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Os efeitos do isolamento na pandemia da Covid-19

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Com o prolongamento da pandemia, os dados de atendimentos em consultórios de pessoas afetadas mentalmente pelos efeitos do isolamento, do medo, da tristeza, da situação econômica são alarmantes. Além do aumento de tentativas de suicídios, de casos de depressão, ansiedade e ataques de pânicos, houve também uma alta nos registros de doenças orgânicas associadas. Um dos maiores fatores vistos por psicoterapeutas são pessoas com doenças graves que se entregam ao negacionismo e ao excesso de medicamentos. “Há uma tendência da população em tratar apenas a doença do corpo físico e ignorar a importância do cuidado com a mente. Na maioria dos casos, os remédios sozinhos não são capazes de curar, principalmente quando a cabeça está adoecendo também. Integrar com seriedade o tratamento, unindo corpo e mente, tem efeitos fantásticos na recuperação da saúde física”, explica Maria del Mar Cegarra Cervantes, psicóloga, psicoterapeuta, formadora internacional e escritora. De acordo com o criador da psicologia analítica, Carl Jung, a doença nasceu para curar o homem. A partir dessa premissa, a psicoterapia somática explica que o corpo é um campo informacional, capaz de nos alertar sobre os desequilíbrios internos por meio de doenças. A maioria das patologias são frutos de circunstâncias integradas, tanto físicas, quanto mentais e genéticas.

Doutora, como a saúde mental tem se deteriorado durante a pandemia?

A saúde mental é uma das consequências mais pioradas na pandemia, devido ao stress, devido ao medo, devido ao efeito de estarmos fechados, da perda dos familiares, das dificuldades de contato com entes queridos, da liberdade de sair à rua, do medo do vírus, da incerteza das notícias, das questões políticas ou por tudo junto. As pessoas têm estado (e estão) num estado de stress. Sabemos hoje que o stress é o grande inimigo para outros tipos de doenças, mas sem dúvida neste caso, a saúde mental tem se deteriorado com manifestações como alterações que ocasionam distúrbio do sono, crises de ansiedade generalizadas, maiores ataques de pânico, mais obsessões, fobias, muita depressão, compulsões, medos atípicos, alterações do humor, muita agressividade ou muita hipotonia. Extremos que estão nos levando aos estudos dessas patologias. Portanto, é algo muito importante para termos em conta, porque muitas vezes é uma doença silenciosa [stress], mas que está causando estragos nos vínculos, nas pessoas, nas suas competências, na motivação, etc.

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Quais os principais reflexos dessa deterioração?

Falta de energia, falta de motivação, questões de apatia, dificuldade nos relacionamentos, mais irritabilidade, uma baixa resiliência. Também é verdade que há pessoas que estão na outra polaridade, mas mesmo os que estavam indo bastante bem, tiveram cansaço com o passar o tempo e tensão constante, como se fosse um Burnout numa forma generalizada. Isso reflete tanto na saúde mental como orgânica, como nas competências de vínculo. Nas competências de sociabilização (dependendo das faixas etárias e das idades) tem tido características muitas próprias. As crianças estão tendo atitudes parecidas com Asperger e outras que ainda não tem nome pelo fato de estar muito fechadas em casa. Temos também uma falta de relação saudável ou ampliada com outras pessoas, o medo dos pais, as perdas e as situações de stress como a falta de dinheiro… Sem dúvida isso reflete na motivação, na alegria, na resiliência, na saúde orgânica e na energia disponível para a alegria. Temos também muito pessimismo. Isso são o que mais temos notado, além de agressividade, compulsões, etc.

Como ter uma mente mais sadia em tempos tão caóticos?

Sem dúvida é um desafio, já que grandes momentos de crise envolvem melhores, mais profundas e mais intensas respostas porque assim exige o momento. Portanto, temos que ter a consciência, a dedicação e o alerta saudável para poder ver onde estão os gatilhos que nos levam a comportamentos e estados de maior ansiedade e dificuldade. Isso é muito importante. Por exemplo, pequenas micro pausas durante o dia traz qualidade na respiração. Quem puder e sem dúvida se interessar, pode aprender a meditar ou fazer pausas de qualidade. Também podem comer um pouco mais saudável, já que nesse período se tem uma compulsão para comidas tóxicas.

Uma alimentação e uma informação alimentícia melhor, pausas durante o dia, algum tipo de exercício físico que não precisa ser muito intenso, mas que seja suficiente para durante o dia os corpos se sentirem que estão ativos e sobretudo cultivar as relações, seja no canal que for possível. Claro, não fazer de uma forma exagerada para não estar conectado o tempo todo, já que se tem outras questões perigosas para a própria saúde, mas cultivar os vínculos que se tem mais próximos e dedicarmos a fazer um trabalho de generosidade, de amorosidade, aprendendo sobre nós mesmos, além de ler mais livros e ficar menos digital, ouvir música… sobretudo cuidar das necessidades básicas como algo que é precioso. Uma boa hidratação, uma boa alimentação, boas pausas, fazer um trabalho pessoal, olhar para o nosso interior, cuidar dos vínculos que temos mais próximos para que eles fiquem mais sadios e melhores. Cuidar do nosso campo mais íntimo o melhor possível e criar raízes/estruturas sólidas para fazer frente ao que está do lado fora.

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Praticamente temos um “hard news” sobre a Covid. Quanto isso é prejudicial para a mente?

Realmente as notícias, as dificuldades, a crise instalada, o medo de não sabermos o que vai acontecer, sem dúvida é muito prejudicial no sentido que a pessoa pode só olhar para isso. Ter contato com a realidade de algo que é uma agressividade, uma crise, uma ameaça, é importante porque temos que saber que medidas tomamos de precaução, de cuidado, como a famosa distância de segurança e os cuidados para subir a nossa imunologia. É muito importante subir nossa imunidade, com hábitos bons, com autocuidado e também para termos hábitos de não estarmos constantemente vendo as notícias. Existem muitas notícias no mundo que não são Covid e que são coisas maravilhosas que podemos descobrir. Ficar suficientemente informados uma vez por dia (ou duas vezes por dia), saber como anda o mundo é mais que suficiente, mas devemos olhar para muitas outras coisas que estão acontecendo.

Novas descobertas, curas para muitas outras doenças, formas de subir a imunidade, formas de trabalhar para que o nosso corpo tenha uma boa farmácia interna. Quanto melhor estivermos, poderemos fazer frente a qualquer tipo de doença, inclusive o Covid e outras que são muito piores. As notícias estão acontecendo e sabemos que a mídia muitas vezes está permanentemente falando do mesmo assunto, porque neste momento é o que mais ocupa o espaço, mas é muito importante que saibamos utilizar os canais que temos disponíveis para procurar outras notícias importantes, que são muito saudáveis e que também estão acontecendo, para termos uma perspectiva mais ampliada e não uma visão em torno de um monotema. Não podemos só olhar para isso [Covid] que realmente está acontecendo, mas que é uma parte da realidade. A realidade tem ainda muitos outros lados. Temos o lado da arte, da ciência, da saúde (que segue avançando) dos projetos comunitários, das questões de família, dos cuidados e das conquistas pessoais. Devemos saber que estamos navegando em muitas outras áreas. Devemos abrir a perspectiva sem dúvida, e não ficar com uma única visão.

Efeitos da pandemia na saúde mental, poderão “pipocar” num mundo pós-Covid?

Nós já estamos constatando o que está acontecendo após os confinamentos aqui na Europa e em muitos outros lugares. Ainda não estamos na época pós-Covid, já que ainda falta uma boa temporada, pelo menos mais um ano ou um ano e meio em que os efeitos do que vivemos, seja a crise, seja a própria doença, seja os efeitos secundários disto ou das vacinas, ou do que for, ainda está para vir. Sem dúvida o que percebemos é que este grau de tensão, que está levando ao extremo, é em grande parte oriunda das pessoas que estão operando pelo teletrabalho. Estão trabalhando muito mais do que o habitual. Estamos com muitos gestores de empresas em Burnout, além de familiares e pessoas em casa com os filhos e tantas outras situações.

Temos várias situações, nem todas são iguais, mais no instante que esse mundo entra no medo, com uma quantidade de coisa a se fazer, nesse momento perigoso, sim, o pós-Covid poderá trazer uma ressaca, com dificuldades de voltar para o mundo, mas no final conseguiremos, pois, o ser humano é expert em resiliência e toda crise histórica nos ensina que depois de uma fase caótica, vem uma fase de ressaca, e logo depois vem um ressurgimento e um renascimento fantástico, portanto, isso acontecerá. Até isso acontecer, teremos que passar por uma fase de ressaca. Uma fase de recolher os restos, de estarmos doloridos, de estarmos cansados e muito esgotados. Haverá consequências muito provavelmente mentais, cardíacas, nos hábitos, compulsões, dificuldades psiquiátricas variadas. Haverá outras neuroses sim, isso acontecerá (já está acontecendo). Temos esperança (visto que o medo e o pânico passem) que sairemos mais resilientes. Toda crise tem sempre perigos e uma oportunidade também para sacarmos a melhor versão de nós mesmos, portanto, espero que assim seja… mas sem dúvida ainda falta muito!

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Essa seria a quarta onda da doença que muitos ignoram?

Bem, não sei sé a quarta, a quinta ou a terceira, mas sem dúvida, com essa situação orgânica, não podemos esquecer que a nossa mente, nossa psique, nossa psicoafetiva vai junto. Não deixamos a cabeça em casa para tratar do Covid ou tratar de um câncer. A cabeça, nossas crenças, nossas ideias, o que nos importa, vai conosco para todo lado e se relaciona, faz ponte e tenta se autorregular o melhor que pode com o interior e com o exterior. Portanto, naturalmente se não cuidamos dessa parte, teremos um efeito de consequências para a saúde mental terrível. Sabemos que quando passam meses (e já estamos há mais de uma ano em uma tensão extrema) a mente cede a exaustão, cede ao estresse. A mente cede porque não sustenta tanta tensão e o corpo vai atrás. Todos temos os nossos limites. Limites de sustentar a angústia, a tensão, a preocupação. Isso não é só uma pandemia, ou seja, são os anseios de nossas vidas.

Ali estão os extremos da preocupação. Estão os extremos do trabalho, do esgotamento, de estarmos muito fechados, o que leva as pessoas a degenerar a sua própria parte mental que também é orgânica, já que os circuitos neuronais e a parte dos neurotransmissores (os hormônios) não funcionam da mesma forma. Pode ser muito perigoso se não tomamos uma consciência de que a saúde mental, vai junto com a saúde orgânica. Mente e corpo vão juntos, pois, nunca estiveram separados. Durante muito tempo tiveram formato cartesiano. Mente e corpo vão juntos como já dizia os filósofos: mente sã em corpo são, tudo ao mesmo tempo. Se não cuidamos dos dois, teremos sérios problemas em um, no outro ou até nos dois.

Em que momento o paciente precisa procurar auxílio de um profissional?

Isto é de alguma forma quase a mesma pergunta de quando as pessoas me perguntam como sabem que estão realizando um bom desenvolvimento. A resposta é quando a pessoa acorda com mais vontade de viver, quando ela tem menos distúrbios do sono, quando o apetite está mais regulado, quando ele consegue fazer coisas que lhe fazem bem, quando tem vontade de fazer as suas coisas, de ir ao trabalho, quando se tem vontade de estar com pessoas (garantidamente), quando se é criativo, quando se tem vontade de fazer algo e tem perspectivas de futuro, quando se está bem com o presente… Quando isso se encontra assim, estamos indo num bom desenvolvimento. Quando tudo isso começa falhar, estamos indo numa involução. Estamos entrando num processo patológico. Portanto, acordar sem vontade, ter cada vez mais distúrbios do sono, ou seja, ter dificuldade de dormir cedo, acordar durante a noite, ter dificuldade com as comidas ou comer pior cada vez mais, ter acidez no corpo, não ter energia para fazer as coisas, a criatividade está bastante nula, dificuldade de ler, dificuldade de encarar as pessoas, falta de tolerância… Sabemos hoje que o stress é um dos gatilhos principais para liberar todos os adrenérgicos e cortisóis hormonais que em estado natural, nos ajudam quando temos um medo real, mas quando o medo não é real, ele se transforma num stress negativo que não é o stress desafiador.

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Vamos falar um pouco sobre o stress. É possível que o stress causado pela pandemia, possa levar a um quadro de desmotivação pessoal e profissional?

O stress desafiador é bom porque ele [stress] está me desafiando. O stress patológico é aquele que faz o corpo ir ao seu extremo e ao liberar demasiado cortisol ou adrenérgicos, faz com que o próprio hipocampo que é o grande aprendiz veloz e um dos responsáveis pela criatividade e aprendizagem, não funcionem bem, ficando minguado e reduzido a 30%. Isso significa menor criatividade, menor perspectiva, menos alegria, menos intuição, menos possibilidade de dar resposta aos pedidos da vida. Isso me faz sentir cada vez pior, com menos reposta, com menos autoestima e por aí temos a escada descendente de desmotivação e de nos sentirmos incapazes de dar resposta. Muitas vezes isso se torna depressão, fora todas as doenças e distúrbios da personalidade que podemos ter e que seriam sintomas do stress pós-traumático, já que passando muito tempo isso pode se transformar em um stress pós-traumático ou transtorno de stress pós-traumático, que é a base da maior parte das doenças hoje em dia já diagnosticadas e relatadas no DSM-5 (o livro de diagnósticos mundial de saúde mental). Quando o paciente vê que tem esses itens que falei acima, realmente precisa encontrar o auxílio de um profissional para evitar que se chegue a níveis que podem ser muito preocupantes e que podem comprometer a sua vida, as suas relações, a sua existência e a própria relação com o suicídio (que está sendo nesse momento alarmante), assim como o consumo de drogas e outros inibidores ou anestesiadores.

Os profissionais de linha de frente podem sofrer mais de modo geral?

Os profissionais de linha de frente estão sofrendo muitíssimo, porque lidam com tudo com o que já lidavam e deveria ser considerada uma profissão de risco. Enfermeiros, médicos, auxiliares, profissionais da saúde mental quando estão em urgências (os casos que estamos tendo nos consultórios são gravíssimos), ou quem trabalha com grupos de maus-tratos de tantas coisas, estão no momento lidando com efeitos diretos de tudo isso, sem dúvida estão num terreno que aumentou muitíssimo os graus de exigência, além de que muitos deles têm que estar de máscara o tempo todo (que todos queixamos), tem que lidar com fatos e questões que são muito agressivos para o corpo (aqui não é só motivação pessoal). Eles têm que lidar com um stress enorme. Eles estão tendo que lidar com a vida e com a morte! Depois tem que lidar com o rigor, com um protocolo rigoroso e às vezes com a falta de material. Às vezes faltam possibilidades de ter um equipamento, às vezes falta pessoal (o que todos se queixam em todo lugar do mundo).

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Às vezes falta um planejamento de algo que apanhou todo mundo desprevenido. Somado a isso, esses profissionais estão cada vez mais em Burnout, por isso temos que agradecer muito todo seu trabalho. Penso que eles são muito pouco reconhecidos por todos, já que deveriam ser muito mais reconhecidos. Claro que isso pode levar a um quadro de desmotivação profissional, pessoal, de adoecerem mentalmente e levar a exaustão ou mesmo a loucura. Estamos tendo casos desses porque todo dia é a mesma intensidade. Existem momentos de menos pico, mas de fato há relatos dramáticos dos profissionais de saúde. Sem dúvida e com certeza, temos que ter uma atenção especial para quem está especialmente cuidando dos momentos de estresse que estão acontecendo na linha de frente.

Viagens rápidas podem aliviar o stress. Isso seria uma alternativa?

Hoje em dia se sabe ao nível de neurociência, ao nível de psicossomática, que tudo que são pequenas travagens conscientes com estresse que todos vivemos, tem um efeito no sistema parassimpático que ajuda na regeneração, isto é: seja uma viagem curta, seja uma respiração várias vezes consciente, uma meditação ou momentos de pausa que são conscientemente introduzidos na vida da pessoa, são considerados como balões de oxigênio. São momentos que nosso acelerador do stress fica aliviado. É como se tirássemos o pé do acelerador e pudéssemos colocar um freio suave que ajuda que o organismo não aqueça, não leve aos extremos, não fique tão nos limites de sua tolerância. Isso faz com que o sistema regenerador, que tem a ver com o sistema parassimpático, com o sistema ventral, ou mesmo que tenha a ver com as patinhas dos genes (que tem a ver com o envelhecimento e com a regeneração), fiquem muito melhores. Eles ficam menos comprometidos. Portanto, tudo que são pausas de qualidade, devem ser entendidas como tal, seja ela uma viagem curta, ou seja, um passeio diferente (dando sentido como tal). Não é só o que se faz e sim o sentido que se faz. Pode ser um banho de imersão em casa, pode ser um momento de colocar as coisas de outra forma, pode ser um dia que se faça algo diferente em casa, ou seja, para não ficarmos na “Roda do Hamster” o tempo todo sempre efetuando a mesma coisa.

Criar momentos especiais e diferentes, seja uma viagem curta, seja mudar de cenário, mudar de perspectiva, sem dúvida são elementos, ferramentas e ingredientes necessários para fazer frente a algo que pode ser repetitivo, enlouquecedor e muito tóxico. Por isso é importante “reduzir” o que pode ser tóxico, o que pode ser venenoso, dando tempo ao meu corpo, a minha alma, a minha mente, para dar um respiro aos meus mecanismos de respostas, ou seja, recursos que nunca se esquecem de nós. Podemos esquecer dos nossos recursos, mas eles nunca se esquecem de nós e estão aí disponíveis porque o nosso corpo e nossa mente quer sobreviver e, quer viver e não apenas sobreviver. Se lhe damos tempo, temos uma capacidade de regeneração natural maravilhosa. Para isso temos que dar um respiro. Pausas de variadas formas criativas que ajudem a pessoa a dar um sentido, que seja realmente uma pausa amorosa e empática consigo mesmo e com quem lhe rodeia é sempre benéfica e recomendada.

Olhar para dentro é fundamental acima de tudo. Como fazer com que essa pessoa veja isso da melhor forma possível?

Olhar para dentro é sempre bom em qualquer altura, porque isso significa que temos uma conexão e assim encontro melhor com quem sou, com que eu realmente preciso. Deixar as interferências do que os outros acham para mim e que talvez não é o que quero, portanto, isso dá uma clareza. Isso dá uma possibilidade de clareza que é o aprender a olhar para o interior, sendo que há muitas formas e ferramentas, seja a meditação, seja a psicoterapia. Sem dúvida é vital procurar ajuda, fazer pausas, boas leituras, cuidar melhor do meu corpo, fazer uma reflexão de como tem sido minha vida. A finitude é para todos e sabemos que existe um final que naturalmente é a morte humana e sempre esperamos que seja daqui há muito tempo e o mais tranquila possível. Acontecerá de forma tranquila para alguns e para outros não, mas é parte da nossa vida perceber a finitude. É neste momento onde tudo está acontecendo [pandemia], que parece que a finitude ficou mais óbvia. Sempre é, mas parece que ficou agora mais óbvia. Existe uma ameaça, uma possibilidade de sofrimento, ou de morte, ou de perder alguém e isso nos depara com a possibilidade de cuidar ainda mais da nossa vida. Como podemos fazer da nossa vida algo mais extraordinário e não só algo que deixamos levar por uma crença limitante ou por coisas tóxicas e negativas. Portanto, como dizia anteriormente, a crise é sempre uma possibilidade de perigo e uma possibilidade de reorganização da vida.

Olhar para o interior não é porque seja obrigatório para passar a crise, mas sim uma oportunidade de ver o que posso ganhar. Isto é como com as dietas. Se vejo a dieta para perder peso muitas vezes não resulta em nada. Assim são com as coisas mais complexas. Se vejo como algo que ganharei, como, por exemplo: o que ganharei para fazer uma dieta saudável? Ganharei alegria. Ganharei mais energia. Ganharei saúde. Ganharei coisas pra mim. E agora, o que posso ganhar? Já que o mundo parou de alguma forma. O mundo está enlouquecido em uma forma e está parado em outra forma e eu preciso ir para dentro. Ficar em casa, ficar olhando mais para a minha vida para ver o que posso alterar, como posso cuidar para estar mais saudável, mais imuno, não deprimido. Como posso cuidar dos meus vínculos? Pra isso eu preciso olhar para dentro. Olhar para dentro para perceber a versão de mim que está agora mais disponível. De que coisas gosto? (e quais são as coisas que eu não gosto mais). Quais as que são as possíveis para dizer não… Muitas pessoas agora, que antes não eram capazes, estão tomando decisões que estavam no papel ou estavam na gaveta, mas agora perante um estado extremo de incerteza ou de medo externo, estão sendo possíveis de realizar. Tenho tido a experiência de trabalhar com pessoas de muita idade e é triste esperar que a pessoa chegue a ter muita idade ou ter uma doença muito grave para perceber o que é essencial. Portanto, agora sem estarmos doentes (e tomara que não fiquemos), mas com uma situação grave a nossa volta é uma oportunidade para repensarmos qual é a melhor versão de si mesmo nessa existência, dure quanto dure. Ir para dentro é uma possibilidade para ganhar o melhor contato conosco e com o mundo, nesse período de crise que pode ser muito revelador e uma oportunidade de transformação.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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