Bernardo Gradin aposta na empresa GranBio
Bernardo Gradin é fundador e CEO da GranBio, empresa de biotecnologia industrial 100% brasileira que cria soluções para transformar biomassa em produtos renováveis, como biocombustíveis e bioquímicos. É também sócio-fundador da GranEnergia, que atua nos setores de óleo e gás e logística multimodal. Ambas as empresas são controladas pela GranInvestimentos S.A., holding da família Gradin. Formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bernardo possui MBA pela Warton School of Business e mestrado em Política Internacional pela Universidade da Pensilvânia. Desenvolveu sua carreira nas áreas de engenharia, construção e na indústria química. Entusiasta da educação, Bernardo Gradin e sua família mantém o Instituto Inspirare, que tem como missão inspirar inovações em iniciativas empreendedoras, políticas públicas, programas e investimentos que melhorem a educação no Brasil. “A GranBio tem a segunda maior planta de nanocelulose do mundo e mais de 70 patentes, em Thomaston – Geórgia, próximo de Atlanta. Portanto, temos o viés otimista que a nanocelulose já tenha crescimento para escala industrial em, no máximo, quatro anos. Ou seja, vamos surpreender os especialistas. As aplicações são inúmeras, desde substituição de sílica em pneus, ou de químicos na extração de gás de xisto”, afirma o empresário.
Bernardo, como o Brasil está situado na chamada biotecnologia industrial?
O Brasil tem uma posição privilegiada para liderar a chamada biotecnologia industrial. Somos uma potência agrícola em expansão. A produtividade e modernização do agronegócio tendem a crescer virtuosamente com os avanços da genômica, da digitalização no uso das máquinas e com o aproveitamento de resíduos celulósicos para produção de energia, combustíveis e bioquímicos. Ainda temos de superar desafios regulatórios que agilizem a aprovação de avanços da genética aplicada e proteção de propriedade intelectual, além de instrumentos do mercado de capitais que alavanquem novos projetos. Mas, no conjunto, o Brasil tem tudo para ser protagonista global na economia de baixo carbono, energia limpa e nutrição.
Como se dá a atuação da sua empresa nesse mercado?
A GranBio nasceu com a missão de oferecer soluções de energia limpa que reduzam significativamente os impactos humanos no clima. Escolhemos a biotecnologia industrial aplicada na conversão de biomassa em açúcar de celulose e depois transformado em etanol de segunda geração e bioquímicos com pegada de carbono negativa. Parece contraintuitivo, mas nosso alvo é produzir renováveis que reduzam o CO2 atmosférico no balanço do ciclo de vida do carbono.
O que molda a sua visão estando à frente de uma empresa como a GranBio?
Unir uma equipe capaz de produzir um bem comum por meio do empreendedorismo industrial e a aspiração de superar desafios do pioneirismo. A equipe da
GranBio trabalha todos os dias para demonstrar o potencial da bioeconomia e realizar o que parece improvável ou distante, que é evitar os efeitos negativos no clima em uma sociedade global dependente do consumo intenso de carbono fóssil.
Quais os pilares que você destacaria e que foram essenciais para a construção do seu empreendimento?
Além dos valores intrínsecos dos acionistas e o compromisso social da empresa, o ideal de uma economia de baixo uso carbono, o desafio do pioneirismo e a reunião de uma equipe unida e resiliente. Externamente, o ambiente favorável ao empreendedorismo verde vem sendo promovido pelos acordos para o clima (COP’s) e os mandatos de países por energia limpa e crédito para o carbono. A Europa já anunciou mais de 6 bilhões de euros nos chamados “green bonds”. A China vai produzir, em menos de 10 anos, mais etanol que o Brasil e crescente energia fotovoltaica já é uma realidade accessível ao indivíduo em casa. O programa brasileiro do RenovaBio vai proporcionar nova mentalidade e incentivos pela energia limpa com grande impacto ambiental.
O senhor foi líder da Chemical and Advance Materials Community, do Word Economic Forum. Como se deu a sua atuação nesta comunidade?
Fui por dois anos, em 2015 e 2016. Esta é uma função rotativa. O WEF promove um encontro extraordinário de lideranças globais empresariais, governamentais e de ONG’s com o objetivo de pensar e construir pontes pelo desenvolvimento humano, econômico e social. Essa comunidade integra cadeias produtivas em praticamente todos os setores da economia. Minha contribuição foi apoiar a competente equipe técnica do WEF na agenda da bioeconomia e soluções para redução do impacto de emissões industriais no clima.
Os carros elétricos decolarão em larga escala em um futuro não tão distante?
Sem dúvida. O chamado automóvel movido por combustão ou ciclo Otto ainda será maioria por algumas décadas, mas são muito mais ineficientes que os motores elétricos e os híbridos (células de combustível – empregando o hidrogênio do etanol). O desafio está na infraestrutura, avanço das baterias e na qualidade da matriz energética de cada país. Tanto pelo efeito de melhor eficiência como de reduzir a poluição metropolitana. Os mais otimistas acreditam que em 2030 países desenvolvidos já estejam produzindo mais carros elétricos que a gasolina.
Quais fatores serão primordiais para essa decolagem?
Infraestrutura para abastecimento elétrico, avanço das baterias e também redução do preço.
Qual a principal carência do setor de energia em nosso país?
Previsibilidade de regulamentação e política de longo prazo.
Aprendemos algo, na prática com a crise energética do começo dos anos 2000?
Somos ineficientes na infraestrutura, nos tributos, nos incentivos ao investimento e, sobretudo, na regulamentação e na intervenção extemporânea. Tudo isso se dá por falta de planejamento de longo prazo e implementação comprometida. Acredito que temos o diagnóstico da crise de 2000, tenho dúvidas se aprendemos, ou quem “aprendemos”.
Especialistas diziam em 2014, que a nanocelulose só poderia ser usada em escala comercial em aproximadamente 10 anos. Quais os avanços que já temos de lá para cá?
A GranBio tem a segunda maior planta de nanocelulose do mundo e mais de 70 patentes, em Thomaston – Geórgia, próximo de Atlanta. Portanto, temos o viés otimista que a nanocelulose já tenha crescimento para escala industrial em, no máximo, quatro anos. Ou seja, vamos surpreender os especialistas. As aplicações são inúmeras, desde substituição de sílica em pneus, ou de químicos na extração de gás de xisto, como plataforma para impressão 3D ou biotêxteis, até compósitos em bioplásticos e redução do uso de papelão em embalagens. Acreditamos que a nanocelulose competirá com a promessa da fibra de carbono em maior abrangência e em escala.
O senhor é um dos grandes entusiastas quando o assunto é educação. Como fazê-la ser a prioridade número 1 em nosso país?
Nós escolhemos contribuir na melhoria da educação brasileira por meio do Instituto Inspirare e do Portal Porvir, a partir do conceito de uma educação integral inovadora, capaz de promover o desenvolvimento integral dos estudantes, considerando todas as suas dimensões: intelectual, emocional, cultural, física e social. A educação deve ser a maior ambição de um país, de um povo, que permite a liberdade do indivíduo, sua dignidade, independência e o respeito ao outro e ao bem comum. Acreditamos que temos de adaptar a nossa educação ao século XXI e suas circunstâncias cujo principal objetivo deveria ser a autonomia e autoconfiança. Como descrevemos no nosso site, acreditamos que a Educação Integral Inovadora tem como premissa a concepção de que o aluno deve estar no centro do processo de ensino e aprendizado. Para que isso aconteça de fato, é preciso que todos os responsáveis pelo seu desenvolvimento planejem as suas ações a partir da compreensão do perfil das novas gerações, bem como dados específicos sobre cada um dos alunos, incluindo o contexto em que vivem, as suas características pessoais e a forma como aprendem. Também é importante promoverem oportunidades educacionais que façam sentido e engajem os estudantes, além de fazê-los refletir sobre o que e como estão aprendendo. Faz-se necessário ainda que deem espaço para que os alunos assumam autoria e responsabilidade crescentes pela sua educação e colaborem com o desenvolvimento de colegas, professores, escola e comunidade.
Acima de tudo, é preciso assegurar que todos e cada um desses estudantes adquiram as capacidades essenciais para terem autonomia, curiosidade experimental e capacidade de realizar o seu projeto de vida no século XXI. A educação deve se tornar a maior prioridade do Brasil, na prática, além do discurso distante e da esperança de que o Estado resolva sozinho. Para tornarmos a educação prioridade número 1, temos de nos unir todos, todos os dias em um gesto de apoio ao ideal de um país que só será verdadeiramente democrático quando oferecer a todas as crianças uma educação integral digna. A sociedade civil, cada representante do seu jeito, deve se mobilizar e se comprometer pessoalmente para promover a educação solidária e integral em cada comunidade e tomar como meta incansável garantir que todas as crianças aprendam na escola durante todo o período de infância e adolescência. Como fazer isso? Unindo esforços, deixando a queixa ou a crítica de lado e fazendo algo que importe dentro do seu alcance. Desde a gigante Fundação Lehman, uma das maiores e mais impactantes instituições comprometidas com a melhoria da educação brasileira, ao mais importante personagem nessa missão, a professora tenaz, resiliente e apaixonada pela missão de levar conhecimento, curiosidade e vontade de aprender no último rincão rural do Brasil. Cada um contribua com o que tem e pode, e avançaremos no compromisso comum e solidário pela melhor educação das próximas gerações. O “como” é respondido em forma de outra pergunta: O que você tem feito para melhorar nossa educação?
Última atualização da matéria foi há 1 ano
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