Sarkis Semerdjian desponta na arquitetura
Sarkis Semerdjian graduou-se pela FAU do Mackenzie em 2004 e, antes de se associar ao experiente arquiteto Domingos Pascali, também fez parte da equipe de importantes nomes da arquitetura brasileira. Para Semerdjian, o que define o caminho que um bom arquiteto vai seguir é sua própria vontade de buscar novos temas, livros e referências. Ele acha que o estudante de arquitetura deve olhar para todos os lados e ir além da arquitetura, não obstante, transitar por escritórios de diversas áreas durante a faculdade. Uma mostra da visão do requisitado profissional, pode ser vista no escritório Pascali Semerdjian Arquitetos, que contém inúmeros projetos nas mais diversas categorias como arquitetura, design, cenografia e outros. “No início do nosso escritório, eu não entendia como que alguém com a experiência dele [Pascali], se associaria a um profissional tão novo e inexperiente como eu. Digo isso pra ele até hoje: “Eu tive sorte”. Aprendi tudo que sei com ele ao longo desses anos visitando obras e sentando na frente dele, na prancheta, só assistindo. Eu nem sequer me atrevia a dar qualquer tipo de palpite nos projetos no início do escritório. Hoje eu digo que devo tudo que sei a ele. Abracei a oportunidade de ter um sócio como o Domingos lá atrás e nunca descuidei. (…) Nós sempre queremos não nos repetir e pra isso nós sempre nos “policiamos” para não irmos por um caminho conhecido”, afirma o jovem arquiteto.
Sarkis, o que foi o seu propulsor para o enveredar pelos caminhos da arquitetura?
Acho que não houve um único propulsor que me levou ao caminho da arquitetura. Me recordo que desde criança, sempre gostei muito de desenhar e de imaginar castelos, fortes, robôs e personagens peculiares. Quem via sempre comentava: “Esse garoto vai ser arquiteto”. Mas acho que toda criança gosta de desenhar esses temas… então não acho que isso tenha sido decisivo. Quando chegou a hora de prestar vestibular fiquei muito perdido e estava pensando em cursar desde medicina até história. Meio no susto, resolvi ir pra arquitetura, mas mesmo ao longo dos 5 anos de faculdade, sempre tive um pouco de dúvida se estava no caminho certo. Meu relacionamento com a arquitetura nunca começou como uma paixão adolescente desenfreada. Foi um amor que cresceu aos poucos de forma sólida e racional. Sempre tive um sentimento de querer materializar coisas ou espaços que eu imaginava: se eu assistia ao filme do Batman, eu tentava fazer uma roupa do Batman. Se eu assistia a um filme de ficção, eu desenhava ou fazia uma maquetinha com o que havia disponível daqueles cenários. Acho que esse desejo de materialização que sempre esteve comigo, pode ter sido importante.
Goethe dizia que a arquitetura é a música petrificada. Como você definiria a arquitetura?
Depois de uma definição tão boa, fica difícil dar a minha! Nunca pensei em definir a arquitetura de uma forma tão objetiva, embora eu me recordo que durante a faculdade, alguns colegas de 21 anos já tentavam formar suas próprias definições: “Arquitetura é a arte de projetar espaços” ou coisas do gênero. Acho que não tenho uma definição, mas tenho um objetivo: fazer das pessoas que vivem ou interagem com a nossa arquitetura, um pouquinho mais felizes.
Quando você realiza um novo projeto, alguma ideia de um projeto anterior pode “entrar” mesmo que seja de uma forma mínima neste projeto atual, ou toda concepção deve ser inédita?
Nós sempre queremos não nos repetir e pra isso nós sempre nos “policiamos” para não irmos por um caminho conhecido, confortável para nosso cérebro, que é muito mais atrativo em um primeiro momento do que o caminho novo. Todas as pessoas formam uma “cultura de imagem” ao longo da vida e de uma forma ou de outra, nós sempre buscamos uma referência desse banco no momento da criação. O segredo é como vamos transformar essa informação existente em uma nova. E não podemos nos esquecer de que no caso da arquitetura, existe um fator que é o mais importante: o cliente. Como todas as pessoas são diferentes, não faz sentido projetarmos algo igual ou semelhante para todos.
Você ainda se lembra do seu primeiro projeto?
Eu me lembro do meu primeiro projeto da faculdade, mas não da vida profissional. Eu tinha muito pouco envolvimento com a faculdade e nunca tive certeza do meu caminho até que comecei a trabalhar em um escritório que eu admirava o trabalho. O resultado disso sempre foram projetos mal resolvidos e que refletiam o meu desinteresse. Me lembro que o professor de Projeto I pediu para que todos os alunos colocassem suas maquetes em uma mesa central na sala de aula para que algumas fossem comentadas. A minha logo foi escolhida para ser comentada, já que chamou a atenção como provavelmente um dos piores trabalhos da sala: uma maquete feita em argila, que comecei a fazer algumas horas antes da apresentação e que por estar ainda úmida, se decompunha na frente de todos! Esse foi meu primeiro projeto.
Existe alguma similaridade desse primeiro projeto com algo que fez a posteriori?
Definitivamente não! [Risos].
Alguns arquitetos dizem que suas obras devem passar emoção. E você, o que tenta passar em seus projetos?
Nossos projetos são espaços onde as pessoas vão passar boa parte da vida delas. Pensando assim, a primeira coisa que queremos levar é o conforto e o bem-estar para eles. Acho que isso é o mais importante e que todo mundo repete, mas nem sempre acontece. A partir desse princípio básico, tentamos trazer surpresas e conceitos novos através desse princípio básico do bem-estar de quem vai viver naquele espaço.
Sabemos que você foi influenciado pelos seriados japoneses e pelo heavy metal. Essas influências, moldaram o seu trabalho em que pontos?
Sim, sempre gostei e gosto de heavy metal, seriados japoneses, folclore, mitologia, arqueologia, etc., porém, eles nunca influenciaram diretamente no resultado do meu trabalho. Por exemplo, o fato de gostar de heavy metal me fez prestar atenção em artes conceituais dos álbuns das bandas e de querer desenhar tão bem quanto aqueles caras. Passei a praticar mais o desenho que hoje me ajuda a expressar meus pensamentos e ideias de forma eficiente. Mas acho também que o fato de eu nunca ter buscado referências comuns e populares, me trouxe alguma peculiaridade conceitual na vida adulta.
A arquitetura brasileira atual (da qual faz parte) tem enriquecido a experiência humana em que sentidos?
As pessoas ultimamente passaram a se importar com a forma de como vão morar. Não me lembro de no passado meus pais ou os amigos deles se preocuparem com isso da mesma forma que meus amigos hoje se preocupam, ou pelo menos se atentam. Sei que isso tem uma influência direta com a economia do país hoje. Mas acho que a vida das pessoas vêm se sofisticando de diferentes formas e para nós arquitetos, isso é bom, pois, nos permite ter trabalhos cada vez mais relevantes e onde podemos experimentar mais. Isso é bom não só para os arquitetos e clientes, como também para os fornecedores e mão de obra que vão saindo também do lugar-comum. Parafraseando meu sócio Domingos: “Você não faz ideia de como era difícil ser arquiteto nos anos 80!” [Risos].
Você teve uma sólida formação acadêmica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Quais os pilares fundamentais nessa formação, para o arquiteto que veio a se tornar?
A Faculdade, na verdade, teve pouca influência sobre minha formação. Lá aprendi o básico de uma forma pouco estimulante. Pensei em desistir da faculdade por muitas vezes ao longo dos cinco anos de curso. O que mudou minha vida, foram os anos que passei trabalhando com o arquiteto Isay Weinfeld, que foi onde conheci o meu sócio Domingos Pascali, então braço direito do Isay. Lá eu comecei cortando papel para ambos e aos poucos fui tendo um pouco mais de responsabilidades. Mas o que aprendi lá que foi fundamental, foi que não precisamos viver respirando arquitetura para termos boas referências. Podemos ser livres nesse sentido e aplicar conceitos que não são necessariamente oriundos de “tijolo e massa”, mas que podem se transformar em “tijolo e massa” se assim quisermos. O mundo é grande e tem muita gente bacana fazendo coisas legais além do nosso mundo profissional. Acho que isso vale para todas as carreiras.
Em que projeto trabalha neste momento?
Sempre estamos trabalhando em diferentes projetos ao mesmo tempo, mas vou citar uma casa em Copenhague na Dinamarca, uma biblioteca particular em São Paulo que é um projeto muito especial, muitos protótipos de peças de design e um apartamento nos Jardins em São Paulo, que provavelmente é um dos nossos melhores trabalhos até então. Estamos também nos envolvendo com alguns projetos humanitários voltados a um universo bem diferente do que vivemos.
Qual a importância de Domingos Pascali na sua carreira?
No início do nosso escritório, eu não entendia como que alguém com a experiência dele [Pascali], se associaria a um profissional tão novo e inexperiente como eu. Digo isso pra ele até hoje: “Eu tive sorte”. Aprendi tudo que sei com ele ao longo desses anos visitando obras e sentando na frente dele, na prancheta, só assistindo. Eu nem sequer me atrevia a dar qualquer tipo de palpite nos projetos no início do escritório. Hoje eu digo que devo tudo que sei a ele. Abracei a oportunidade de ter um sócio como o Domingos lá atrás e nunca descuidei. Corri atrás de todos os meus pontos fracos e sempre tentei melhorar. E acho que a troca foi boa, pois, hoje fazemos absolutamente tudo juntos, desde a arquitetura até o design.
Última atualização da matéria foi há 2 anos
Eder Fonseca é o publisher do Panorama Mercantil. Além de seu conteúdo original, o Panorama Mercantil oferece uma variedade de seções e recursos adicionais para enriquecer a experiência de seus leitores. Desde análises aprofundadas até cobertura de eventos e notícias agregadas de outros veículos em tempo real, o portal continua a fornecer uma visão abrangente e informada do mundo ao redor. Convidamos você a se juntar a nós nesta emocionante jornada informativa.
Facebook Comments