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A visão de Beila Schapiro da ONG Friendship Circle

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Beila Schapiro é presidente do Friendship Circle. O Friendship Circle é uma ONG de inclusão e transformação social que oferece às crianças e adolescentes com deficiência e suas famílias, a oportunidade de um convívio social sem preconceito. Visa e trabalha pela transformação social, buscando uma sociedade mais humana, justa e acolhedora, onde todos possam participar ativamente. Também trabalha por um mundo onde pessoas com deficiência e seus familiares possam conviver socialmente sem preconceito. Seus voluntários, comprometidos com esse mesmo fim, viabilizam este objetivo por meio de um trabalho baseado no respeito, amizade e responsabilidade com o outro. “Por meio da promoção da convivência entre pessoas com deficiência e jovens voluntários, o Friendship Circle trabalha pela transformação da sociedade. Numa ponta, aos Jovens Voluntários, desenvolvemos as habilidades socioemocionais tão imprescindíveis, e ainda assim impossíveis de serem criadas e aprimoradas em ambiente escolar estruturado e/ou com mediação. Anteriormente à sua entrada na ONG realizamos uma capacitação obrigatória a todos, por nossa equipe técnica composta por profissionais da área da saúde, como psicólogas e fonoaudiólogas experientes no universo da inclusão. Fazemos, ainda, um acompanhamento ativo e recorrente para que os Jovens Voluntários possam atingir sua capacidade máxima em suas habilidades”, afirma.

Beila, como se forma uma sociedade mais humana em sua visão?

Quando me perguntam sobre um mundo “mais humano” sempre remeto às habilidades socioemocionais e interpessoais (as famosas “soft skills”). E, para desenvolvermos estas aptidões, respondo que a inclusão da diversidade é o melhor caminho.

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No caso da inclusão de pessoas com deficiência temos dados fortes de que quem convive com elas se transforma radicalmente no âmbito socioemocional e interpessoal desenvolvendo empatia, respeito, solidariedade e resiliência. É algo tão potente, que ousamos dizer que o “mais humano” seja o único caminho para um futuro socioeconômico próspero e desenvolvido.

Assim é que o Friendship Circle trabalha: pela transformação da sociedade, por meio da promoção da convivência entre pessoas com deficiência e jovens voluntários.

O que um momento caótico como atual vem nos ensinar para caminharmos nessa direção?

Acredito que as pessoas tenham vivenciado nestes últimos meses diversas experiências que as deixaram mais resilientes e empáticas. A solidariedade está estampada nos jornais, conforme dados apurados sobre o incremento do assistencialismo.

A mais óbvia das habilidades que levantamos, a resiliência, pelas tamanhas dificuldades que todos encaramos neste período, já auxilia muitíssimo na criação de uma sociedade mais aberta às diferenças. Quanto à empatia, deparamo-nos pensando em ficar em casa não apenas por nós mesmos, mas pelos outros. Concedemos férias para que pessoas evitem o caótico transporte público. Ajudamos em campanhas de vacinação daqueles de mais risco. E assim por diante.

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Afora resiliência, empatia e solidariedade, destaco a habilidade que acredito seja muito importante não apenas para o desenvolvimento de uma sociedade, mas também, para aumentarmos a empatia para com diversas pessoas com deficiência intelectual, autismo ou outras que possam apresentar o comportamento rígido como comorbidade: a adaptabilidade. Para os neurotípicos, adaptar-se às situações novas e/ou diferentes é desafiador, porém, engrandece. Entendemos que neuroatípicos com rigidez comportamental e aversão às mudanças, finalmente, ganharam alguns simpatizantes.

De qualquer forma, temos um longo caminho a percorrer. Ainda que após o desencadeamento da pandemia, instituições de ensino continuam a recusar matrículas de pessoas com deficiência. Ademais, estas não foram contempladas nos planos de retomada presencial escolar; e tampouco como grupo prioritário de vacinação juntamente com as comorbidades.

Como o Friendship se encontra nesse ecossistema de tornar a nossa sociedade mais humana?

Por meio da promoção da convivência entre pessoas com deficiência e jovens voluntários, o Friendship Circle trabalha pela transformação da sociedade. Numa ponta, aos Jovens Voluntários, desenvolvemos as habilidades socioemocionais tão imprescindíveis, e ainda assim impossíveis de serem criadas e aprimoradas em ambiente escolar estruturado e/ou com mediação. Anteriormente à sua entrada na ONG realizamos uma capacitação obrigatória a todos, por nossa equipe técnica composta por profissionais da área da saúde, como psicólogas e fonoaudiólogas experientes no universo da inclusão. Fazemos, ainda, um acompanhamento ativo e recorrente para que os Jovens Voluntários possam atingir sua capacidade máxima em suas habilidades.

Na outra ponta, nossos participantes com deficiência desenvolvem diversas habilidades um tantas desafiadoras a quem tem autismo ou deficiência intelectual (nosso maior público), tais como as sociais, de interação, de comunicação, do brincar, do compartilhar. Além disto, contam com a melhor modelagem que poderiam ter: jovens espontaneamente dispostos a compartilharem diversão e entrosamento na construção desta relação tão frutífera a ambos os lados. Trabalhamos todo o círculo da inclusão envolvendo famílias das duas pontas, e enfatizando a importância (e imprescindibilidade) de suas participações ativas no desenvolvimento dos participantes.

O que move a ONG?

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Temos plena convicção de estarmos no caminho certo com base nos feedbacks que levantamos constantemente dos participantes da ONG, jovens voluntários e assistidos, por nossa equipe técnica. São mudanças positivas de comportamentos que nos fazem acreditar numa sociedade empática e inclusiva; e são relatos de bruscas transformações, não apenas por parte dos participantes diretos, como de seus entornos, que nos mantém na esperança de um futuro próspero. Nossa engrenagem gira de acordo com o envolvimento espontâneo de todos, e suas respectivas melhorias.

Qual a importância da missão do Friendship?

De acordo com uma pesquisa do World Economic Forum, que contempla as maiores empresas do mundo, por faixas de faturamento, e outros critérios, temos que elas exigirão, num futuro próximo, de seus candidatos e empregados, habilidades interpessoais e inteligência emocional– além da elasticidade mental para resolução de problemas, pensamento crítico, criatividade e gestão de pessoas, dentre outras. Nossa missão de desenvolver uma sociedade mais empática e inclusiva certamente engloba tais aptidões, assim é tão importante para o hoje quanto para o amanhã. Vale frisar que as faculdades internacionais que se encontram no topo dos rankings de avaliação, exigem tais habilidades de seus estudantes logo na entrada, como requisito de ingresso. Temos orgulho em dizer que diversos de nossos Jovens Voluntários são aceitos no ensino superior das melhores faculdades, e acreditamos muito se deva ao trabalho no Friendship.

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Um dos motes da ONG é criar oportunidades educacionais e sociais. Fale um pouco mais sobre esse ponto.

Trabalhamos no contraturno escolar justamente por entendermos que habilidades socioemocionais são imprescindíveis para um futuro próspero, e que em ambiente estruturado e/ou mediado não são desenvolvidas como no ambiente livre.

Ainda que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) liste diversas habilidades interpessoais como objetivo de ensino para diversas idades é importante frisar que para a grande maioria das escolas é desafiador executar com propriedade tais aptidões, assim é que nos confrontamos diariamente com comportamentos inadequados, disruptivos, negativos e/ou destrutivos.

Temos um longo caminho para que escolas adotem a diversidade como prioridade: há aquelas (muitas) que ainda recusam matrículas de pessoas com deficiência; aquelas que simplesmente as aceitam e não trabalham sua inclusão; e por fim aquelas que aceitam e trabalham apenas sua inclusão pedagógica, deixando de lado a tão relevante, para todos, inclusão social. É um trabalho constante, e acreditamos que talvez vá vir debaixo para cima: pais de alunos “típicos” exigindo diversidade em sala de aula; alunos ensinando uns aos outros quanto ao respeito; e a inclusão vingando como a mais preciosa ferramenta da educação.

O que ainda impede a nossa sociedade de se tornar mais inclusiva?

Encontramos barreiras de diversas naturezas, e trabalhamos para construir um futuro mais promissor. A principal barreira acredito seja a educação em casa. É um tanto desafiador convencer “pais típicos” de que habilidades naturais de seus filhos não merecem tanta exaltação quanto àquelas habilidades interpessoais, para com o outro. Principalmente, é um tanto profundo confrontar pais que acreditam estejam no caminho certo, enquanto na realidade não está.

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Outra barreira que encontramos, de fato, são as instituições de ensino. Infelizmente ainda temos muitas recusas de matrículas de crianças com deficiência por todos os cantos do Brasil. As justificativas variam, e a principal é de que a escola não saberia adaptar seus processos para atender às necessidades específicas da criança.

Quais os pilares para uma formação mais inclusiva da nossa sociedade?

Uma educação social inclusiva requer abertura ao diálogo e, principalmente, às mudanças. Primeiramente, mudar o jeito de enxergar seus próprios filhos é um começo importante. De nada adianta que tenham habilidades acadêmicas sem estarem azeitados do ponto de vista socioemocional. De nada adiantam notas altas, se o indivíduo não consegue compartilhar seu sucesso ou ensinar suas aptidões. E de nada adianta ser bom no esporte se não pensar primeiramente no coletivo.

A mudança também deve atingir corpos diretivos de escolas. A inclusão social, se considerada como primordial ao desenvolvimento de todos os colegas, será a melhor porta de entrada para a mais profunda transformação da educação.

Como as pessoas podem apoiar os programas do Friendship Circle?

Temos a campanha permanente do “Abrace uma Amizade” em que discriminamos e divulgamos todas as atividades que são financiadas com os valores doados. Também contamos com parceiros que nos auxiliam na realização de eventos de arrecadação em prol da ONG, como peças de teatro, stand-up, entre outros. E, constantemente, lançamos em nossas redes sociais campanhas que tenham algum percentual da renda revertida para o Friendship Circle.

O que é necessário para se tornar um voluntárIo da ONG?

Qualquer adolescente que tenha entre 13 e 22 anos poderá se tornar um de nossos Jovens Voluntários. Basta entrar em contato, preencher um cadastro que contém suas disponibilidades, fazer a capacitação com nossa equipe técnica e aguardar o “match”. Para entrar em contato pode ser em qualquer um de nossos canais: Instagram e Site.

Qual a projeção da Friendship Circle para o ano de 2021?

Temos objetivo de crescer o número de participantes em 20%; ampliar e aprofundar nossa atuação em comunidades de vulnerabilidade socioeconômica; sem esquecer do nosso sonho: a construção do nosso Centro de Desenvolvimento de Habilidades, que se destinará, em breve suma, à expansão de beneficiários, à oferta de infraestrutura apropriada para as interações, ao aumento da abrangência territorial, e ampliação dos serviços ofertados pela ONG.

Última atualização da matéria foi há 2 anos


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