Pepe Mujica: um raro poderoso

A morte de José “Pepe” Mujica, aos 89 anos, encerra um capítulo singular na história da política latino-americana — talvez um dos poucos em que ética, simplicidade e poder caminharam lado a lado. O ex-presidente do Uruguai partiu nesta terça-feira (13), vítima de um câncer avançado no esôfago, encerrando uma trajetória marcada por coerência e desapego. Em tempos de líderes blindados por palácios e cercados por privilégios, Mujica destoava com naturalidade: viveu até o fim em sua chácara simples nos arredores de Montevidéu, dirigindo seu Fusca e recusando o luxo do cargo que ocupou entre 2010 e 2015.
Do cárcere vem
quem não quis o poder nu,
mas o dividiu.
Mais do que um símbolo de austeridade, Mujica foi um reformista ousado. Durante seu governo, aprovou medidas pioneiras como a descriminalização do aborto e a legalização da maconha — iniciativas que desafiaram o conservadorismo e projetaram o Uruguai como um país progressista. Não se tratava apenas de liberalismo de costumes, mas de um humanismo pragmático, atento aos direitos das pessoas reais.
Sua trajetória como guerrilheiro do MLN-Tupamaros, preso por quase 15 anos, incluindo longos períodos em solitárias, foi o alicerce de sua filosofia política. Mujica emergiu da cela com a firme convicção de que o poder não era um fim em si, mas um meio para melhorar a vida dos outros. Trazia no rosto o cansaço da luta e no discurso uma sabedoria desarmante, às vezes melancólica, mas sempre direta.
O velho sorri —
mesmo a morte se curva
a quem viveu bem.
A presença de Lula em seu funeral simboliza o reconhecimento de um homem que, mesmo fora do Brasil, inspirou muitos à esquerda. Mas Mujica jamais se deixou engolir pelo personalismo. Nunca quis ser ícone, e por isso tornou-se um. Seu legado talvez não seja apenas o das leis que ajudou a aprovar, mas o da rara combinação entre coragem política e vida coerente.
No teatro do poder, ele foi exceção: um homem comum que se fez extraordinário sem jamais deixar de ser o que era. Um raro poderoso.

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