Os caminhos reais da Telemedicina no Brasil
Desde 2020, com o início da pandemia de Covid-19, a teleconsulta passou a ser regulamentada de forma emergencial no Brasil. Neste período, devido à eficiência da modalidade, profissionais da medicina e pacientes se adaptaram ao atendimento remoto: de acordo com a Federação Brasileira de Hospitais, entre 2020 e 2021, foram realizadas mais de 7,5 milhões de consultas online, sendo que 87% delas foram primeiras consultas. Os últimos dois anos intensificaram a prática da teleconsulta e, no início de maio de 2022, foi publicado no Diário Oficial da União a regulamentação da telemedicina (Resolução CFM n. 2,314/22). O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou as normas que devem ser seguidas pelos profissionais, e elas já estão vigentes em todo o território nacional. “O fato de ter empreendido anteriormente em segmento tradicional, e atuar com startups há quase 10 anos ajuda muito na estruturação do negócio, networking e principalmente, colocar em prática, modelos que acompanhei ao longo da carreira. O universo de startup diferente do corporativo é muito mais dinâmico. Sem tantos recursos, sem processos organizacionais e sistemas, o grande objetivo é validar o modelo de negócio, tem que ser pragmático, planejar, testar/validar, ajustar e executar”, afirma Thiago Soeiro, CEO e founder da E-doutor Saúde com exclusividade para o portal Panorama Mercantil.
Thiago, o crescimento da Telemedicina teve como fator principal a pandemia da Covid-19?
A Telemedicina já vinha ganhando espaço no Brasil, a pandemia acelerou o processo, fomento, conscientização e utilização da tecnologia na cadeia de saúde, e principalmente trouxe a pauta da regulação da Telemedicina.
Como se situa a Telemedicina atualmente?
Acredito que neste ano, a Telemedicina vem passando por um processo de maturação, encontrando seus locais de maiores sinergias e abrindo novas frentes de atuação. Exemplo disso é o que estamos fazendo com o E-doutor, fornecendo Telemedicina para uma população que tinha dificuldade em acessar serviços de saúde.
Antes desse evento histórico e de proporções graves, a Telemedicina caminhava para qual direção?
A Telemedicina sempre caminhou no mesmo sentido: ocupar o nicho onde o atendimento presencial não é necessário. Essa direção não mudou, o que aconteceu com a pandemia foi a aceleração desse processo.
Quais as principais tendências atuais desse setor?
As tendências principais desse setor são:
1- Interiorização – a Telemedicina está, no Brasil, cada vez mais se deslocando para os pequenos centros, locais, historicamente, com baixa incidência de serviços de saúde e carência de médicos especialistas.
2- Concentração – o setor da saúde está muito aquecido nos últimos anos e a Telemedicina é um ponto estratégico para as grandes corporações. Portanto, acreditamos que haverá um processo de fusão e aquisição de empresas do setor nos próximos 2 anos.
Como essas tendências vão modelar o futuro da Telemedicina?
No geral, haverá uma maior facilidade de acesso à saúde, pois, temos um serviço que acrescenta possibilidades de atendimento e que, ao mesmo tempo, retira a sobrecarga do atendimento presencial se considerarmos que mais de 70% da demanda dos prontos socorros e consultórios pode ser resolutiva com a Telemedicina. Também teremos um processo ativo de polarização em torno de grandes players (planos de saúde, grandes redes educacionais, grandes redes hospitalares) nacionais e internacionais com os processos de fusões e aquisições.
Quais os principais dispositivos que aliam a tecnologia e a prevenção de saúde de uma forma natural e que estão dentro da Telemedicina?
Os principais “dispositivos” que aliam a tecnologia e a prevenção de saúde são os profissionais da área da saúde. O papel da Telemedicina é ser um canal de fácil acesso desses profissionais ao seu público-alvo (pacientes), a Telemedicina não exclui o médico, o enfermeiro, o fisioterapeuta e demais profissionais, pois, são eles que executam a prevenção. A Telemedicina age como um aliado nesse setor, mesmo que dispositivos, porventura possam ser conectados para aferir sinais vitais a distância, eles serão facilitadores, pois, a tomada de decisão sempre estará com esses profissionais.
Em que momento surge a ideia da E-doutor Saúde?
A E-doutor surgiu quando uma pessoa próxima em viagem internacional fez uso do serviço, a praticidade, resolutividade e acessibilidade me surpreendeu. Na oportunidade já estava inserido em operadora de saúde, tenho amigos e familiares na área da saúde, então reuni essas pessoas em casa para falar sobre esse projeto, e depois do brainstorm, iniciamos MVP. É impensável um país da extensão do Brasil, com discrepância social, e mais de 70% da população sem plano de saúde, não ter até aquele momento uma regulação para esse serviço.
Quais são os principais pilares da empresa?
A E-doutor nasce com propósito social em democratizar o acesso à saúde primária no nosso país, é possível proporcionar acesso a classes menos favorecidas, e provocar uma mudança estrutural positiva no sistema de saúde. A ação de prevenir é melhor que remediar e gera um grande impacto na população. Levamos acesso a médicos, de diversas especialidades, a locais que nem sequer tem pronto atendimento, no Brasil e na África.
Como a sua experiência com startups está sendo fundamental para a execução desse projeto?
O fato de ter empreendido anteriormente em segmento tradicional, e atuar com startups há quase 10 anos ajuda muito na estruturação do negócio, networking e principalmente, colocar em prática, modelos que acompanhei ao longo da carreira. O universo de startup diferente do corporativo é muito mais dinâmico. Sem tantos recursos, sem processos organizacionais e sistemas, o grande objetivo é validar o modelo de negócio, tem que ser pragmático, planejar, testar/validar, ajustar e executar.
A conexão entre profissionais e pacientes têm sido satisfatória até aqui?
Dados da Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital (Saúde Digital Brasil) mostram ainda que o índice de resolutividade dos atendimentos nas consultas de pronto atendimento foi de 91%, e 90% utilizariam o serviço novamente. O NPS (Net Promoter Score) do serviço é 89, uma pontuação classificada com nível de excelência, indica a satisfação com o atendimento recebido, e ainda, a maioria dos pacientes (98%) afirmam que, caso não houvesse teleassistência, iriam buscar atendimento presencial.
O que vislumbra para o futuro da E-doutor Saúde?
Com acessibilidade vamos mudar a cultura da população em relação aos cuidados preventivos, proporcionando qualidade de vida, prosperidade, longevidade, e até desenvolvimento econômico. O que nos motiva é o impacto gerado na vida de milhares de pessoas.
*Com participação do doutor Bruno Topis.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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