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Renato Teixeira escreve uma música universal

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Renato Teixeira é autor de conhecidas canções, como “Romaria” (grande sucesso na gravação de Elis Regina, em 1977), “Tocando em Frente” (em parceria com Almir Sater, gravada também por Maria Bethânia), “Dadá Maria” (em dueto com Gal Costa), “Frete” (tema de abertura do seriado Carga Pesada, da Rede Globo), além da emblemática “Amanheceu, Peguei a Viola”. Em 1990, apresentou o programa Tom Brasileiro na Rede Record, no qual, além de cantar, apresentava artistas que valorizavam a música nacional. Recentemente, Renato Teixeira compôs a música “Rapaz Caipira”, como crítica à atual música sertaneja de consumo, fazendo renascer a expressão “música caipira”. É um defensor aberto da música de raiz, que ainda sobrevive apesar dos desvios da música sertaneja. Em dezembro de 2015, Renato Teixeira e Almir Sater lançaram o álbum “AR” nas plataformas digitais. Apesar de parceiros musicais e amigos de longa data, foi a primeira vez que os artistas realizaram um projeto juntos. Por este álbum, Almir e Renato ganharam em 2016 os prêmios de melhor dupla regional na 27.ª edição do Prêmio da Música Brasileira e de Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras no 17.º Grammy Latino. A música do álbum “D de Destino”, composta por Almir, Paulo Simões e Renato, foi indicada ao prêmio de Melhor Canção em Língua Portuguesa do Grammy.

Renato, quando a música exerce um papel social?

Toda música, de certa forma, cumpre um papel dentro das sociedades da terra. Os povos cantam e a música possui uma escrita universal. Mesmo sem ser um fator determinante, ela está presente nos grandes momentos da humanidade seja para o bem ou para o mal, como nas guerras. O som tem o dom de provocar a sensibilidade humana e, às vezes até dos animais; muito se fala sobre as vacas leiteiras que produzem mais leite ouvindo música clássica.

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O senhor diz algo interessante, quando afirma que ninguém cria nada, afinal, as músicas estão no ar para serem compostas. Desde que começou sua carreira, já tinha essa noção, ou essa percepção foi se tornando cada vez mais enraizada, na medida em que sua carreira foi avançando?

A inspiração tem essa característica de não se mostrar… Tudo que ouvi de outros autores coincidem; quando ela resolve vir, sempre virá junto uma nova canção! Às vezes, ela manda uma representante. Aí não fica tão bom…

Antes de continuarmos falando sobre sua notável carreira musical, gostaríamos de falar um pouco sobre a sua visão publicitária, afinal quando a Ditadura Militar ascendeu, o senhor foi para esse ramo. Como enxerga a publicidade de hoje em comparação com àquele momento?

A publicidade foi e sempre será uma arte extremamente dinâmica, pois, está completamente vinculada ao comportamento das pessoas, se transforma o tempo todo. Ela capta tendências e cria meios de interagir com a sociedade e assim vender os produtos que anuncia. Portanto, é normal que ela esteja sempre se desprendendo de sua própria história, mudando conforme a sociedade evolui. O formato que ela tem hoje não tem mais vínculo algum com o momento em que eu fui publicitário. Sou da geração analógica…, mas a única coisa que não muda é o fato de ser sempre alguém querendo vender alguma coisa para alguém…

Em uma entrevista, o senhor disse que pensa publicitariamente. Como o pensar publicitariamente ajuda em suas composições musicais?

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Não há como não se pensar “publicitariamente” em tempos onde o marketing se transformou numa espécie de pulmão da “mega população universal”, que já passou dos sete bilhões de pessoas. Guimarães Rosa [foi um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos, além de ser o segundo marido de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, conhecida como “Anjo de Hamburgo”. Foi também médico e diplomata, 1908-1967] afirmou sertanejamente que todo homem é mensageiro nesse mundo… Cada um de nós procura dizer alguma coisa nem que seja para si mesmo. Quando digo “pensar publicitariamente” digo, a meu modo, que agora é fundamental saber lidar com os novos sinais do moderno comportamento humano, que está passando por uma profunda revisão…

Qual o peso da situação cultural do país no atual cenário musical brasileiro?

Na história musical do século XX existe uma evidência interessante quando olhamos para o todo; a estética Getulista foi diferente da estética musical do período Juscelinista que deu lugar a uma música mais engajada nos tempos da ditadura. Durante o último período, a música fez o seu papel e se manifestou da maneira que era possível. O peso cultural, portanto, é determinante.

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Seria impossível termos uma música de maior qualidade de conteúdo hoje no mainstream ou isso é muito complexo segundo a sua grande vivência musical?

A questão da qualidade musical é uma discussão muito ampla, difícil de se desenvolver sem antes passarmos por avaliações mais competentes e realistas. Existe sempre uma falsa impressão de que haja uma crise musical em andamento. Esse sentimento vem junto com a opinião pública desde os tempos mais remotos. Tenho por convicção que a melhor música de todos os tempos é a música do presente que é sempre a soma de todas as outras; há sempre uma nova sonoridade sendo inventada pela alma e pela tecnologia…

Quando se compõem canções como “Romaria”, “Tocando em Frente”, “Dadá Maria”, “Frete” e “Amanheceu, Peguei a Viola”, é possível ter a noção que elas se tornarão imortais?

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Não… É impossível se prever. Às vezes a gente desconfia das possibilidades de uma canção; lembro, quando ouvi “Aquele Abraço” do Gil pela primeira vez e a música era ainda inédita, pressenti que seria um grande sucesso…

A música é um processo inacabável em sua visão?

A música uma hora termina. Apenas deixamos de ouvi-la. Quem sabe, ao penetrar na zona do silêncio, as canções continuem numa infinita viagem pelo tempo…

Além dos seus trabalhos, onde podemos encontrar a música verdadeiramente sertaneja hoje, já que afirmou que ela não mudou?

A música sertaneja mudou muito em relação a que era praticada pelos protagonistas anteriores, na forma de se apresentar, mudou de roupa, mudou de casa, mudou os costumes, mudou de instrumentos e principalmente mudou de estratégia… Não existe mais o velho sertão. O que há agora é uma grande urbanidade sertaneja. Quem quiser encontrar todas as músicas sertanejas gravadas desde os tempos do Cornélio Pires [jornalista, escritor, folclorista, empresário e ativista cultural. Foi um importante etnógrafo da cultura caipira e do dialeto caipira 1884-1958], até hoje, é só ir na internet; está tudo lá…

Em 1969, o senhor lançou “Maranhão e Renato Teixeira” e em 2015 “AR” em parceria com Almir Sater (disco que ganhou vários prêmios inclusive). Como era a sua concepção musical nesse disco de 1969 e o que mudou (e se mudou) que gostaria de ressaltar na concepção musical do disco de 2015?

Entre o disco com o Maranhão em 69 e esse com o Almir em 2015, existe uma ponte imensa e generosa que eu construí com muita determinação. Trato a música sem muita frescura, mas com muito carinho e amor… E ela é generosa comigo.

Em suas apresentações, é notório um repertório praticamente perfeito, arranjos excelentes e uma estética musical primorosa. Como é fazer isso por tanto tempo, mantendo essa qualidade que o faz ser um considerado uns dos “monstros” da música brasileira?

Trabalhar com música é uma excitante aventura humana. A gente faz uma canção e a apresenta para avaliação da opinião pública. Se agradarmos teremos sucesso e viveremos bem; caso contrário haverá uma frustração dolorida… Um risco que se corre. No meu caso o destino foi extremamente generoso, pois, a maioria das pessoas aprovou meu trabalho e hoje posso me sentir realizado; posso viver como um bom cidadão, um cara que traz boas sensações quando canta…

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Última atualização da matéria foi há 2 anos


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