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Eduardo Kobra enfrentou todos os preconceitos

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Começando sua carreira como pichador, depois se tornando grafiteiro, e hoje se considerando um muralista, o artista Eduardo Kobra também cria obras que simulam as três dimensões. Se tornou conhecido pelo projeto Muro das Memórias em São Paulo, em 2005, onde retratou cenas antigas da cidade. Além da capital paulista, diversas cidades brasileiras contam com suas obras. Também têm obras em outros países, como Inglaterra, França, Estados Unidos, Rússia, Grécia, Itália, Suécia e Polônia. Em 1995, fundou o Estúdio Kobra, especializado em painéis artísticos, onde conta com uma equipe de doze artistas. Em 2011, foi premiado no Sarasota Chalk Festival, o maior evento de arte 3D no mundo. Suas obras figuram no Museu de Street Art, com graffitis de todo o mundo, e em exposições de vários países como na Dorothy Circus Gallery, em Roma. “Pena não conhecer a Deus nesta fase, teria sido muito mais fácil, mas tive que seguir completamente sozinho, expulso de casa, e da escola em que eu estudava por vandalismo. Precisei me esforçar em dobro, para conseguir coisas simples, como comprar um pacote de arroz e de feijão, ou pagar o aluguel. Vivendo na periferia, a palavra artista não fazia parte do vocabulário, a realidade sempre foi outra. (…) Fico naturalmente revoltado contra todos os absurdos que os homens praticam contra os animais por puro entretenimento”, afirma o muralista.

Eduardo, você começou como pichador, depois se tornou grafiteiro e hoje se considera um muralista. O que ainda existe no muralista que também existia no pichador e também no grafiteiro, e que não se perdeu com o passar do tempo?

A vontade de aprender, o desejo do conhecimento, a atração pelas ruas e superar os desafios que a periferia de São Paulo impõe. Creio que durante os vários anos que estou pintando nas ruas (apesar de não entender quando comecei) fez todo sentido depois. Toda minha trajetória se conecta, e de alguma forma uma já se alimentou da outra em algum momento, ou por outro ângulo, são interdependentes e uma não existiria se não fosse a outra.

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No começo dos anos 90, você abandonou a pichação e começou a fazer desenhos mais elaborados. Em que momento você notou que a Street Art era para onde você iria canalizar o seu potencial artístico?

Fui forçado a encontrar este caminho depois de ter sido detido por 3 vezes. Foi neste momento, que meus caderninhos de desenhos que eu carregava desde os 8 anos de idade, tiveram que entrar em ação. Eu estava muito envolvido com a pichação, e os graffitis eram uma realidade muito distante, eu só conhecia através de filmes e livros que vi sobre a Nova York da década de 70. Com a promessa da prisão, resolvi abandonar, mas continuar nas ruas, desta vez realizando desenhos, porém, ainda de forma ilegal.

Acredita que ser um autodidata, facilitou no processo de sua criação e experimentação, já que se tivesse estudado em alguma faculdade de artes plásticas poderia ter que seguir um certo padrão?

Fui um péssimo aluno sempre, não me adapto muito facilmente em salas de aula. Eu sempre faltava, ou saía no meio de alguma matéria em andamento, as ruas me atraíam muito mais do que a escola, e acredito que minha faculdade estava nas ruas, o nome já diz, Street Art. Nada melhor que viver completamente nas ruas, e absorver tudo que ela pode te dar para conseguir realizar murais que se relacionam naturalmente com a cidade, respeitando como ela [cidade] é. Jamais seguiria um padrão, mesmo porque tenho no mínimo 5 tipos de linhas de trabalho diferentes e posso mudar de acordo com o que a cidade e a vida me ensinarem.

Você começou sem ajuda de ninguém e com bastante dificuldade. Como a intuição lhe ajudou nesse caminho?

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Pena não conhecer a Deus nesta fase, teria sido muito mais fácil, mas tive que seguir completamente sozinho, expulso de casa, e da escola em que eu estudava por vandalismo. Precisei me esforçar em dobro, para conseguir coisas simples, como comprar um pacote de arroz e de feijão, ou pagar o aluguel. Vivendo na periferia, a palavra artista não fazia parte do vocabulário, a realidade sempre foi outra. Fui chamado de vagabundo, e tive que enfrentar todo tipo de preconceito. Realmente foi difícil, e o que me ajudou foi a força de vontade, e uma mania que tenho de nunca desistir.

Em uma época, você pintava o que não tinha vontade de pintar. Em que momento você sentiu que seu trabalho deveria ser aquilo que realmente desejava?

Por falta de conhecimento, passei muitos anos reproduzindo obras de outros artistas. Perdi muito tempo, mas ganhei algo precioso, aprendi a aprimorar meus desenhos, minha pintura, reproduzindo obras que iam de Picasso [Pablo Picasso, pintor, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo espanhol que passou a maior parte da sua vida adulta na França. Considerado um dos maiores e mais influentes artistas do século XX, é conhecido por ser o co-fundador do cubismo, 1881 – 1973] a Leonardo da Vinci [polímata nascido na atual Itália, uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. É ainda conhecido como o percursor da aviação e da balística, 1452 – 1519]. Passada esta fase, e com a melhora financeira, consegui pensar em colocar nos muros minhas ideias, coisas que eu acredito, ou seja, toda experiência em reproduzir imagens dos outros me fez chegar até aqui.

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A arte deve ter um papel social?

Criei um projeto chamado “Envolva-se”, a ideia é dar oportunidade para as centenas de crianças, jovens e adultos, que diariamente me enviam e-mail querendo aprender. Então criei um arquivo, com todos estes contatos, e quando saímos para pintar em determinadas regiões, entramos em contato e convidamos estes jovens, que na sua grande maioria são de origem muito pobre.

Qual a coisa mais absurda que a mídia já falou sobre o seu trabalho?

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Eu enfrentei todo tipo de preconceito. Já me chamaram de vagabundo, sem imaginar que trabalho cerca de 10 horas diárias, no mínimo.

Sua arte é engajada, principalmente em questões ligadas à reflexão sobre a preservação da natureza e o uso correto dos recursos naturais. Fale mais sobre esse seu modo de ver o mundo que é de suma importância, nesses dias em que a Terra pede socorro.

Fico naturalmente revoltado contra todos os absurdos que os homens praticam contra os animais por puro entretenimento. Até deixar animais presos em zoológicos é algo que devemos repensar. Basta ver como os animais estão entediados presos ali, tristes, fora do seu habitat natural, muitas vezes correndo de um lado para o outro da jaula, sem parar, outras vezes se mutilando, ocorrendo isso também em tantos outros parques com golfinhos, e outras animais. Meu grito é esse: libertem todos os animais e vamos protegê-los! Afinal são criaturas criadas por Deus. Se você diz que acredita em Deus e participa disso, é mentiroso (visitem o Museu Americano de História Natural em Nova York), vão ver que não é necessário manter animais vivos em cativeiro, podemos fazer réplicas artísticas.

Em suas entrevistas, você cita sempre os artistas Jean Michael Basquiat e Keith Haring, como os responsáveis pela transição das ruas para as galerias. Teve alguma influência artística ou mesmo vivencial de um dos dois?

Eu sou cristão, a única similaridade que temos é o amor pela arte. Do modo vivencial absolutamente não, eu os admiro porque sei o quanto lutaram na época que o graffiti era totalmente marginalizado, e eles venceram.

Diversas cidades brasileiras contam com suas obras, além de outros países como Inglaterra, França, Estados Unidos, Rússia, Grécia, Itália, Suécia e Polônia. Podemos dizer que a universalidade da sua arte, é o que integra e faz com que países de culturas completamente diferentes, aceitem o seu modo de fazer arte, ou enxerga outras questões além dessa referida?

O amor é universal, todas as pessoas esperam por isso, e meus murais têm sempre esta base. Procuro através da arte, dar o meu melhor para as cidades, geralmente com mensagens positivas, e de leitura universal. Isso fez com que todos que estão carentes de amor, me procurassem.

Quais as características além da inquietude, que movem o seu trabalho de uma forma consistente, desde a década de 90, até os dias atuais?

A vantagem de fazer o que ama é essa, ela nunca acaba, pelo contrário só aumenta. Eu vivo isso a cada dia, penso em novas possibilidades, novas criações, outros suportes, melhorar a pintura, os equipamentos, conhecer novos países, novas pessoas, pintar em lugares inusitados e altos, isso tudo é como combustível para as minhas criações.

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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