DISRUPTalks remodela o voraz mercado editorial
O mercado editorial brasileiro se prepara para uma nova onda que deve renovar o público consumidor de livros e dar um novo impulso no setor: as biografias de grandes celebridades. Nos próximos meses, livrarias físicas e online devem receber um tsunami dessas publicações e quase todas elas – ou, ao menos durante algum tempo, talvez todas elas – de um mesmo selo, o DISRUPTalks da empresária Caroline Dias de Freitas. Acumulando centenas de horas de entrevistas e reuniões com famosos que devem render uma agenda de dois lançamentos ao mês, ela já recebe o título de “publisher das celebridades”. Com pouco mais de seis meses de vida, o selo DISRUPTalks ainda é pouco conhecido, contudo, Caroline é uma profissional respeitada há 11 anos neste setor, não apenas pelo seu talento em criar best sellers, como também por seu engajamento como mulher empresária. Ela é fundadora da Sociedade Brasileira de Empreendedorismo Feminino. Assim como no mundo todo, no Brasil não é diferente e livros biográficos de personalidades fazem muito sucesso e o interesse por esses artistas, atletas e influenciadores em terem a sua história publicada cresceu muito com a chegada da pandemia do coronavírus, como conta Caroline: “O mercado literário foi um dos canais alternativos que artistas encontraram para chegar até seu público, assim como as lives. Isso, porque esse período em isolamento social possibilitou um momento de resgate de suas histórias”.
Caroline, por que o mercado editorial como um meio de atuação?
Na verdade, o mercado editorial como um meio de atuação veio por quê eu sempre fui apaixonada por computadores. Desde os meus 15 anos eu já fazia cursos. Tenho alguns familiares que têm uma indústria gráfica e quando entrei na faculdade, comecei a trabalhar com eles e passei por quatro setores diferentes dessa gráfica para ter uma visão mais ampla. Depois acabei indo para o setor de vendas, e nas vendas conheci algumas editoras. As editoras demoravam muito para publicar um livro. Elas levavam três anos e meio para publicar um livro, e o processo gráfico era um processo rápido de 15 ou 20 dias. Me perguntava o porquê de não diminuir esse tempo, então antes de me formar na universidade em 2007, comecei a fazer alguns projetos editoriais para algumas pessoas no prazo de 2/3 meses. Nisso minha fama já começou a correr. Trabalhei um ano na informalidade e no final de 2006 comecei a trabalhar (formal). Em 2007 abri a empresa no CNPJ mesmo.
Quais as mudanças mais significativas que você viu neste setor nos últimos 15 anos?
Com certeza eu vi muitas mudanças. A primeira delas foi no meio da distribuição. A Saraiva e a Livraria Cultura dominavam o mercado brasileiro, quem não estivesse dentro dessa duas livrarias, praticamente não tinha relevância no mercado. Hoje sou uma editora de médio porte, mas na época eu era de pequeno porte e não publicava muita coisa, então eu enfrentava muitos problemas, pois, para cadastrar um livro nessas livrarias eu levava uma ou até duas semanas porque eu não tinha tantos relacionamentos nessas empresas, não conhecia as pessoas e naquela época existiam vários setores: setor do infantil, setor da literatura, setor do campo universitário… então eram muitos vendedores, muitos compradores, e eu não tinha esse relacionamento.
Eu levava muito tempo para cadastrar. Com a entrada da Amazon no Brasil entre 2013 e 2014, começamos a fazer cadastro de livros de 15 em 15 minutos, fora que a Amazon é uma empresa muito mais arrojada, então eles acabaram “atrapalhando” muito essas livrarias (o que acarretou na recuperação judicial delas e a falência da maior distribuidora do país). Hoje com a visão que tenho de mercado editorial e com os meus mestrados em artes, design e tecnologia, tudo que faço em um livro envolve artes e design. Hoje trago a realidade aumentada em QR Codes para dentro dessas publicações. Hoje conseguiria tocar a editora de qualquer lugar do mundo e não só por reuniões presenciais.
Adotei um modelo de contrato de assinatura eletrônica. Mesmo que o meu autor não tenha essa assinatura, ele consegue assinar por meio de um token que vai para o e-mail dele, então o que me prendia, por exemplo, era a questão da nota fiscal, ou seja, como eu iria emitir essas notas. Hoje tenho um software online que emite notas fiscais que na época (15 anos atrás) não tinha (pelo menos para o meu bolso) para aquela realidade ou que talvez eu não tivesse conhecimento. Não vou afirmar que não tinha como tem hoje. A assinatura online foi reconhecida há pouco tempo. Hoje está muito mais fácil.
Quando surge o DISRUPTalks nesse cenário?
O DISRUPTalks surge nesse mercado em meio há publicação de dois livros no ano passado. Duas biografias que vi o resultado e não só de números de vendas, mas de questões de marketing também. O lado bom de trabalhar com um artista é que ele tem uma força de publicidade muito forte e aí pensei: bom, tenho uma reputação impecável no mercado editorial, criei isso em 16 anos de empresa; tenho o meu CNPJ limpo (minha comprovação está nos canais online que não se não tinha naquela época como Reclame Aqui e Procon). Todos os PJs que você pode pesquisar, de todo mundo, o tempo inteiro… e não tem nada, nada, nada que me desabone, pois, sempre trabalhei com muita transparência, com muita verdade e com diálogos claros com as pessoas.
Por isso tenho uma marca de 1000 autores na empresa e nunca sofri nenhum tipo de problema, aliás, eu particularmente adquiri muita experiência no trato com as pessoas a partir desses mais de 1000 autores (que foram mais de 1200, na verdade) que passaram por aqui. É muito curioso isso que vou afirmar, mas vou dizer: eu já sei o autor que vai dar problemas nas conversas iniciais do contrato. Quando percebo isso, já descarto esse autor. Acabo perdendo o interesse porque sei que esse cara vai dar problemas. Das poucas pessoas que tive problemas dentro da empresa (nenhum graças a Deus), levamos para a Justiça, pois, resolvi tudo internamente. Eles têm um mesmo perfil comportamental. Nunca falei isso publicamente, mas é verdade: eles têm o mesmo perfil comportamental. Não sei se é legal falar disso, mas talvez até seja.
Por que esse é um nicho ainda pouco explorado?
Você tem aí editoras que publicam todo tipo de livro, todo tipo de material, mas não são nichos específicos em nichos. É como escolhi fazer com DISRUPTalks. Se o artista não tiver nada muito novo para me trazer, não quero publicar. Não quero ter um artista só por ter. Quero algo novo dele. Quero um ângulo novo que o público ainda não conhece.
Como o DISRUPTalks tem passado pela pandemia?
Ele nasceu um ano depois do início da pandemia. Comecei o projeto no dia 22/02/2021. É muito recente (um bebê). É um bebê seu não estou fazendo a conta errada. Ele é um bebezinho, mas por incrível que pareça, quando a pandemia chegou todas as livrarias fecharam. Fiquei particularmente muito apavorada e com muito medo, porque as nossas contas internas são altas. Tenho compromissos de todos os tipos e em todas as esferas. Acabamos substituindo o offline nas livrarias pelo online em maio de 2020. Foi o maior recorde em vendas online da história da minha empresa. Quando isso aconteceu, falei: como assim! Claro que teve uma série de questões que ajudaram. Fiz promoções no site acima de x valor, além do frete grátis. Sem dúvida o auxílio na época ajudou muito. Muita gente usou esse auxílio para outras coisas (que não era comida). Não vou precisar entrar nessa parte, mas sei que isso colaborou. Depois que auxílio continuou em um menor valor, sentimos uma queda nas vendas. Isso é algo que não só eu como outras editoras também perceberam.
Trazer histórias exclusivas é o seu principal foco?
Exatamente. Se não tiver uma história exclusiva não tenho interesse em publicar, simples assim. Não quero nada que não seja exclusivo. Não quero isso. Não é merchan ou marketing pessoal. Realmente não quero publicar nada que o artista não tenha para me contar de verdade. Publicar um livro não é fácil. É um trabalho muito árduo e temos um desafio de distribuição imenso. Precisa do envolvimento do artista e se não tivermos as ferramentas, uma ferramenta exclusiva para se trabalhar, vai ser mais um livro na prateleira e essa não é a ideia do projeto.
Como são escolhidas as histórias que serão publicadas?
Na verdade, todos os artistas que selecionamos procuram a gente. A assessoria entra em contato. Para ser sincera não descarto de imediato ninguém. Gosto de ter uma conversa preliminar vamos dizer assim… uma conversa de 30, 40 ou 50 minutos às vezes, ou até mais, para que o artista me conte absolutamente tudo, ou seja, como ele chegou até lá, o que aconteceu no meio do caminho… ele vai me contando tudo e a partir daí vejo se a história é boa e se o artista tem expressão para uma publicação. Peguei uma global que me procurou de um programa conhecido. Ela não era atriz principal, mas era uma atriz bem renomada. Ela me contou uma história muito bacana (inclusive uma história de despejo), mas eu achei que a história não é vendável. Não sei se é um livro que vai ter um boom na mídia, a não ser que ela me traga algo mais pesado do que o “morei dois anos na favela do Rio de Janeiro e sofri um despejo.” Na época ela me mandou até os vídeos do local que ela morou, mas não pensei que seria uma história que valia a pena investir. Pode não parecer, mas os investimentos são bem altos.
Você também é muito preocupada em não trazer apenas o entretenimento para o leitor. Por quê?
Todo mundo que está de fora acha que a vida do artista é cheia de glamour ou cheia de facilidades. Isso não existe! Não é cheia de glamour e nem cheia de coisas fáceis e boas. Esses rapazes sofrem para caramba para chegar onde chegaram, então, tento trazer esse outro lado que é o lado que ninguém vê. Esse é o intuito do livro. Por isso que pergunto se eles estão dispostos a contar o que o Google não sabe. Algo que é novo e não é uma fofoca. Temos que trazer algo novo para o público.
O seu propósito é transformar o setor. Por onde passa essa transformação?
Com certeza quero transformar esse setor cada vez mais. Os livros que publicamos são interativos, tendo um QR Code com realidade aumentada. Quero trazer outros tipos de interação. Estou estudando e fazendo um plano de negócios. Futuramente vamos ter outras novidades, pois, quero transformar o setor. Nossa concorrência não é com outra editora. Quero deixar o tempo das pessoas mais otimizado através dos livros. Quero que o livro faça parte da vida delas sem que elas percebam.
Qual estratégia foi encontrada pelo DISRUPTalks para ter os seus livros lidos num mundo cada vez mais líquido?
Na verdade, quero deixar os livros cada vez menores e mais interativos. Por exemplo, no livro do Rodriguinho trouxemos clipe e música inéditas. Você não vê isso nos livros hoje em dia, então cada publicação que vamos fazer, tentamos trazer algo novo. O editor ou publisher do Brasil, tem aquele estereótipo do rapaz fumando charuto sentado numa sala cheia de livros na prateleira. Quero trazer essa nova publisher mais descolada… uma nova publisher mais chique.
Quais os próximos passos do selo e que você assegura como fundamentais?
O passo fundamental é você estar atento para o futuro. É você conseguir estes sinais do mercado editorial e do mercado no geral. O mercado vai dando sinais assim como corpo dá sinais. O mercado dá sinais. Não foi da noite para o dia que o e-book começou, que o audiobook começou ou que entrou a Netflix. Se você começar a pegar a história de todas as empresas de todos os setores, são muitos anos para as coisas acontecerem e elas vão acontecendo gradativamente. Então, para ser um selo de sucesso, tenho que estar atenta nessa tecnologia. Tenho que estar atenta a essa questão do tempo das pessoas e hoje eu não vejo como uma tendência publicar livros muito grandes (a não ser que seja estritamente necessário). As pessoas não têm tempo infelizmente, por isso acho muito importante nas publicações de hoje, despertarmos os outros sentidos das pessoas. Temos que despertar o olhar delas, os ouvidos delas (por isso que colocamos som). Colocamos mais visual para a leitura ficar cada vez mais leve e assim em um ou dois dias as pessoas conseguirão ler esses livros, porque se for demorar mais (a não ser que sejam livros acadêmicos que não é a proposta do nosso selo), não dá para ser livros muito grandes.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
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