Big Data utiliza IA de um modo mais assertivo
Gustavo Ioschpe é fundador e CEO da Big Data desde 2013, atividade que concilia com a participação em diversos conselhos de administração, incluindo o Instituto Ayrton Senna e a Fundação Bienal de São Paulo. Mestre em economia internacional e desenvolvimento econômico pela Universidade de Yale (EUA), Gustavo Ioschpe tem passagem na Folha de S. Paulo como colunista sobre o tema de educação entre 1995-2000 e, posteriormente, se juntou à revista Veja. Com o livro “A ignorância custa um mundo”, ganhou o Jabuti de Educação, Psicologia e Psicanálise de 2005. “Sim. O primeiro passo para a internacionalização foram os vários projetos que fizemos fora do Brasil desde 2017, colhendo lá fora o mesmo sucesso que tivemos no Brasil, confirmando que o nosso produto é bom e funciona fora do país. O segundo passo é a minha mudança para Nova York em janeiro, a fim de consolidar um escritório em território americano. Já a próxima movimentação é fechar o primeiro cliente local nos EUA, o que também está em andamento, dentro do cronograma planejado. Com a operação nos Estados Unidos, a companhia também abrirá frente com as multinacionais e expandirá para as demais regiões. Atualmente a maior parte do faturamento é no Brasil. Porém, em três anos a Big Data pretende inverter e tornar o faturamento internacional mais relevante, de forma orgânica”, afirma o economista.
Gustavo, o que norteia a atuação da Big Data no mercado?
A operação da empresa é norteada pela visão de que problemas complexos precisam ser resolvidos através de muitos dados e a utilização de Inteligência Artificial, e que as empresas que continuarem tomando decisões “manuais” em breve não conseguirão mais concorrer no mercado.
Com um grande volume de dados disponível, por diversas fontes de informação, é humanamente impossível um profissional ler e interpretar estes dados. Desta forma, os algoritmos da Big Data contribuem com esta Inteligência, tomando decisões para apoiar o time de vendas das empresas.
Por meio da Inteligência Artificial é possível avaliar mais de 17 mil variáveis e encontrar informações não óbvias entre compradores, agrupando pontos de venda. Na prática, isso significa que por meio da tecnologia conseguimos ver que um ponto de venda no interior da Bahia é irmã gêmea de outra no Rio de Janeiro, por exemplo, por variáveis como clima, renda, nível educacional, número de linhas de ônibus que passam por estes locais, entre outros. Ao analisar os dados dos grupos, o algoritmo consegue tomar decisões em sortimentos, pricing e promoções que impulsionarão as vendas.
Por que esse norte é tão importante em sua visão?
Quando as empresas realizam ações de marketing e vendas normalmente fazem isso de uma maneira quase que superficial, ao utilizar uma média dos dados do Brasil ou de uma determinada região para tomar as decisões de suas ações. Porém, os métodos de análise tradicionais já não conseguem capturar a maior parte do valor existente no mercado, porque precisam recomendar ações que funcionam “na média”, mas cada ponto de venda tem sua realidade particular, que frequentemente difere muito da média do mercado. Fica óbvio, portanto, que aqueles que conseguirem trabalhar cada realidade de maneira diferenciada terão resultados muito melhores do que quem analisa grandes agregados/médias.
Hoje, temos uma ferramenta de negócios para resolver este problema, com pricing e sortimentos, por exemplo – determinando preços personalizados, loja por loja, dia a dia, em vez de algo padronizado para uma região, impulsionando as vendas. Este norte é tão importante justamente porque pode mudar o jogo para as empresas, além de possibilitar que o time de negócios foque no core business, enquanto a IA da Big Data apoia nos pontos de venda.
Quais os pilares da empresa?
Nosso pilar principal para o mercado é a utilização de Inteligência Artificial e muitos dados para inserir um processo científico na ação de grandes empresas, nas áreas de vendas e marketing. Já internamente, nossos pilares são traduzidos em nossas seis Virtudes: Clientes Primeiro, Somos Donos, Nossa Força é o Time, Paixão pela Excelência, A Melhor Ideia Vence e Somos Intelectualmente Honestos e Curiosos.
Os dados hoje são o novo “rei” do mundo empresarial?
Diria que são, no máximo, o novo “príncipe”: todos sabem da sua importância no futuro, mas continuam seguindo as orientações do rei atual, que é a tomada de decisão 100% humana, com base em alguns dados, experiências pessoais e boa dose de achismo.
Mas é só uma questão de tempo para esse “príncipe” ascender ao trono, porque as empresas que continuarem a trabalhar nesse paradigma antigo, sem IA e deixando os dados conduzir a tomada de decisões, ficarão em breve obsoletas e perderão a capacidade de concorrer.
Qual a importância desses dados para uma tomada de decisão mais assertiva?
Diversos fatores podem influenciar no comportamento e na decisão do consumidor, como renda, clima, logística no deslocamento, histórico de compras anteriores, entre tantas outras variáveis. Saber interpretar isso traz uma vantagem competitiva gigantesca, pois, é possível agregar às estratégias de praças, público e promoção de produtos de maneira personalizada e direcionada, impulsionando as vendas.
Quais as vantagens competitivas de uma empresa que aplica a Inteligência Artificial nas áreas de vendas e marketing?
Aumentar lucro e faturamento.
Imagine uma empresa que vende os produtos certos, no preço certo, no momento certo, com a mensagem certa, pra cada cliente. Competindo com uma empresa que pratica o mesmo preço, vende os mesmos produtos e tem o mesmo marketing para todos os públicos. Não há como esse tipo de empresa mais atrasada conseguir a mesma rentabilidade de uma empresa munida de IA.
A Inteligência Artificial possibilita traçar análises preditivas do comportamento do consumidor em relação aos seus produtos, ou seja, pré-determinar quais serão as compras dos clientes. A partir deste conhecimento, a tecnologia possibilita até mesmo ir além, intencionalmente alterando estes resultados conforme é mais estratégico para sua marca. Este tipo de conhecimento traz uma grande vantagem competitiva, que se traduz em mais market share e a mudar o jogo das vendas daquela empresa.
As empresas brasileiras estão atentas a isso?
Segundo um recente relatório da Endeavor Intelligence, em comparação com países mais desenvolvidos, o setor de IA está em fase inicial no Brasil, com potencial de crescimento. Muitas empresas têm administrado os setores de marketing e vendas com base em métodos tradicionais e experiências passadas, porém, uma cultura baseada em dados vem aos poucos crescendo nas companhias que operam no Brasil.
O uso de dados transformados em Inteligência Artificial está mais maduro no exterior?
Sim, especialmente na China. Nos Estados Unidos e em outros mercados também. Mas é um mercado novo no mundo todo, e não há nenhum motivo para que o Brasil fique para trás. Pelo contrário – com a sua extensão e heterogeneidade, o Brasil tem tanto a necessidade quanto a oferta de dados para ser um dos pioneiros globais em IA em negócios.
Vocês têm buscado sobretudo empresas FMCG nos EUA. Quais os maiores desafios quando se busca empresas desse setor para realização de negócios?
Em primeiro lugar, a cultura. Uma empresa que trabalha de uma maneira há décadas e vem tendo sucesso tem dificuldade de notar que aquilo que funcionou até aquele momento não é o que vai levar ao sucesso daqui a dez anos.
Segundo, nos Estados Unidos, o fato de sermos brasileiros é uma barreira. Não é um país com tradição em tecnologia de ponta. Mas vamos mostrar que esse receio não se justifica. Terceiro, por fim, o ecossistema. Muitas dessas empresas terceirizam suas vendas para distribuidores, ou vendem para grandes redes varejistas e influem pouco na ponta final do negócio. Para ter uma estratégia de IA de sucesso, é preciso ter acesso a todos os dados de vendas e capacidade de execução na ponta.
A internacionalização da Big Data está dentro do planejado?
Sim. O primeiro passo para a internacionalização foram os vários projetos que fizemos fora do Brasil desde 2017, colhendo lá fora o mesmo sucesso que tivemos no Brasil, confirmando que o nosso produto é bom e funciona fora do país. O segundo passo é a minha mudança para Nova York em janeiro, a fim de consolidar um escritório em território americano. Já a próxima movimentação é fechar o primeiro cliente local nos EUA, o que também está em andamento, dentro do cronograma planejado. Com a operação nos Estados Unidos, a companhia também abrirá frente com as multinacionais e expandirá para as demais regiões. Atualmente a maior parte do faturamento é no Brasil. Porém, em três anos a Big Data pretende inverter e tornar o faturamento internacional mais relevante, de forma orgânica.
Qual o grande diferencial da empresa atualmente?
Temos quatro diferenciais importantes.
O primeiro é sermos a primeira empresa do Brasil e uma das primeiras do mundo a trabalhar com IA para o mercado B2B. Isso faz com que tenhamos uma experiência muito grande, o que melhora os nossos produtos. Nós estamos errando, aprendendo e ajustando rotas há 9 anos. Qualquer empresa que começar agora vai passar pelos mesmos aprendizados e demorar muito tempo para trazer um produto com a mesma qualidade do nosso ao mercado.
O segundo é a qualidade do nosso time. Temos muita gente com doutorado e mestrado e – combinação rara – “sangue no olho” e conhecimento de negócios. Essa combinação é insuperável.
O terceiro é a enorme quantidade de dados externos que trazemos aos nossos produtos. São mais de 20 mil variáveis nos EUA, 17 mil no Brasil, boas quantidades em vários outros países. Isso torna o algoritmo muito mais assertivo.
O quarto é o nosso modelo de negócio. Cobramos pouco dos nossos clientes na parte fixa dos contratos e nos remuneramos mais com success fee, a partir dos ganhos dos clientes. Isso faz com que tenhamos 100% de alinhamento com os interesses dos clientes e nos faz mergulhar na parte de negócios, para termos certeza de que criaremos soluções não apenas tecnicamente robustas, mas que realmente geram aumento de lucros para nossos clientes.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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