Games e eSports crescem no Brasil anualmente
Beto Vides é sócio-fundador e responsável pela direção-geral da eBrainz, consultoria especializada em Marketing de eSports e games, e que em 2017 esteve a frente de projetos como o Red Bull Player One 2017 e o patrocínio da equipe Vivo Keyd Stars. Ainda recentemente, o paulistano atuou na direção da organização de eSports paiN Gaming e na fundação da Associação Brasileira de Clubes de eSports (ABCDE). O mercado de eSports arrecadou US$ 655 milhões em 2017, dinheiro advindo dos setores de direitos de mídia, publicidade, patrocínios, ingressos, mercadorias e taxas arrecadadas pelas publishers – sendo que, deste valor total, 71,5% da receita foi destinada apenas a direitos de mídia, publicidade e patrocínios. As estimativas para este ano, onde a China e a América do Norte devem gerar 56% de todo o faturamento anual, tende a alcançar US$ 906 milhões (crescimento de 38,2%). “Por mais que tenhamos talentos que consigam se sobressair em momentos diferentes, o trabalho em equipe e sinceridade nos relacionamentos traz um quê de autenticidade, e via de regra nos ajuda a acertar as pontas sob olhares de diferentes disciplinas. Essa é uma dinâmica simples de se aplicar tendo em vista o tamanho da eBrainz – mesmo com seu crescimento em 2018, já temos planos de manter a qualidade criativa e produtiva independentemente da nossa proporção”, afirma.
Beto, como os seus caminhos foram trilhados para o seu ofício?
Essa é uma pergunta bem curiosa, mas que eu tenho muito prazer em compartilhar. Ainda que eu tenha muito a aprender e um caminho longo a trilhar, meu caminho profissional até aqui foi muito diversificado, mas tendo sempre como missão o aprendizado e o conhecimento, sou curioso mesmo. Querer saber mais e conhecer mais já me levaram a missões em marketing, consultoria de negócios e tecnologia, área comercial, recrutamento, em empresas como IBM, Telefônica e Netshoes. Esse conhecimento diversificado em desafios de negócio distintos me deu bagagem e segurança para empreender em um momento que me senti empregando menos risco, digamos que foi uma construção.
O seu interesse pelo mercado de eSports se deu também neste momento?
Sempre fui um gamer, sempre gostei bastante, tive os consoles antigos, fugi para lan house muitas vezes e foi parte da minha juventude. Mais do que gamer sempre fui muito curioso, competitivo e ambicioso. Quando decidi empreender (não em minha empresa, mas em um novo e desconhecido desafio) foi o momento de conhecer o mercado de eSports, a assim assumi o desafio de liderar a operação de uma das maiores Orgs de eSports do Brasil, a paiN Gaming em 2015/2016. Foi um trabalho desafiador, nunca havia “logado” no Lolzinho, o assunto era novidade. No entanto, ainda que num mercado novo, promissor e intrigante, estava aplicando tudo que eu tinha aprendido em minhas outras missões profissionais para trazer mais performance organizacional, resultados de negócio e rentabilidade pra operação. Ninguém atinge sucesso sozinho, além da equipe de especialistas que desenvolvemos na reestruturação da empresa, fui em todo momento muito apoiado por um de meus atuais sócios, Raiff Chaves, que estava naquele jogo desde o começo.
Como você avalia o mercado de eSports em todo mundo?
A audiência do mercado não é mais apenas o clichê da população chinesa, apesar desta representar grande parte da audiência em transmissões de eSports. Cada vez mais outras regiões do mundo aderem ao fenômeno dos eSports de maneiras diferentes, como a Finlândia reconhecendo eSports como profissão, como o Brasil tendo cada vez mais iniciativas privadas voltadas para o cenário, ou como universidades na América do Norte dando incentivos aos participantes de seus programas educativos. O mundo respira games, basta que estejamos atentos às mudanças.
O Brasil está bem inserido neste contexto?
Como disse na resposta anterior, existem diferentes agentes trazendo uma variedade de soluções para os gamers. Embora o Brasil represente uma das maiores audiências, e tenha elencos relevantes em jogos como League of Legends e Counter-Strike: Global Offensive, sem dúvida existe espaço e momento para maiores investimentos – isso deve mudar quando o país deixar de respirar a cultura de décadas atrás, que sempre reforçou preconceitos em relação aos games como um todo. Hoje, temos espaço para conversas abertas e francas com diversos segmentos, por isso acreditamos que em pouquíssimo tempo o Brasil será uma potência em todos os sentidos.
Fale um pouco sobre a formação da eBrainz.
Conectar o mundo através dos eSports… games são conexões, são integrações, e mais do que isso, são uma prática massificada. Os gamers por sua vez precisam ser compreendidos, ouvidos, e as marcas, anunciantes, agentes do mercado precisam se relacionar com esses apaixonados da melhor maneira possível. A eBrainz surgiu com a missão de ser essa voz. Na prática, ela nasceu quando nós decidimos envelopar o conhecimento técnico que o Raiff trazia consigo de sua trajetória de quase 10 anos atuando no cenário profissional de games, com minha desenvoltura em desenvolver negócios e estratégias e entendimento daqueles quase 2 anos trabalhando juntos.
A verdade? Um advogado que abandonou a carreira para ser jogador profissional. Um profissional de marketing curioso que resolveu apostar numa paixão de criança. Um jogador de poker que atua como mentor e guia nos momentos mais estratégicos. Mas o segredo está na equipe que confia no nosso trabalho e que acredita no mesmo sonho que nós, um time de apaixonados pelo que fazem, gamers na fibra (muscular, emocional e ótica). Pessoalmente acredito que esse é o segredo de todo profissional de alta performance, fazer o que ama.
Como a eBrainz tem sido diferenciada neste mercado?
Resolvemos problemas que a maioria não consegue, criando iniciativas relevantes, entendo novos formatos e trazendo o mindset correto para o mercado. É preciso um entendimento profundo que reflete em escolhas melhores que a simples exposição de mídia ou a escolha de influenciadores. Apesar das diferenças, temos o mesmo desafio: ser tão interessante quanto novas séries, filmes e outras formas de conteúdo.
Qual a análise que faz da cobertura da mídia sobre os eventos que estão ligados diretamente ao mundo dos eSports e dos games?
Temos dois tipos de cobertura: a especializada e o restante.
Quando falamos da primeira, ela já nasceu parte do cenário e entende sua relevância, por isso a imprensa tem mais recursos para dialogar e criar indagações sobre o cenário de games e eSports. O público, por sua vez, agradece pelo seu trabalho e está sempre bem atento ao que têm a comunicar.
Já a segunda apresenta uma transição de mindset, similar ao que está acontecendo nas iniciativas privadas. Apesar de tímida em relação aos games, sua abordagem é relevante, pois, comunica a um público mais amplo e sua responsabilidade é tão grande quanto a dos especialistas. Portanto, é um alívio notar que estão em processo de entender e compartilhar corretamente a importância econômica e social que os eSports têm no mundo.
O que considera ser um marketing bem-sucedido nesta área em que atua?
Um “marketing bem-sucedido” é uma expressão cuja resposta se aplica a qualquer área. Como já mencionei, tudo começa dentro de casa, com uma equipe diversificada em história e conhecimento. Além disso, é imprescindível estar alinhado sobre quais são as verdades do cenário em que se está trabalhando, sem cair nas armadilhas da superficialidade que podem distrair o mercado. Dessa forma, conseguimos trazer a tona soluções que de fato resolvem problemas, tanto das marcas como do público, sem se perder no charme que “trabalhar com games” pode proporcionar.
Falando um pouco mais sobre a atuação da eBrainz, quais os pilares que ela detêm desde a sua formação e que só cresceram ao longo dos anos?
A colaboração. Esse é um ponto que propagamos ativamente. Por mais que tenhamos talentos que consigam se sobressair em momentos diferentes, o trabalho em equipe e sinceridade nos relacionamentos traz um quê de autenticidade, e via de regra nos ajuda a acertar as pontas sob olhares de diferentes disciplinas. Essa é uma dinâmica simples de se aplicar tendo em vista o tamanho da eBrainz – mesmo com seu crescimento em 2018, já temos planos de manter a qualidade criativa e produtiva independentemente da nossa proporção.
Qual a importância da ABCDE (Associação Brasileira de Clubes de eSports) para o crescimento deste mercado?
Desde a sua criação, a ABCDE teve um papel de representatividade muito importante para que os clubes falassem a mesma língua. Isso significa que os principais clubes de eSports do país deram início ao fomento do progresso do mercado, representando os interesses de seus associados no ecossistema dos eSports, bem como o direcionamento estruturado no que tange ao relacionamento dos principais players do mercado. Consequentemente, é possível enxergar que, não só a profissionalização dos clubes, bem como a preocupação com os atletas em terem um plano de carreira a longo prazo, como a ABCDE também permite uma unicidade na participações dos principais clubes do país em eventos presenciais com competição; participações em ligas e campeonatos online; negociação de patrocínios globais; negociação de direitos de imagem e arena para canais de transmissão, entre outros.
Última atualização da matéria foi há 1 ano
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