Como o sexo se ligou ao látex?
Por muito tempo, o látex esteve presente em nosso cotidiano de forma quase banal. Ele estava nos balões de festas, nas luvas de limpeza doméstica, nas roupas de certas profissões. Mas bastou um leve desvio do utilitário para o sensual que essa borracha elástica se tornou algo mais: fetiche, tabu e instrumento de poder. Hoje, quando falamos em látex e sexo, estamos abrindo uma caixa cheia de referências que vão da proteção ao prazer, da segurança ao perigo, da saúde pública à morte trágica de milionários.
A história começa muito antes da explosão dos fetiches em vitrines de sex shops. A popularização do látex na sexualidade passa, obrigatoriamente, pelo surgimento da camisinha moderna — a chamada “camisinha de Vênus”, ainda no século XIX. Embora o conceito de preservativo exista há séculos (os egípcios já improvisavam com linho e outros materiais), foi a partir da vulcanização da borracha, processo inventado por Charles Goodyear, que as camisinhas passaram a ter uma fabricação mais prática e eficiente.
“O certo é que o látex foi, para muitos, o primeiro contato visual com algo que despertaria desejos futuros — mesmo que ninguém dissesse isso em voz alta.”
Na década de 1920, com o advento do látex como material moldável e flexível, elas se tornaram ainda mais finas, resistentes e fáceis de produzir. Era a ciência entrando no campo da intimidade para proteger, claro, mas também para dar novo contorno à relação entre corpo e desejo. Afinal, um pedaço quase invisível de borracha permitiu a liberdade sexual sem as consequências temidas das gestações indesejadas ou, posteriormente, de doenças sexualmente transmissíveis. O látex virou, antes de tudo, um aliado.
Mas o látex foi além da proteção. Ele se tornou desejo. Nas décadas seguintes, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, a moda erótica começou a incorporar o material como fetiche. Roupas inteiras feitas de látex surgiram como objetos de excitação visual e sensorial. O motivo é compreensível: o material cria um efeito de “segunda pele”, moldando-se perfeitamente ao corpo, destacando cada curva, valorizando o brilho que hipnotiza o olhar.
O fetiche de uma segunda pele
E foi aí que o látex encontrou seu lugar na iconografia sexual contemporânea. O universo BDSM (sigla para bondage, dominação, submissão e masoquismo) o adotou como uniforme quase oficial. Grandes figuras do cinema e da música também se utilizaram desse apelo — basta lembrar das roupas colantes de personagens como Trinity em Matrix ou Catwoman interpretada por Michelle Pfeiffer nos anos 90.
No entanto, nem só de glamour vive essa história. Um dos casos mais emblemáticos da ligação entre látex e sexo envolve a morte do banqueiro bilionário francês Édouard Stern, em 2005. Ele foi encontrado morto, com marcas de violência, em seu apartamento em Genebra, vestido com uma roupa de látex, vítima de um crime passional. Stern era um homem poderoso, cercado de luxo, e sua morte revelou, aos olhos do mundo, como o fetiche pode ser tão intrigante quanto perigoso. A cena parecia saída de um romance noir ou de um filme do David Lynch. O látex, nesse episódio, era mais do que uma fantasia: era quase um símbolo da tensão entre desejo, dinheiro e morte.
Curiosamente, no Brasil, o látex teve uma inserção estética muito peculiar e, até hoje, pouco discutida de maneira crítica. Nos anos 80 e 90, apresentadoras infantis vestiam roupas coladas ao corpo, com shortinhos brilhantes que beiravam o material emborrachado. Programas supostamente inocentes se transformaram, sem que muitos percebessem na época, em fontes de erotização precoce para uma geração inteira de jovens telespectadores. Não é exagero dizer que muita da excitação adolescente, ainda que inconsciente, foi moldada diante da televisão, com a visão insistente de corpos femininos embrulhados em brilhos plásticos.

Há quem veja nisso apenas uma coincidência estética dos figurinos da época. Mas há também quem considere esse fenômeno um prenúncio da sexualização infantil na cultura pop, tema que até hoje gera debates acalorados. O certo é que o látex foi, para muitos, o primeiro contato visual com algo que despertaria desejos futuros — mesmo que ninguém dissesse isso em voz alta.
Hoje, o látex segue firme, seja na gaveta de preservativos, seja nas passarelas alternativas do desejo. Ele continua dividindo opiniões, porque toca em zonas delicadas da moralidade, do prazer e do perigo. De peça utilitária a fetiche perigoso, esse material encerra a contradição perfeita do humano: segurança e risco, prazer e culpa, proteção e violência. No fim das contas, o látex é só um espelho emborrachado do que somos — ou do que preferimos esconder.
As grandes contradições do sexo tântrico
setembro 27, 2025Os maiores escândalos sexuais de Brasília
setembro 20, 2025Pelezão: o Don Juan do NP
setembro 13, 2025Bunga-Bunga: a festa sexual dos ricos
setembro 6, 2025Hotwife: a moda sexual que pegou
agosto 30, 2025Valentina Nappi: algoz de Salvini
agosto 23, 2025Por que a bunda feminina nos fascina?
agosto 16, 2025Cory Chase: ela é a milf nº 1
agosto 9, 2025Bitcoin, porn, Ethereum and drugs
agosto 2, 2025Eva Elfie: a rival de Sweetie Fox?
julho 26, 2025Comatozze: eles passarão Sweetie Fox?
julho 19, 2025Fablazed: existencialismo além do pornô
julho 12, 2025
Emanuelle Plath assina a seção Sob a Superfície, dedicada ao universo 18+. Com texto denso, sensorial e muitas vezes perturbador, ela mergulha em territórios onde desejo, poder e transgressão se entrelaçam. Suas crônicas não pedem licença — expõem, invadem e remexem o que preferimos esconder. Em um portal guiado pela análise e pelo pensamento crítico, Emanuelle entrega erotismo com inteligência e coragem, revelando camadas ocultas da experiência humana.
Facebook Comments