Os vários indecisos nas eleições deste ano
Paulo Gontijo Ramos é empresário, palestrante e radialista voltado à causa do empreendedorismo. É especialista no tema do Instituto Millenium desde 2008. Foi conselheiro da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) e presidiu o Conselho de Jovens Empreendedores da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). Apresentou por sete anos o Programa – “Em Branco”, dedicado ao empreendedor e veiculado na 94 FM (Rio de Janeiro), antiga Rádio Roquette Pinto. Filho de Roberto Olinto e enteado de Lula Vieira, é também um ativista liberal ligado, desde 2017, a movimentos de renovação da sociedade civil que surgiram após os protestos no Brasil em 2013. Entre os movimentos, é presidente do Livres, membro do Agora! de Ilona Szabó de Carvalho e bolsista do programa de formação de novas lideranças, o RenovaBR. Líder do Livres no Rio de Janeiro, assumiu a presidência nacional do grupo em janeiro de 2018, quando o movimento desistiu de renovar o Partido Social Liberal para tornar-se uma associação suprapartidária, após a acolhida da legenda a Jair Bolsonaro. “Termos mais transparência na gestão e participação nas decisões, mas são coisas que só virão com a renovação, porque esbarram na velha política, na manutenção do sistema. Logo, é preciso que a política deixe de atrair quem só quer se beneficiar dela”, afirma o presidente do Livres.
Paulo, você já afirmou que o Livres é uma espécie de frente ampla liberal. Quais as maiores dificuldades em trazer essas ideias liberais para o centro do debate?
Nós tivemos um facilitador que foi a tragédia do intervencionismo estatal dos últimos anos, um modelo de Estado inchado que falhou na prestação de serviços básicos à população. Isso acabou favorecendo o crescimento do ecossistema político liberal, mas temos muitos desafios ainda para trazer as ideias liberais para a agenda. O principal deles, a meu ver, é traduzir esse ideário para a ação, aproximando-o dos que mais precisam e hoje dependem de assistencialismo. O debate liberal é muito restrito aos temas macroeconômicos. Mas podemos falar aos mais pobres, mostrar que desinchar esse Estado significa liberar recursos para promover justiça social, aumentando a capacidade de investimento em educação, saúde e segurança. Mostrar que privatizar uma Cedae, por exemplo, é expandir a rede de esgoto. Precisamos trazer esse pensamento para a vida dessas pessoas, por meio de projetos de liberalismo popular. E é nisso que nós, do Livres, estamos trabalhando.
Outra forma gradual de conquista das pessoas é por meio dos mandatos que formos assumindo. Em Teresópolis, na Região Serrana do Rio, teremos uma excelente oportunidade de provar o que é um governo liberal com Vinicius Claussen, recém-eleito para uma administração de dois anos e meio em uma cidade muito machucada pela incompetência e pela corrupção.
Quais as maiores vantagens de ser uma associação suprapartidária?
Uma associação comporta os diferentes perfis do Livres que temos nos estados, o que partido algum comportaria, até porque cada sigla também tem suas particularidades locais. Mas o mais importante que vejo, passado esse tempo de existência como uma associação, é que somos mais aceitos sem a desconfiança de um partido. Com isso, incorporamos mais gente do movimento liberal e atraímos intelectuais de peso para o nosso Conselho Acadêmico, como Pérsio Arida e Ricardo Paes de Barros, simplesmente porque eles gostaram de colaborar com o nosso projeto gratuitamente.
Faltam mais associações suprapartidárias para equilibrar o jogo de poder em nosso país?
Já temos movimentos importantes como o Livres, o Agora!, o RenovaBR, a Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade). E qualquer outro que venha qualificado será bem-vindo, porque o jogo é pesado, feito para inibir a renovação. Quando acabou o financiamento das campanhas por empresas, o que fizeram os políticos? Criaram o fundão eleitoral. E na mão de quem está a distribuição desses recursos nos partidos? Deles próprios, dos velhos caciques, que vão buscar a garantia do seu Status quo. Então, o sistema funciona como um cartel fechado à inovação. Acredito que a mudança só virá dessas pontes que estão surgindo na sociedade civil. É um trabalho de formiguinha.
O que você acredita que deveria ser feito para desconcentrar o poder da presidência dos partidos?
Termos mais transparência na gestão e participação nas decisões, mas são coisas que só virão com a renovação, porque esbarram na velha política, na manutenção do sistema. Logo, é preciso que a política deixe de atrair quem só quer se beneficiar dela. Como? Abolindo instrumentos perversos de poder como o fundo partidário e o fundão eleitoral e, ao mesmo tempo, facilitando o acesso aos novos entrantes, por meio do barateamento das campanhas e da liberação de candidaturas independentes. Essa transformação, porém, só ocorrerá com forte mobilização da sociedade, pois, envolve o Congresso cortar os seus interesses. É difícil, eu sei, mas temos um exemplo de sucesso que foi a aprovação da Lei da Ficha Limpa.
Os membros do Livres já tiveram uma orientação para não se filiar aos partidos extremos como PT (esquerda) e PSL (direita). A solução está no centro?
Nesses extremos do estatismo e de uma direita cuja prática não tem nada de liberal sem dúvida que não está. Pode-se dizer, então, que está num projeto de centro ou centro-direita que seja liberal na economia, focado em temas essenciais como reformas da Previdência e tributária, privatizações que desonerem o Estado e melhorem os serviços, abertura comercial, etc.
Vê alguma força de centro para vencer as eleições presidenciais de outubro?
Hoje, pelas pesquisas, a Marina Silva. Isso hoje… O cenário de candidatos continua em aberto e temos um grande contingente de eleitores indecisos ou dispostos a votar em branco, ou nulo. Não sabemos como vai se comportar essa indignação da população até outubro.
A visão liberal é distorcida em algum ponto no Brasil?
Do nosso ponto de vista sim, pois, nós, do Livres, acreditamos na liberdade por inteiro. Não entendemos a liberdade como restrita a uma das esferas de nossas vidas. As pessoas costumam ser liberais só no ponto que lhes interessa. Há quem se diga antimercado e liberal no comportamento, e o contrário também. A nossa plataforma é 100% liberal.
O problema fiscal é a maior “dor de cabeça” do nosso país atualmente?
Acredito que sim porque ele inviabiliza o país num futuro não muito distante. Inviabiliza mesmo, pois, ao contrário do que pensam nossos deputados em Brasília, os recursos do Estado não são infinitos. A trajetória das contas públicas é insustentável e não comporta mais medidas paliativas. Para conter as despesas de forma estrutural, só há uma saída: Reforma da Previdência. Por uma razão muito simples, matemática. Nós contribuímos para sustentar os aposentados de hoje, e não para fazer poupança para a nossa aposentadoria. Acontece que a pirâmide etária no Brasil se inverteu porque as pessoas passaram a ter menos filhos e a viver mais. Portanto, não há base suficiente de jovens para pagar a geração atual. O próximo presidente terá que sensibilizar os congressistas, as corporações e, sobretudo, a população acerca desse debate, sob pena de simplesmente não conseguir governar.
Como o Livres irá ajudar neste debate em especial?
Desde que deixamos de pertencer a um partido, atraímos economistas reconhecidos no país que sempre participaram ativamente desse debate na mídia, como a Elena (Landau), o Pérsio (Arida) e tantos outros. Eles estão ajudando a construir as propostas de políticas públicas que o Livres vai defender para o Brasil.
Enxerga alguma liderança capaz de trazer o Brasil para um desenvolvimento pleno?
Institucionalmente, o Livres não vai apoiar nenhum candidato. Pessoalmente, acho o Geraldo Alckmin o mais capaz que se apresentou até agora. Ele tem um histórico de gestão, com resultados, principalmente na área da segurança pública, que é outro grande problema no Brasil na totalidade.
Renovar a política via ideias e lideranças será o maior desafio do Livres?
É um dos desafios apresentar propostas e formar lideranças, não apenas políticas. O outro, maior, é traduzir os benefícios do liberalismo para toda a população, para a parte que se acostumou com o paternalismo do Estado, pois, não conheceu outra alternativa.
Última atualização da matéria foi há 6 dias
Patricia Olivotti analisa toda parte hormonal
agosto 24, 2018Paulo Nascimento fala de cinema e tecnologia
agosto 22, 2018Silvia Grilli fala do desafio da inovação no design
agosto 20, 2018Delegar é um estado de espírito na publicidade
agosto 17, 2018O pensar jurídico de Rodrigo Correia da Silva
agosto 15, 2018Roberto Padovani analisa política e economia
agosto 13, 2018O jornalismo na vida da escritora Daniela Arbex
agosto 10, 2018Renato Opice Blum falando de direito digital
agosto 8, 2018Anita Schwartz fala sobre os caminhos da arte
agosto 6, 2018Bernardo Gradin aposta na empresa GranBio
agosto 3, 2018Marcio Cavalieri destaca o valor das pessoas
julho 30, 2018A filosofia de vida da rapper Preta-Rara
julho 27, 2018
Eder Fonseca é o publisher do Panorama Mercantil. Além de seu conteúdo original, o Panorama Mercantil oferece uma variedade de seções e recursos adicionais para enriquecer a experiência de seus leitores. Desde análises aprofundadas até cobertura de eventos e notícias agregadas de outros veículos em tempo real, o portal continua a fornecer uma visão abrangente e informada do mundo ao redor. Convidamos você a se juntar a nós nesta emocionante jornada informativa.
Facebook Comments