Carlos Lehder: unindo Beatles, Hitler e drogas
As intricadas histórias dos líderes do tráfico de drogas colombianos frequentemente parecem mais roteiros de filmes do que relatos da realidade. Entre essas figuras enigmáticas, destaca-se Carlos Lehder, uma personalidade complexa que desafiava as convenções e misturava elementos aparentemente incompatíveis em sua vida.
Lehder, oriundo do Quindío e com raízes alemãs, deixou sua marca na história do tráfico de drogas na Colômbia com suas excentricidades, amores pela música e uma trajetória que envolvia ícones como John Lennon, Adolf Hitler e, surpreendentemente, o restante dos Beatles.
Carlos Lehder se destacava não apenas por sua habilidade no mundo do narcotráfico, mas também por suas preferências ecléticas. Admirador de John Lennon, Adolf Hitler e Che Guevara, Lehder não se encaixava no estereótipo convencional dos líderes do cartel de Medellín. Sua personalidade, marcada por mudanças abruptas de humor e contradições, contrastava com a imagem imperturbável que muitos associam aos chefes do tráfico.
Uma das notáveis peculiaridades de Lehder era seu gosto pela música, em particular, pelo rock. Enquanto seus colegas preferiam rancheras e baladas românticas, ele nutria uma paixão pelos acordes vibrantes e rebeldes do rock. Tamanha era sua devoção que em sua propriedade privada em Quindío, a Posada Alemana, Lehder mandou erguer uma estátua de John Lennon, um ícone dos Beatles. Contudo, essa escultura foi roubada em 2003, e seu paradeiro permanece um mistério.
Foi em meio a essa fascinação pela música que Carlos Lehder teve um encontro memorável com o guitarrista dos Rolling Stones, Ronnie Wood, no final de 1979, em Paris. Naquela época, Wood estava namorando Josephine Karslake, e ambos buscavam escapar do frio europeu em busca de dias ensolarados na praia. Ao revelar seus planos a Lehder, o chefe do cartel os convidou para sua propriedade em Norman Cay, nas Bahamas.
Ronnie Wood descreveu em sua autobiografia o encontro com Lehder, referindo-se a ele como “Victor”. Segundo Wood, a personalidade dominante de Lehder transformou o convite em uma ordem, e o casal não teve outra opção senão acompanhá-lo.
A situação se tornou ainda mais surreal quando Lehder, como forma de encobrir a transferência forçada, apareceu abraçado a Ringo Starr, o icônico baterista dos Beatles, anunciando que também se juntaria à viagem.
A jornada para Norman Cay não foi convencional, marcada pela falta de sono e pelas incoerências de “Victor”, que estava sob a influência de uma mistura de maconha e heroína. Ringo Starr, irritado com a situação, chegou horas depois, descontente com a reviravolta dos acontecimentos.
O episódio peculiar durou até meados de janeiro de 1980, quando a pressão da DEA obrigou Lehder a focar mais nas operações do cartel, resultando na libertação dos músicos.
Apesar dos planos não realizados de convidar Wood e Starr para sua mansão na Colômbia, Lehder viu seu império entrar em declínio nos anos seguintes. Expulso de Norman Cay em 1982 devido à pressão internacional, Lehder acabou sendo preso em 1987 e extraditado para os Estados Unidos, onde cumpriu uma sentença de 33 anos. Sua liberdade só foi concedida em 2020, e atualmente ele reside em Berlim, Alemanha.
Curiosamente, após o inusitado encontro nas Bahamas, Ringo Starr e Ronnie Wood visitaram a Colômbia em momentos distintos. Ringo apresentou-se com sua All Starr Band em 2015, enquanto Wood, junto aos Rolling Stones, encantou o público colombiano no ano seguinte. Essas visitas destacam a conexão única entre o mundo do tráfico de drogas, a música e as figuras icônicas dos Beatles e Rolling Stones, proporcionando uma narrativa singular na história de Carlos Lehder.
Última atualização da matéria foi há 4 meses
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Anacleto Colombo assina a seção Não Perca!, onde mergulha sem colete na crônica sombria da criminalidade, da violência urbana, das máfias e dos grandes casos que marcaram a história policial. Com faro apurado, narrativa envolvente e uma queda por detalhes perturbadores, ele revela o lado oculto de um mundo que muitos preferem ignorar. Seus textos combinam rigor investigativo com uma dose de inquietação moral, sempre instigando o leitor a olhar para o abismo — e reconhecer nele parte da nossa sociedade. Em um portal dedicado à informação com profundidade, Anacleto é o repórter que desce até o subsolo. E volta com a história completa.
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