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Bunga-Bunga: a festa sexual dos ricos

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A expressão “bunga-bunga” tornou-se, há mais de uma década, um símbolo de poder, sexo e espetáculo político disfarçado de libertinagem. Ninguém até hoje sabe ao certo quem inventou o termo, mas o fato é que o falecido bilionário italiano Silvio Berlusconi — primeiro-ministro várias vezes, magnata da mídia, personagem maior que a própria caricatura — transformou a expressão numa marca registrada. Para alguns, era só uma festa extravagante com jovens, champanhe e música. Para outros, um laboratório de excessos que misturava política, sexo e o velho jogo do poder masculino europeu. De qualquer forma, o “bunga-bunga” virou sinônimo de um estilo de vida: o de quem acredita que a vida pública e privada podem se confundir sem pudor.

Historicamente, a primeira menção mais famosa surgiu durante investigações judiciais contra Berlusconi, quando se descobriu que nas suas mansões aconteciam festas noturnas frequentadas por modelos, aspirantes a celebridades e empresários. O “bunga-bunga” virou manchete global, não apenas pelo teor escandaloso, mas pela forma quase farsesca com que foi narrado: ex-governantes sendo interrogados sobre danças sensuais, testemunhas descrevendo coreografias de harém, jornalistas disputando quem conseguia a metáfora mais picante. A tragédia italiana transformava-se em uma ópera bufa internacional.

“Não se trata apenas de gente rica curtindo. Trata-se de um mercado subterrâneo que recruta mulheres, jovens e aspirantes a modelos como figurantes de um espetáculo que, sem elas, não teria público.”

No entanto, reduzir o “bunga-bunga” a um punhado de anedotas é perder de vista o que ele representava. Era mais do que sexo. Era a transformação da política em espetáculo erótico, onde corpos femininos funcionavam como moedas simbólicas e onde a fronteira entre governar e festejar dissolvia-se sob a espuma do champanhe. Berlusconi, que se apresentava como “o homem do povo”, conseguia ser, ao mesmo tempo, o César e o animador de auditório.

O curioso é que, passados os anos, o termo não morreu com o seu criador. Hoje, em vários círculos, o “bunga-bunga” se perpetua como sinônimo de festas exclusivas — algumas até clandestinas — que reúnem ricos, políticos, empresários e celebridades em busca da mesma combinação: luxúria, segredo e poder. Se antes era o espetáculo midiático em torno do premier italiano, hoje o conceito se espalhou como uma espécie de franquia cultural não oficial. E, claro, como toda franquia, adaptou-se aos tempos digitais: há quem organize festas com esse nome em iates no Mediterrâneo, e há quem ofereça experiências “bunga-bunga” em clubes privados da América Latina e do Oriente Médio, anunciados discretamente em convites eletrônicos e mensagens encriptadas.

O legado obscuro do riso fácil

O “bunga-bunga” atual não precisa mais de Berlusconi para sobreviver, porque se tornou categoria do imaginário popular. Ele representa o fetiche pelo proibido: a festa que só alguns podem entrar, onde se paga caro não apenas pelo luxo, mas pela aura de segredo. Mas também mostra algo mais incômodo — a naturalização da exploração e da desigualdade social travestida de hedonismo. Não se trata apenas de gente rica curtindo. Trata-se de um mercado subterrâneo que recruta mulheres, jovens e aspirantes a modelos como figurantes de um espetáculo que, sem elas, não teria público.

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E aqui está a contradição mais mordaz: aquilo que em sua origem foi motivo de riso fácil e piadas em jornais, hoje é retrato de um sistema de poder que ainda se mantém intacto. O “bunga-bunga” pode ter mudado de endereço, de idioma e até de playlist, mas sua essência continua a mesma: a transformação do corpo alheio em ornamento, da intimidade em performance pública, do prazer em instrumento de hierarquia.

Do ponto de vista cultural, a permanência do termo mostra como certas práticas não apenas resistem, mas se globalizam. Ele virou uma espécie de meme histórico — uma palavra que evoca tanto deboche quanto seriedade. Quando alguém menciona “bunga-bunga”, não está apenas falando de festas; está falando de uma era de corrupção política, de uma Itália dividida entre vergonha e fascínio, e de uma sociedade que, no fundo, se acostumou a assistir ao poder como se fosse espetáculo.

Hoje, ao olhar para trás, podemos rir dos detalhes grotescos, mas também é inevitável reconhecer que o “bunga-bunga” foi mais um sintoma de um tempo em que política e entretenimento se confundiam perigosamente. Talvez tenha sido apenas um exagero italiano, talvez um espelho universal. O que é certo é que, mesmo no dias que se correm, a expressão ainda circula, ora como piada, ora como convite secreto, ora como metáfora de uma política que nunca deixou de ser uma grande festa privada paga com dinheiro público.

Silvio Berlusconi transformou a expressão numa marca registrada (Foto: Telegrafi Media)
Silvio Berlusconi transformou a expressão numa marca registrada (Foto: Telegrafi Media)

Assim, o “bunga-bunga” sobrevive como categoria crítica, lembrando-nos que o poder, quando perde a vergonha, transforma-se não apenas em espetáculo obsceno, mas em retrato fiel da sociedade que o sustenta — sorridente, cúmplice e, muitas vezes, indiferente.


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