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Ciro Gomes, Cannes, Pressão…

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Nem todo mundo tem tempo (ou estômago) para acompanhar o noticiário inteiro. É guerra lá fora, escândalo aqui dentro, político fazendo dancinha no TikTok e economista prometendo milagre com inflação alta. Enquanto isso, você tenta sobreviver à vida real. A gente entende.

Por isso nasceu o Condensado: uma dose diária de realidade em 6 tópicos, com informação quente, ironia fria e aquele comentário ácido que você gostaria de ter feito — mas estava ocupado demais trabalhando pra pagar o boleto.

Aqui não tem enrolação, manchete plantada ou isenção fake. Tem olho cirúrgico e língua solta. O que rolou (ou rolará) de mais relevante no Brasil e no mundo vem aqui espremido em 10 linhas (ou menos) por item. Porque o essencial cabe — e o supérfluo, a gente zoa.

Informação? Sim. Respeito à inteligência do leitor? Sempre. Paciência com absurdos? Zero.

Bem-vindo ao Condensado. Pode confiar: é notícia, com ranço editorial.

Santo Agostinho, Arthur Lira e o milagre da castidade tardia: como União Brasil e PP inventaram a “saída sem sair” do Governo Lula, um ato de prestidigitação política digno do Cirque du Soleil de Brasília

Se Santo Agostinho pedia castidade, mas “não ainda”, União Brasil e PP pedem rompimento, mas “não agora” — nem depois, nem talvez nunca. A federação recém-parida já nasceu com DNA de gato siamês: a unha na oposição e o pelo no governo. O PP decidiu que apenas seus eleitos devem largar os cargos, enquanto a manada de indicados continua firme, sobretudo os apadrinhados do presidente da Câmara, Arthur Lira, que seguram o comando da Caixa Econômica Federal com mão de ferro e sorriso de mármore. No União Brasil, a ginástica semântica foi ainda mais olímpica: as “cotas pessoais” das lideranças ganharam status de sagrado direito adquirido, um “sítio de Atibaia” sem Lava Jato. Ministros como Waldez Góes e Frederico de Siqueira Filho viraram patrimônio afetivo do Senado. Resultado: ninguém larga o osso, mas todos fazem pose de independência. O Governo Lula vira um salão de baile onde as siglas dançam conforme a música — e a orquestra é paga pelo contribuinte. No fundo, não é “governabilidade”, é governamentabilidade: arte ancestral de governar sem governar, romper sem romper, demitir sem demitir. Brasília não dorme, apenas pisca lentamente.

PRTB ressuscita Levy Fidelix em espírito e promete Eduardo Bolsonaro presidente virtual: candidatura de holograma, memes e ameaças shakesperianas de Valdemar da Costa Neto

Nas redes, pipoca a fofoca: o PRTB, partido fundado pelo saudoso Levy Fidelix — aquele mesmo do aerotrem eterno — quer lançar Eduardo Bolsonaro à Presidência. A campanha seria 100% virtual, uma espécie de NFT eleitoral do bolsonarismo. Leonardo Avalanche, atual comandante da legenda (nome já diz tudo), teve a epifania após Pablo Marçal cair na vala da inelegibilidade. É o meme que vira urna. Eduardo, para tanto, teria de trocar o PL pelo PRTB, mas Valdemar da Costa Neto reagiu como vilão shakespeariano: “mataria o pai” se o filho ousasse concorrer. Cena digna de drama clássico, mas com enredo de reality show. Analistas veem nisso um truque para manter o engajamento da base, um tipo de test-drive eleitoral do próximo meme. Se der certo, o Brasil pode assistir à primeira candidatura holográfica do planeta. Se der errado, fica pelo menos o espetáculo: cada live de Eduardo virando comício, cada tweet virando panfleto, cada emoji virando promessa de campanha. Em vez de programa de governo, teremos filtros do Instagram.

Cannes 1946, Lula 2025 e a eterna cinefilia de um país que adora estreias atrasadas: setenta e nove anos depois, o Brasil ainda vive o festival da Segunda Sessão

Em 20 de setembro de 1946, Cannes realizava seu primeiro festival, depois de sete anos de adiamento. A França celebrava o retorno do glamour, do cinema e do champanhe; o Brasil, 79 anos depois, ainda espera a estreia do seu próprio roteiro de modernidade. Cannes virou símbolo de sofisticação mundial, enquanto nós transformamos premiação em live de influencer. A história é bonita: do trauma da guerra para o tapete vermelho; das ruínas da Europa para a explosão de talentos como Rossellini, Hitchcock, Buñuel. Mas, por aqui, o festival serve de metáfora involuntária: adiamos reformas, projetos, sonhos, saneamento básico, tudo “para depois da guerra” — que nunca acaba. Somos a Cannes dos projetos interrompidos. É irônico que o festival, símbolo de luxo europeu, tenha nascido do atraso e virado sucesso, enquanto nós, símbolo do improviso tropical, nascemos do atraso e seguimos nele. A cada 20 de setembro, uma lembrança: o cinema recomeçou; o Brasil, nem sempre. E no palco, quem leva a Palma de Ouro? Sempre o jeitinho.

Ciro Gomes, o Dom Quixote do Ceará, pendura as chuteiras e admite que não quer mais “importunar” o eleitor: fim melancólico de um épico eleitoral de quatro derrotas e meia

Ciro Gomes diz que não será mais candidato à Presidência. Em tom de “não fui eu, foi você”, o ex-ministro se despede da corrida presidencial como quem devolve um livro atrasado à biblioteca: com certo alívio e pitadas de amargura. Foram quatro disputas presidenciais — PPS em 1998 e 2002, PDT em 2018 e 2022 — sempre o “quase lá” que nunca aconteceu. Dos 12% ao humilhante 3%, Ciro atravessou décadas dizendo “eu sei resolver” enquanto o Brasil respondia “não, obrigado”. Agora, em entrevista, diz duvidar que alguém possa consertar o abacaxi produzido por Lula e Bolsonaro. É a frase-síntese de um país exausto de messias. Aliados sugerem que ele volte, aproveite o “bate-cabeça” da direita; ele responde que não, obrigado. Talvez Ciro não tenha desistido; foi desistido. Sua trajetória é a tragédia clássica do político brasileiro: começa como estadista, termina como meme. Ou, nas palavras do próprio, “não quero mais importunar” — como se tivesse sido apenas um push notification na tela do eleitor.

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Ciro Gomes disse que não será mais candidato à Presidência (Foto: Agência Brasil)
Ciro Gomes disse que não será mais candidato à Presidência (Foto: Agência Brasil)

Lula, Pedro Sánchez e a utopia do Mercosul-Europeu: telefonemas diplomáticos, condenações protocolares e a coreografia eterna do “acordo histórico” que nunca se assina

Em pleno setembro, Lula liga para Pedro Sánchez para reafirmar o “importante” acordo Mercosul-União Europeia, prometido para dezembro como quem promete dieta em janeiro. As duas chancelarias celebram o “contexto geopolítico” e condenam Israel, Gaza, ocupações, guerras tarifárias — um bingo diplomático completo. A conversa soa como ópera: muito recitativo, pouco ato final. Desde 1999 ouvimos que “agora vai” o acordo birregional. Cada presidente vira maestro de uma orquestra que toca sem partitura. Desta vez, o roteiro inclui também Emir do Catar, ONU, libertação de reféns, dois Estados para a Palestina. O Brasil se apresenta como mediador universal, um misto de Dalai Lama e Mercador de Veneza, enquanto tenta fazer o Mercosul caber no mapa do comércio global. A cada telefonema, uma manchete; a cada cúpula, uma expectativa; a cada expectativa, um adiamento. O “acordo histórico” já virou patrimônio imaterial da diplomacia brasileira: sempre está por vir, nunca chega. Se um dia sair, ninguém acreditará.

Adeus, 12 por 8: nova diretriz brasileira classifica pressão “normal” como pré-hipertensão e transforma metade do país em paciente em potencial — viva o capitalismo do esfigmomanômetro

A Sociedade Brasileira de Cardiologia resolveu dinamitar um dos dogmas mais antigos da consulta médica: 12 por 8 não é mais normal, é pré-hipertensão. A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão 2025 agora exige menos para chamar de normal — abaixo de 12 por 8, senão já é alerta. Hipertensão mesmo segue a partir de 14 por 9. A justificativa é técnica: diagnóstico precoce, prevenção, intervenções não medicamentosas. Mas o impacto social é de novela distópica: de repente, milhões de brasileiros viram “pré-alguma coisa” e ganham um crachá invisível de risco. As farmácias esfregam as mãos; os aplicativos de saúde vibram; os influenciadores de fitness comemoram mais conteúdo. A cada atualização, uma nova fronteira entre “normal” e “doente” se apaga. A pressão arterial virou mercado. E nós, cidadãos, viramos planilha. Daqui a pouco, respirar será “pré-asfixia” e dormir “pré-coma”. Mas calma, é para o nosso bem: medicina baseada em evidências, saúde baseada em notificações.

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