 4, 2025Magna Fraus, Laika, CPI...
novembro 3, 2025Kim Kardashian, Saci, Gayer...
outubro 31, 2025PL, Ciro Gomes, Tsar Bomba...
outubro 30, 2025ARPANET, CV, Telefone Preto 2...
outubro 29, 2025Cosan, Lionel Messi, Radiohead...
outubro 28, 2025Bradesco, semicondutor, PT...
outubro 27, 2025A380, Penélope Nova, NBA...
outubro 25, 2025ONU, Tupac, F1...
outubro 24, 2025Fux, extradição, La Santé...
outubro 23, 2025
Franco Atirador assina as seções Dezaforismos e Condensado do Panorama Mercantil. Com olhar agudo e frases cortantes, ele propõe reflexões breves, mas de longa reverberação. Seus escritos orbitam entre a ironia e a lucidez, sempre provocando o leitor a sair da zona de conforto. Em meio a um portal voltado à análise profunda e à informação de qualidade, seus aforismos e sarcasmos funcionam como tiros de precisão no ruído cotidiano.




Facebook Comments